quinta-feira, 20 de dezembro de 2018


A COR DA POBREZA NO BRASIL

JUACY DA SILVA

Hoje, 20 de Novembro, é comemorando o DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA no Brasil, feriado em mais de mil municipios, relembrando a morte do heroi-escravo Zumbi dos Palmaras, morto nesta data em 1695, pelas forcas armadas coloniais portuguesas, para dar fim ao sonho de liberdade daquele líder e de milhares de escravos que fugiam dos troncos e das senzalas e lutavam contra a desumanidade da escravidão, que ainda hoje esta presente de forma disfarçada em nosso país.

Esta data é tambem o coroamento do movimento negro unificado no Brasil e durante o governo Lula (2003-2010), a Lei nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003, determinava a inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo escolar e, foi instituído oficialmente pela lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, aprovado pelo Congresso Nacional e assinada pela ex presidente Dilma , que em seu artigo primeiro estabelece “É instituído o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ser comemorado, anualmente, no dia 20 de novembro, data do falecimento do líder negro Zumbi dos Palmares.”.

Tanto no caso do Brasil quanto dos países da América Latina e em certo sentido nos EUA, países que tem em comum a prática da escravidão de negros oriundos da África, comercializados durante séculos, prática  que está na origem da colonização e do desenvolvimento capitalista desses países, existem tres linhas que dividem a sociedade e que quanto mais baixo descemos na escala social ou na pirâmide sócio econômica elas se sobrepõem.

Esas tres linhas são: classe, raça e cor da pele. Em certo sentido além dos afro-descendentes também os indigenas, grupo humano que por pouco ainda não foi extinto no Brasil pertencem ao grupo dos excluidos. Em 1800 em torno de 67% da população brasileira eram constituidos de negros, pardos e indigenas, dos quais 37% eram escravos.

Tomando-se como base o ano 2015, mas que praticamente permanece a mesma nos dias atuais, a linha de cor , ou seja, os afrodescendentes representavam 51% da da população brasileira, todavia considerando os 40 milhões de pessoas que viviam na pobreza, definida como as pessoas que ganham menos de que US5,50 dólares ou R$19.25 reais por dia ou R$367,50 reais por mes, que equivalia na época a apenas 46,6% do salario mínimo, os afrodescendentes representavam 73,2% da população total que viviam na pobreza e em 2017 passaram a ser 76%, um aumento de 3,8% enquanto a população branca na condição de pobreza foi reduzida em mais de 5,2%, indicando que o fosso entre afrodescendentes e a populacao branca esta aumentando.

Quando os dados estatísticos se referem a pessoas vivendo em condicoes de pobreza seja em relacao ao tipo de domiício, local da residencia, índices de urbanização, populacao carcerária, desempregados, sub-empregados, salario, mortalidade infantile, vitimas de violencia, inclusive violencia policia, adolescentes e jovens for a da escola e que não estejam trabalhando (a geração nem, nem); tipo de trabalho, principalmente os/as trabalhadores/trabalhadores domésticas, usuarios do SUS, acessos a servicos publicos e outros indicadores sociais, a presença de negros, pardos e indigenas, em alguns casos chegam a quase 90% do grupo demográfico considerado, os afrodescendentes sempre ocupando as posicoes mais desvantajosas.

A população prisional no Brasil é da ordem de 602.217 mil presos, das quais 64% são afrodescendentes, 35% brancos e 1% não declararam a origem racial.

No outro espectro, no ápice da pirâmide sócio-econômica, a presença de afrodescendentes em postos executivos, na magistratura, no meio empresarial, na universidade, em ocupações ou funções consideradas de elite, como na medicina, comércio internacional, em cargos eletivos estaduais ou nacionais, entre a parcela de 1% da população mais rica, onde estao os milionários e bilionários, governadores de estado, senadores, deputados federais, membros do ministério público, a presença de afrodescendentes e mulheres é uma excessão, porquanto nessas áreas existe na verdade a hegemonia do homem branco.

Ser afrodescendente, ser pobre e ser mulher no Brasil é pertencer a um estamento ou classe  de xcluidos, quando nesta condição coincide ser mulher negra, ser empregada doméstica e ser pobre, então a exclusão social e a discriminacao sã muito maiores.

Diante de tantas pesquisas, inclusive realizadas por organismos oficiais como, no caso do Brasil, pelo IBGE, pelo IPEA e também por universidades e organismos internacionais, podemos concluir sem sombra de duvida que a pobreza tem cor, ela é negra, parda e afrodescendente.

Quanto mais alta a escala social, definida pela pirâmidade sócio-econômica, menos afrodescendentes estão presentes e, inversamente, quanto mais baixa esta escala social, mais afrodescendentes podem ser encontrados.

Esta é uma realidade que deveria estar no cerne das discussões não apenas em relacao `a pobreza, mas também em relação `as questões de raça e clase em nosso país e isto deveria também fazer parte das discussões do movimento negro e de tantos outros movimentos e pessoas que lutam por um Brasil justo, desenvolvido e sustentável, não apenas no dia dedicado ao heroi negro ZUMBI dos Palmares, mas ao longo do ano e por anos a fio, até que negros, afrodescendentes , pobres e mulheres de todas as raças e cor da pele deixem de ser discriminados, excluidos,violentados e tenham o direito a uma vida dígna, como todos os seres humanos.

JUACY DA SILVA, professor universitário, aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de diversos veiculos de comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com




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