sexta-feira, 23 de maio de 2014


SÃO DIMAS E OS CORRUPTOS

JUACY DA SILVA

De acordo com relatos dos Evangelhos, principalmente Lucas, Jesus foi crucificado entre dois ladrões,que haviam sido condenados à morte na cruz pelos diversos crimes que haviam cometidos, incluindo assassinatos, roubos e outras formas de violência.
Um dos ladrões, não sabemos se estava à esquerda ou à direita de Cristo, blasfemava e desafiava o Salvador dizendo-lhe que se realmente fosse filho de Deus deveria descer da cruz e salvar a si e aos dois bandidos. O outro ladrão não titubeou em admoestar o seu ‘colega’ de infortúnio e ainda pediu que Jesus o perdoasse, reconhecendo ser Ele o Filho do Altíssimo. Jesus não apenas perdoou seus pecados/crimes, como afirmou que naquele mesmo dia estaria ao seu lado no paraíso.
Este é considerado o ‘bom ladrão’, que antes de morrer reconheceu seus erros e atrocidades e foi perdoado. Seu nome não é mencionado nos Evangelhos, mas por volta do século quatro, segundo livros apócrifos, na tradição da Igreja Católica Romana, passou a ser conhecido como Dimas.
Mesmo que não tenha sido canonizado oficialmente pela Igreja, passou a ser reconhecido como São Dimas, o protetor das pessoas em apuros, das famílias ameaçadas por malfeitores, criminosos, incluindo ladrões e assemelhados.
Talvez pelo fato de o Brasil ser um país maioritariamente cristão, a nossa legislação de combate ‘a criminalidade, principalmente a de colarinho branco é bastante branda, além da presença da impunidade. Em alguns países o crime de corrupção, principalmente quando praticado por servidores, gestores públicos e políticos pode chegar a pena de mais de 40 anos em regime fechado ou até mesmo a prisão perpétua e pena de morte. Aqui, corruptos acabam sempre se esquivando das prisões e alguns até acabam permanecendo nas estruturas do poder.
Para facilitar as investigações foi criado o instituto da “delação premiada”, onde e quando os criminosos podem, a critério da autoridade judicial e do Ministério Público, fazer uma espécie de barganha, na forma de colaboração com essas autoridades delatando parceiros do crime ou outras informações que facilitem chegar a outros delinquentes ou o desbaratamento de organizações criminosas, incluindo as que atuam nas estruturas públicas ou que agem sob manto protetor do poder.
A delação premiada é criticada por vários juristas por acabar facilitando a vida dos criminosos, muitos dos quais, depois de terem suas penas reduzidas de até 2/3 ou mesmo extintas, além de outras regalias como regime semiaberto ou perdão judicial, acabam novamente voltando a delinquir, principalmente quando se trata de criminosos de colarinho branco.
Em operações conduzidas pela Polícia Federal, sob aplausos da população, incluindo a Lava-Jato, que desbaratou um esquema de lavagem de dinheiro de mais de dez bilhões de reais e a Ararath, que nesta semana prendeu e ou intimou autoridades em Mato Grosso a prestarem depoimento na Polícia Federal em Cuiabá, onde a movimentação financeira suspeita pode ser superior a 500 milhões de reais, delação premiada está presente. Talvez os envolvidos que se beneficiam ou venham a se beneficiar deste instrumento possam ter suas penas reduzidas, desde que abram a caixa-preta desses esquemas, possibilitando a Polícia Federal chegar a outros criminosos, ao Ministério Público Federal apresentar as denúncias e ao Supremo Tribunal Federal julgar e condenar mais alguns corruptos
Enquanto isto não acontece, resta ao povo rogar a São Dimas, o bom ladrão, para que atue nos corações e consciências dos corruptos para que parem de roubar o dinheiro público, devolvam o que roubaram e, assim, deixem de crucificar a população.
Afinal o dinheiro surrupiado dos cofres públicos acaba fazendo falta para a saúde, a segurança pública, a educação, a infraestrutura e tantos outros setores da vida nacional.

Juacy da Silva, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia e articulista de A Gazeta. Email: professor.juacy@yahoo.com.br. Blog: www.professorjuacy.blogspot.com.Twitter@profjuacy

 

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