quarta-feira, 1 de abril de 2015


O CALVÁRIO DOS BRASILEIROS

JUACY DA SILVA

Para  os  cristãos,  tanto católicos  quanto  protestantes, a semana  santa marca  um momento especial na vida de Jesus e, ao mesmo  tempo, na  vida da igreja ao longo de séculos. A reflexão nesses dias nos conduz tanto `a dimensão transcendental e também `a  escatológica, ou seja, “se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé”, como disse o apóstolo São Paulo em sua primeira Carta aos Coríntios.

Para  avaliar o sofrimento de Cristo a Igreja destaca a via-sacra, via-crucis  ou via dolorsa, com os quinze momentos  que ficaram marcados entre a sua condenaçao `a morte na  cruz, do Pretório (Corte) até sua morte, sepultamento e ressurreição. Cabe a Igreja  e aos cristãos  também aproveitarem, de forma  especial, a semana santa e refletirem sobre o sofrimento do povo, principalmente das camadas mais pobres, os  excluídos, discriminados  , muitos dos quais morrem  literalmente por falta de atendimento médico, hospitalar ou vítimas da violência  generalizada em nosso país, incluindo  assassinatos e mortes no trânsito e acidentes de trabalho e outras formas.

Outra  reflexão  que podemos fazer nesta semana e ao longo de todos os dias é o calvário pelo qual o povo brasileiro vem passando nesses últimos anos, sofrimento e vergonha que vem se agravando `a medida que nossos governantes não conseguem ou não querem tomar  medidas e realizarem ações mais efetivas para encarar  tais desafios  e equaciona-los.

`A  semelhança  das 15  estações  da via dolorosa de Cristo,  também  podemos identificar as  estações ou paradas para reflexão que identificam o calvário do povo brasileiro,  como se  segue:

1a. Estação: inflação que ameaça  fugir ao controle do governo e acaba reduzindo os  salários e poder aquisitivo da população em geral  e dos mais pobres em particular;

2a. Estação: Corrupção desenfreada com inúmeros escândalos que demonstram que a adminnistração pública foi tomada de assalto por verdadeiras quadrilhas de colarinho branco em associação com empresários sem ética;

3a. Estação:  aumento do desemprego, associado ao sub-emprego, colocando em risco  a vida de milhões de famílias, gerando mais insegurança geral na população;

4a. Estação: Caos na saúde em geral  e na saúde pública em particular, com filas  intermináveis e falta  de respeito `a dignidade das pesoas e de seus direitos fundamentais, inclusive direito `a vida;

5a. Estação: Caos no transporte público e no trânsito, com aumento incontrolávelda violência, de mortes e acidentes, que  deixam suas marcas nas vítimas  e seus familiares para o resto da vida;

6a.Estação: Precariedade do saneamento básico, impondo a convivência  de milhões de famílias  com lixo, esgoto a céu aberto e doenças que poderiam muito bem ser  evitadas;

7a. Estação: Aumento acelerado do preço dos alimentos, dos combustíveis, da energia, dos transportes e dos impostos,  reduzindo o poder de compra das classes média e mais pobres, aumentando o endividamento das  famílias;

8a. Estação: Educação pública  de baixa qualidade, reforçando a  exclusão de milhões de crianças, adolescenets  e jovens, aumentando o fosso entre as elites e o resto da sociedade em termos de oportunidades de trabalho  e de mobilidade social;

9a. Estação: Persistência das desigualdades  setoriais, regionais e sociais, aumentando o nível de dependência da população mais pobre do assistencialismo governamental e da manipulação política e eleitoral;

10a. Estação: Excesso de burocratização e ineficiência da administração pública, abrindo caminho para o tráfico  de influência  e da corrupção;

11a. Estação: Impunidade  generalizada e cinismo oficial quando se trata da garantia  dos direitos do cidadão,  contribuindo para o aumento da violência e  da criminalidade;

12a. Estação: Morosidade do sistema judiciário, desestimulando a população na busca e garantia de seus direitos, tornando o acesso `a justiça extremamente caro e práticamente  impossivel a quem não dispõe de recursos para tal;

13a. Estação:  Aparelhamento das estruturas públicas, inclusive das Estatais, pelos partidos que estejam no poder, os quais imaginam que a administração pública e o dinheiro público lhes pertencem, ,gerando uma promiscuidade entre o público e o privado;

14a. Estação: Descrédito generalizado da população em relação as instituições públicas, aos governantes, gestores, enfim, um enorme pessimismo  quanto ao futuro de nosso país;

15a.Estação: Da mesma forma que Cristo venceu a morte e ressuscitou, também o povo brasileiro  através de manifestações de massa e de protestos, ocupando as ruas e praças do País  está demonstrando que inicia uma  ressureição política e social e que  tem condições de vencer todos esses desafios e  retomar  o poder que lhe pertence.

JUACY DA SILVA, professor universitário,titular e aposentado UFMT,  mestrre em sociologia.  Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com  Twitter@profjuacy

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