quarta-feira, 16 de dezembro de 2015


COBRA ENGOLINDO COBRA

JUACY DA SILVA

Este artigo não trata de uma questão ambiental, como `a primeira vista pode parecer, como aquelas notícias em que uma anaconda ou sucuri devora suas presas, jacarés  e também outras cobras menores. Poderia ser classificado como uma reflexão  sobre a ecologia política brasileira, a partir das cenas que já se tornaram rotineiras através  das constantes ações da Polícia Federal,  cumprindo ordens do Poder  judiciário,  correndo atraz não de bandidos comuns, traficantes de drogas , de armas e de  seres humanos ou contrabandistas; mas sim prendendo, algemando políticos e gestores públicos, vasculhando suas casas, seus escritórios e até mesmo gabinetes parlamentares, em Câmaras municipais, Assembléias Legislativas ou da Câmara Federal, como ocorreu há poucos dias em Brasília e em diversos Estados.

A cada dia as investigações  do Ministério Público, da Polícia Federal e da Justiça, divulgadas amplamente pelos meios de comunicação,  possibilitam ao povo, ao eleitor e ao contrbuinte,  constatarem que  estamos sendo governados, ainda bem que apenas uma parcela menor,  por verdadeiros bandidos  de colarinho branco, verdadeiras quadrilhas que usam o mandato e os cargos públicos para roubarem, bilhões de reais  que fazem  falta para a implementação  das políticas públicas voltadas `a solução de graves problemas que afetam a população, principalmente as camadas mais humildes.

Mas  vamos ao que  interessa nesta reflexão, a operação  catilinárias, executada pela Polícia Federal  há poucos dias, tendo como alvo mais de 53 mandados de busca e apreensão,  nas  residências  oficial e particular do Presidente da Câmara Federal; de dois minitros do Governo Dilma, de  um ex-ministro e senador da República,, na séde do PMDB em Alagoas, de deputados e senadores, enfim, um montão de gente importante, tendo ficado de fora o  Presidente do Senado, devido a não autorização ao pedido do procurador Geral da República, por parte do Ministro Teori Zavaski,  relator da Operação Lava Jato , no Supremo Tribunal Federal. Todos os pedidos de busca e apreensão tiveram como alvos políticos e dirigentes ou ex-dirigentes públicos, ligados ou pertencentes ao PMDB  e  que estão  na famosa “Lista do Janot”.

Da referida lista constam 14 senadores, 28 deputados federais,  além de 14 ex-deputados federais e a ex-governadora do Maranhão  e o Ex-Governador do Rio de  Janeiro, no caso dos ex-governadores, todos do PMDB.  Mais da metade dos deputados que estão  sendo investigados pertencem ou pertenciam ao PP. Entre os senadores investigados fazem parte uma  exministra, um ex-ministro, um ex-presidente da República. Cabe  destaque também que tanto o Presidente da Câmara quanto do  Senado  estão sendo investigados, além de já  estarem presos o ex-lider do Governo Dilma no Senado e o ex-ministro chefe da casa civil de  Lula, e mais um ex-tesoureiro do PT e diversos empresários de peso, que tinham livre  acesso no palácio do  Planalto, onde o povo jamais pode entrar, apesar de pagar impostos  que mantém a máquina pública e os privilégios e mordomias dos donos do poder.

Diante disso, parece que ao dirigir as operações dos últimos dias apenas contra pessoas investigadas ligadas ou pertencentes aos quadros do PMDB, pode, sim, representar  um  certo direcionamento que também beneficia o Governo Dilma, na medida que deixa de fora políticos suspeitos e investigados por corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e outros crimes de colarinho branco, pertencentes  ao PT, ao PP, ao PTB  e de outros partidos que  fazem parte da base do governo Dilma.

