quarta-feira, 14 de janeiro de 2015


FANATISMO E TERRORISMO RELIGIOSO

JUACY  DA SILVA

A relação entre religião e violência vem  desde  tempos imemoriais e tem acarretado milhões  de vítimas ao redor do mundo.  As maiores religiões, em  termos de número de fiéis  ou adeptos, cada uma com mais de um bilhão  de seguidores são o cristianismo, o budismo, o hinduismo , o  shintoismo e o islamismo.

Faz parte  da dinâmica e  da organização de todas as religiões  considerarem-se ,cada  uma de per si, como a única, a verdadeira e, para tanto, tem no proselitismo  e  nas conversões `as suas doutrinas  e seus dogmas como princípios fundamentais e imutáveis, ou seja, verdades absolutas.

O campo de batalha entre  essas  religiões  pode  ser  representado  tanto pela mente das pessoas que devem ser “convertidas”  quanto na conquista do poder político, econômico e militar, a partir de onde uma verdadeira Guerra passa a ser travada, usando inclusive  de todas as formas de violência, física, simbólica  e psicológica.

Costuma-se dizer  que as piores ditaduras são as teocracias, onde  as Leis religiosas  e os livros sagrados com suas  normas e códigos  estão acima da Lei temporal. Nesses países  não existe separação  entre Estado e Religião e, geralmente, apenas uma religião, , a dominante e oficial, pode existir, as demais  religiões passam a ser proibidas e perseguidas, tanto pelo Estado  quanto pela hierarquia religiosa que manda no país.

O fanatismo e o fundamentalismo são as características dominantes  nessas sociedades, ninguém  está a salvo das penalidades constantes das leis religiosas, que podem incluir mutilações, apedrejamentos, acoites  e  até  a  morte, por enforcamento, decapitação ou na  atualidade por  fuzilamento. Quem não professa a religião oficial é considerado herege, infiel e, em consequência, inimigo do Estado e da religião  e deve ser tratado como tal, dentro dos rigores  das leis religiosas.

Em  pleno século XXI  quando imaginávamos que a humanidade  estivesse mais evoluida em termos de direitos e garantias individuais, consagados  a partir da  revolução  francesa, com  a queda da Bastilha, ocorrida em 14 de julho de 1.789 e a aprovação  da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 26  de Agosto do mesmo ano pela Assembléia Nacional Constituinte  da França Revolucionária, onde foram abolidas  a monarquia, a aristocracia e a Igreja ,estabelecendo um Estado Laico, o mundo acaba de assistir mais um ato terrorista praticado  por integrantes  da AlQaeda , a partir do Yemen.

O fundamentalismo e fanatismo de grupos radicais islâmicos  como a Al Qaeda, o Estado   Islâmico, o Boko Haran, os Jihadistas e outros mais, imaginam que tem o direito de levar  o terror a todas as partes do mundo, sempre e onde os princípios de sua religião e a figura do Profeta Maomé forem  atacados, desrespeitando o ordenamento jurídico de cada país.

Em  nome  de uma fé cega e totalitária o Estado Islâmico , que pretende  estabelcer um califado em parte dos territórios da Síria e do Iraque, não titubeia  em decapitar e fuzilar infieis e prisioneiros. Da mesma forma que o Boko Haran imagina que esteja  defendendo o islã ao sequestrar meninas e adolescentes  indefesas na Nigéria e transformá-las  em agentes do terror, como aconteceu  um  dia depois do ataque ao jornal  chargista Charlie Hebdo, quando  uma menina de dez anos explodiu uma bomba atada ao corpo em uma cidade da Nigéria matando mais de 20  pessoas e ferindo  mais de uma centena de vítimas inocentes.

Em  relação ao ato  terrorista que matou quase toda a equipe do Charlie Hebdo, em Parias, o resultado, em termos de opinião pública, tanto na França quanto em outros países europeus e em vários outros continentes  foi o despertar  da  solidariedade e da defesa da Liberdade de expressão como um dos  direitos consagrados na França há 215 anos, contados a partir  da Revolução Francesa e também consagrados em praticamente todos os demais países, inclusive no Brasil.

Como resposta imediata e de alto  simbolismo podemos destacar a grande marcha em Paris, com participação de mais três  milhões de pessoas, com  participação  de líderes  de vários países, icnclusive líderes mulcumanos,  além  de uma condenação formal por parte  da quase totalidade dos países  árabes  e onde o Islamismo é a religião dominante.

Mesmo que o número de vítimas /mortes decorrentes  dessas ações  terrorista e atos abomináveis sejam quase insignificantes quando comparados com o número de assassinatos que ocorrem no mundo todo, que em 2012  atingiram a cifra de 437 mil, dos quais  só no Brasil foram mais de 55 mil e mais de um milhão  nos últimos 20 anos, o pavor  que  o  terrorismo infunde na população passa a alimentar  uma verdadeira Guerra psicológica, que é, na verdade, a grande estratégia  desses grupos fanáticos e fundamentalistas, disseminar  o medo generalizado.

A grande  esperança  é que esse medo seja vencido por ações mais efetivas por parte da comunidade internacional  através de um combate mais efetivo para impedir que esses grupos tenham acesso a armas, insumos , territórios, campos de treinamento e, dentro de todos os países, impedir  o recrutramento e lavagem cerebral de futuros terroristas, geralmente  jovens que são seduzidos idéiaspor idéias religiosas distorcidase totalitárias  que levam o ódio a todas  as pessoas que não professam  da mesma fé, um verdadeiro atentado contra  a Liberdade de pensamento e de crença, minando a democracia.

O fanatismo e terrorismo religioso são  tão abomináveis  quanto todas as demais formas de violência que negam o direito de poder haver opiniões e crenças diferentes emu ma sociedade, todas com o mesmo  direito de livre expressão do pensamento. Sem isto, o mundo vai continuar na barbárie que hoje estamos assistindo! Usar  a religião para praticar  terrorismo em nada dignifica tais  crenças.

JUACY DA SILVA, professor  universitário,  titular e aposentado,UFMT, mestre  em sociologia, articulista de A Gazeta.  Email  professor.juacy@yahoo.com.br  Blog  www.professorjuacy.blogspot.com  Twitter@pofjuacy

 

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