FANATISMO E TERRORISMO RELIGIOSO
JUACY DA SILVA
A relação entre
religião e violência vem desde tempos imemoriais e tem acarretado
milhões de vítimas ao redor do mundo. As maiores religiões, em termos de número de fiéis ou adeptos, cada uma com mais de um
bilhão de seguidores são o cristianismo,
o budismo, o hinduismo , o shintoismo e
o islamismo.
Faz parte da dinâmica e
da organização de todas as religiões
considerarem-se ,cada uma de per
si, como a única, a verdadeira e, para tanto, tem no proselitismo e nas
conversões `as suas doutrinas e seus
dogmas como princípios fundamentais e imutáveis, ou seja, verdades absolutas.
O campo de batalha
entre essas religiões
pode ser representado
tanto pela mente das pessoas que devem ser “convertidas” quanto na conquista do poder político,
econômico e militar, a partir de onde uma verdadeira Guerra passa a ser
travada, usando inclusive de todas as
formas de violência, física, simbólica e
psicológica.
Costuma-se dizer que as piores ditaduras são as teocracias,
onde as Leis religiosas e os livros sagrados com suas normas e códigos estão acima da Lei temporal. Nesses
países não existe separação entre Estado e Religião e, geralmente, apenas
uma religião, , a dominante e oficial, pode existir, as demais religiões passam a ser proibidas e
perseguidas, tanto pelo Estado quanto
pela hierarquia religiosa que manda no país.
O fanatismo e o
fundamentalismo são as características dominantes nessas sociedades, ninguém está a salvo das penalidades constantes das
leis religiosas, que podem incluir mutilações, apedrejamentos, acoites e
até a morte, por enforcamento, decapitação ou
na atualidade por fuzilamento. Quem não professa a religião
oficial é considerado herege, infiel e, em consequência, inimigo do Estado e da
religião e deve ser tratado como tal,
dentro dos rigores das leis religiosas.
Em pleno século XXI quando imaginávamos que a humanidade estivesse mais evoluida em termos de direitos
e garantias individuais, consagados a
partir da revolução francesa, com
a queda da Bastilha, ocorrida em 14 de julho de 1.789 e a aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, em 26 de Agosto do mesmo ano
pela Assembléia Nacional Constituinte da
França Revolucionária, onde foram abolidas
a monarquia, a aristocracia e a Igreja ,estabelecendo um Estado Laico, o
mundo acaba de assistir mais um ato terrorista praticado por integrantes da AlQaeda , a partir do Yemen.
O fundamentalismo e
fanatismo de grupos radicais islâmicos
como a Al Qaeda, o Estado
Islâmico, o Boko Haran, os Jihadistas e outros mais, imaginam que tem o
direito de levar o terror a todas as
partes do mundo, sempre e onde os princípios de sua religião e a figura do
Profeta Maomé forem atacados,
desrespeitando o ordenamento jurídico de cada país.
Em nome
de uma fé cega e totalitária o Estado Islâmico , que pretende estabelcer um califado em parte dos
territórios da Síria e do Iraque, não titubeia
em decapitar e fuzilar infieis e prisioneiros. Da mesma forma que o Boko
Haran imagina que esteja defendendo o
islã ao sequestrar meninas e adolescentes
indefesas na Nigéria e transformá-las
em agentes do terror, como aconteceu
um dia depois do ataque ao
jornal chargista Charlie Hebdo, quando uma menina de dez anos explodiu uma bomba
atada ao corpo em uma cidade da Nigéria matando mais de 20 pessoas e ferindo mais de uma centena de vítimas inocentes.
Em relação ao ato terrorista que matou quase toda a equipe do
Charlie Hebdo, em Parias, o resultado, em termos de opinião pública, tanto na
França quanto em outros países europeus e em vários outros continentes foi o despertar da
solidariedade e da defesa da Liberdade de expressão como um dos direitos consagrados na França há 215 anos,
contados a partir da Revolução Francesa
e também consagrados em praticamente todos os demais países, inclusive no
Brasil.
Como resposta imediata
e de alto simbolismo podemos destacar a
grande marcha em Paris, com participação de mais três milhões de pessoas, com participação
de líderes de vários países,
icnclusive líderes mulcumanos, além de uma condenação formal por parte da quase totalidade dos países árabes
e onde o Islamismo é a religião dominante.
Mesmo que o número de
vítimas /mortes decorrentes dessas
ações terrorista e atos abomináveis
sejam quase insignificantes quando comparados com o número de assassinatos que
ocorrem no mundo todo, que em 2012
atingiram a cifra de 437 mil, dos quais
só no Brasil foram mais de 55 mil e mais de um milhão nos últimos 20 anos, o pavor que
o terrorismo infunde na população
passa a alimentar uma verdadeira Guerra
psicológica, que é, na verdade, a grande estratégia desses grupos fanáticos e fundamentalistas,
disseminar o medo generalizado.
A grande esperança
é que esse medo seja vencido por ações mais efetivas por parte da
comunidade internacional através de um
combate mais efetivo para impedir que esses grupos tenham acesso a armas,
insumos , territórios, campos de treinamento e, dentro de todos os países,
impedir o recrutramento e lavagem
cerebral de futuros terroristas, geralmente
jovens que são seduzidos idéiaspor idéias religiosas distorcidase
totalitárias que levam o ódio a
todas as pessoas que não professam da mesma fé, um verdadeiro atentado
contra a Liberdade de pensamento e de
crença, minando a democracia.
O fanatismo e
terrorismo religioso são tão
abomináveis quanto todas as demais
formas de violência que negam o direito de poder haver opiniões e crenças
diferentes emu ma sociedade, todas com o mesmo
direito de livre expressão do pensamento. Sem isto, o mundo vai
continuar na barbárie que hoje estamos assistindo! Usar a religião para praticar terrorismo em nada dignifica tais crenças.
JUACY DA SILVA, professor
universitário, titular e
aposentado,UFMT, mestre em sociologia,
articulista de A Gazeta. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@pofjuacy
Nenhum comentário:
Postar um comentário