Todos sabeem que a aliança  entre PT e PMDB, é  um ajuntamento fisiológico, afinal o PDMB  participou durante 08  anos do Governo FHC e chegou a indicar a candidata na Chapa de Serra, quando a coligação PSDB/PMDB  perdeu as eleições  em 2002 para Lula.

Todavia, tão logo Lula foi eleito, o PMDB  aderiu ao  Governo petista e desde então não largou mais o osso, era e continua a fase do “toma lá,  dá cá”, participando do balcão  de negócios dirigidos pelos governos Lula/Dilma, onde a moeda de troca para o apoio politico  são  as nomeações de ministros, ocupantes de segundo, terceiro escalão, dirigentes de Estatais, inclusive na Petrobrás, que foi roubada durante esses últimos 15 anos, de uma maneira vil e também as famosas emendas parlamentares.

Como os ratos que percebem quando o navio está afundando  e pulam na água na esperança  de se salvarem, também os políticos  trocam de lado, pulam do barco politico, sem a mínima cerimômina, quando percebem que um determinado governo está afundando, como é o caso do Governo Dilma, que, segundo pesquisas do início desta semana, em que 70% da população consideram seu governo ruim ou péssimo e apenas 9% avaliaram  como ótimo ou bom. Pior ainda quando os entrevistados são indagados se confiam ou não na Presidente. O  resultado indica  o  que o povo está sentindo: 78% não confiam na Presidente e apenas 18% confiam. Este sentimento é o mesmo  em  ambos os sexos, faixas  etárias, regiões do país, níveis de renda e de escolaridade e tamanho das cidades. Ou seja,  Dilma é  a   presidente mais rejeitada  ao longo dos últimos 30 anos, desde o início do Governo Sarney.

Diante disso, vendo que se continuar atrelado ao PT poderá  ir ao naufráfio político, o PMDB  está iniciando o desembarque do Governo Dilma e tem imposto várias  derrotas `a mesma nos últimos meses. A opinião pública sabe muito bem que hoje, o maior inimigo do PT não são os partidos de oposição, mas sim o PMDB que caminha a passos rápidos para bandear-se para o outro lado, com vistas as eleições municipais de 2016 e as eleições gerais de 2018.

Tudo isso depende da velocidade da operação Lava jato,  principamente  as sob a responsabilidade do STF, que está muito devagar, diferente  das investigações e condenações  em Curitiba, sob a batuta do juiz Sérgio  Moro que correm rápido, as que tem como investigados  parlamentares e outras figuras importantes  que gozam de “foro especial”, um privilégio só existente no Brasil, pode ajudar a  enjaular mais  gente importante ou engrossar o rol da impunidade, beneficiando, como sempre, os criminsos de colarinho  branco.

Essas  operações contra   políticos acusados de corrupção são importantes e devem continuar, mas não pode escolher investigados que pertencem a um determinado partido, deixando outros de fora;  deve ir mais a fundo e pegar todos os que ,comprovadamente , roubaram dinheiro público.

Da mesma forma, não pode embaralhar o foco principal que é a questão do impeachment.  O povo quer tanto que os políticos e demais corruptos investigados na operação  Lava  Jato sejam punidos, quanto a Presidente Dilma encerre  o seu mandato o mais  breve possível.  Todas as pesquisas de opinião pública indicam isso. Impeachment  ou renúncia é  a chave para desatar este nó em que o PT colocou o Brasil.

Em Brasilia, tanto  no Congresso, quanto nos Poderes Executivo e   Judiciário,    existem cobras criadas, vorazes e a luta entre  essas cobras é muito grande,  cada uma querendo engolir  as demais, incluindo gente importante que  age como eminências pardas  e desejam retornar ao poder,  afinal do poder emana privilégios e muitas mutretas, o que menos conta  são  os interesses e as necessidades do povo brasileiro.

JUACY  DA SILVA,  professor universitário, titular e aposentado UFMT,  mestre em sociologia. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog  www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

 

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns Prof. Juacy! Disse tudo exatamente da forma que penso!