sábado, 8 de setembro de 2018


EDUCAÇÃO, VERGONHA NACIONAL

JUACY DA SILVA

Estamos há menos de um mês para a realização das eleições gerais quando 147,3 milhões de eleitores estarão aptos a escolherem quem irá dirigir os destinos do Brasil no plano federal e em todos os Estados e o Distrito Federal. Desses 147,3 milhões de eleitores, para vergonha de nossa tão propalada democracia corroida pela corrupção e pela mediocridade de nossos governantes, estão tambem incluidos 11,8 milhões de analfabetos e mais 38 milhões de analfabetos funcionais, que totalizam 33,8% de eleitores que ou não sabem ler e escrever ou mesmo tendo frequentado alguns anos de escola não conseguem entender um simples parágrafo.

Na 14a. Sessão da UNESCO em 26 de outubro de 1966, foi criado e aprovado o DIA INTERNACIONAL DA ALFABETIZAÇÃO, a ser “comemorando” , lembrado e relembrado por todos os países, no DIA 08 DE SETEMBRO DE CADA ANO, incluindo organizações governamentais e não governamentais de que a educação é o fundamento do desenvolvimento nacional e mundial, sem a qual bilhões de pessoas estarão sempre excluidas dos frutos deste desenvolvimento.

Se a educação é o fundamento ou condição básica para que um país rompa as amarras do atraso, da miséria, da desigualdade e possa dar um salto qualitativo que promova melhores condicçõs de vida, melhores oportunidades de trabalho e melhores salários no plano individual, a base da educação é a ALFABETIZAÇÃO, tanto no inicio do processo educacional quanto para atingir e possibilitar a inclusão de milhões de jovens, adultos e idosos, que com 15 anos ou mais são analfabetos ou analfabetos funcionais.

De acordo com dados recentes da UNESCO, no mundo existem 758 milhões de analfabetos, mas que devido a subnotificação de dados nacionais e a baixa qualidade das estatísticas em inúmeros países, este total pode ser aproximar a mais de 850 milhões de pessoas. China, Índia, diversos outros países na Ásia, Africa e América Latina, apesar dos “esforços” que vem sendo realizados para extirpar esta chaga que denigre em muito a imagem desses países, inclusive do Brasil, ainda estão muito longe de atingirem a meta de ALFABETIZAÇÃO Universal e ANALFABETISMO ZERO.

O progresso tanto em alfabetização de crianças quanto de adultos é a base de todo o processo educacional e, se não for feito corretamente ou se for negligenciado, afetará negativamente a vida do estudante, trazendo sérias consequências tanto em sua vida acadêmica quanto para sua inserção produtiva no Mercado de trabalho e para o desenvolvimento do país, principalmente nas áreas da ciência e tecnologia; do preparo da mão-de-obra, nos niveis de remuneração e distribuição de renda, enfim, será uma das causas do atraso em todas as áreas, que tão bem caracterizam os países sub desenvolvidos ou emergentes.

O analfabetismo no Brasil tem sido reduzindo ao longo das últimas decadas, mas de forma extremamente lenta e já foi objeto de inúmeros programas de governo como o MOBRAL e ultimamente o EJA – Educação de jovens e adultos. Nos anos que antecederam a intervenção militar, ou seja, governos Jânio Quadros e João Goulart, inúmeras iniciativas foram colocadas em prática, incluindo o Método PAULO FREIRE, que além da alfabetização se propunha a estimular o despertar da conscientização do alfabetizando, no caso, alfabetização de adultos. Em decorrência da controvérsia ideológica envolvendo não apenas o método em si, mas principalmente seu idealizador (Paulo Freire), que chegou a ser preso durante os primeiros anos dos governos militares e depois viveu muitos anos no exílio, os esforços governamentais foram reduzidos neste sentido. 

Na mesma época também houve uma experiência no âmbito estadual, no Rio Grande do Norte e também em Recife, com Aluísio Alves e Jarbas Maranhão, respectivamente, mas foram paralizados com a troca de governo e sua substituição pelo MOBRAL, programa idealizado pelos governos militares para dar conta deste desafio.

O Brasil em seu último plano nacional de educação estabeleceu que a taxa de analfabetismo em 2015 deveria ser de 6,5% e que a meta de ANALFABETISMO ZERO deveria ser alcançada em 2024. Todavia, as taxas de analfabetismo estão “congeladas” ou tem caido muito pouco nos ultimos anos. Em 2015 foi de 7,7%; 2016 caiu para 7,2% e no último ano chegou a 7,9%; isto significa que em tres anos a queda foi de apenas 0,7% ou uma queda anual de 0,23%.

Se este for o rítimo pelos proximos anos, o Brasil vai precisar de mais 30,4 anos para atingir a meta de analfabetismo zero, ou seja, apenas 2047, desde que todas as criancas em idade de inicio escolar estejam na escola e sejam, de fato, alfabetizadas, o que jamais acontecerá, considerando o descalabro em que se encontra a educacao brasileira, em todas as suas  fases ou niveis, descalabro este reconhecido até por diversos ministros da educação, como o atual.

A falta de valorização do corpo docente e demais trabalhadores em educação; a falta de investimento em infra-estrutura e recursos pedagógicos, em atividades de suporte a uma boa educação, incluindo alimentação escolar, transporte escolar, bibliotecas, laboratórios, além da corrupção que tem dominado esta área, praticamente em todos os Estados, sempre sujeita ao fisiologismo politico e o aparelhamento da adminisrração pública, indicam que vamos ter que “comemorar” por muitas e muitas decadas o DIA MUNDIAL DE COMBATE AO ANALFABETISMO.

Esta realidade é triste, é vergonhosa. Só existe uma certeza, com os governantes que temos em todos os niveis, do plano federal, passando pelos estados até chagar aos municipios, nosso pais esta fadado a estar sempre na “rabeira” dos rankings da UNESCO e outras organizações internacionais. Segundo a UNESCO, em 2016 entre 127 países o Brasil ficou em 88a posição, atraz até da Bolivia e que na mesma ocasião existiam mais de 700 mil crianças, em idade escolar, fora da escola e as taxas de analfabetismo em algumas regioões do Brasil e na área rural é superior a 28% da população com 15 anos e mais.

Sobre isto é o que devemos refletir neste 08 DE SETEMBRO de 2018, mais um DIA INTERNACIONAL DE COMBATE AO ANALFABETISMO, oxalá a população e os candidatos possam debater um pouco mais sobre esta realidade e buscarem um novo caminho que transforme esta realidade.

JUACY DA SILVA, professor universitário, titular, aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador e articulista de diversos veiculos de comunicação. Email, professor.juacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com




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