A COR DA POBREZA NO
BRASIL
JUACY DA SILVA
Hoje, 20 de Novembro, é
comemorando o DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA no Brasil, feriado em mais de
mil municipios, relembrando a morte do heroi-escravo Zumbi dos Palmaras, morto
nesta data em 1695, pelas forcas armadas coloniais portuguesas, para dar fim ao
sonho de liberdade daquele líder e de milhares de escravos que fugiam dos
troncos e das senzalas e lutavam contra a desumanidade da escravidão, que ainda
hoje esta presente de forma disfarçada em nosso país.
Esta data é tambem o
coroamento do movimento negro unificado no Brasil e durante
o governo Lula (2003-2010), a Lei nº 10.639 de 9 de janeiro de 2003,
determinava a inclusão da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”
no currículo escolar e, foi instituído
oficialmente pela lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, aprovado pelo
Congresso Nacional e assinada pela ex presidente Dilma , que em seu artigo
primeiro estabelece “É instituído o Dia
Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, a ser comemorado, anualmente, no dia
20 de novembro, data do falecimento do líder negro Zumbi dos Palmares.”.
Tanto no
caso do Brasil quanto dos países da América Latina e em certo sentido nos EUA,
países que tem em comum a prática da escravidão de negros oriundos da África,
comercializados durante séculos, prática
que está na origem da colonização e do desenvolvimento capitalista
desses países, existem tres linhas que dividem a sociedade e que quanto mais
baixo descemos na escala social ou na pirâmide sócio econômica elas se sobrepõem.
Esas tres
linhas são: classe, raça e cor da pele. Em certo sentido além dos
afro-descendentes também os indigenas, grupo humano que por pouco ainda não foi
extinto no Brasil pertencem ao grupo dos excluidos. Em 1800 em torno de 67% da
população brasileira eram constituidos de negros, pardos e indigenas, dos quais
37% eram escravos.
Tomando-se
como base o ano 2015, mas que praticamente permanece a mesma nos dias atuais, a
linha de cor , ou seja, os afrodescendentes representavam 51% da da população
brasileira, todavia considerando os 40 milhões de pessoas que viviam na
pobreza, definida como as pessoas que ganham menos de que US5,50 dólares ou
R$19.25 reais por dia ou R$367,50 reais por mes, que equivalia na época a apenas
46,6% do salario mínimo, os afrodescendentes representavam 73,2% da população
total que viviam na pobreza e em 2017 passaram a ser 76%, um aumento de 3,8%
enquanto a população branca na condição de pobreza foi reduzida em mais de 5,2%,
indicando que o fosso entre afrodescendentes e a populacao branca esta
aumentando.
Quando os
dados estatísticos se referem a pessoas vivendo em condicoes de pobreza seja em
relacao ao tipo de domiício, local da residencia, índices de urbanização,
populacao carcerária, desempregados, sub-empregados, salario, mortalidade
infantile, vitimas de violencia, inclusive violencia policia, adolescentes e
jovens for a da escola e que não estejam trabalhando (a geração nem, nem); tipo
de trabalho, principalmente os/as trabalhadores/trabalhadores domésticas,
usuarios do SUS, acessos a servicos publicos e outros indicadores sociais, a
presença de negros, pardos e indigenas, em alguns casos chegam a quase 90% do
grupo demográfico considerado, os afrodescendentes sempre ocupando as posicoes mais
desvantajosas.
A população
prisional no Brasil é da ordem de 602.217 mil presos, das quais 64% são afrodescendentes, 35% brancos e 1%
não declararam a origem racial.
No outro
espectro, no ápice da pirâmide sócio-econômica, a presença de afrodescendentes
em postos executivos, na magistratura, no meio empresarial, na universidade, em
ocupações ou funções consideradas de elite, como na medicina, comércio
internacional, em cargos eletivos estaduais ou nacionais, entre a parcela de 1%
da população mais rica, onde estao os milionários e bilionários, governadores
de estado, senadores, deputados federais, membros do ministério público, a
presença de afrodescendentes e mulheres é uma excessão, porquanto nessas áreas
existe na verdade a hegemonia do homem branco.
Ser
afrodescendente, ser pobre e ser mulher no Brasil é pertencer a um estamento ou
classe de xcluidos, quando nesta condição
coincide ser mulher negra, ser empregada doméstica e ser pobre, então a
exclusão social e a discriminacao sã muito maiores.
Diante de
tantas pesquisas, inclusive realizadas por organismos oficiais como, no caso do
Brasil, pelo IBGE, pelo IPEA e também por universidades e organismos
internacionais, podemos concluir sem sombra de duvida que a pobreza tem cor,
ela é negra, parda e afrodescendente.
Quanto mais alta a escala
social, definida pela pirâmidade sócio-econômica, menos afrodescendentes estão
presentes e, inversamente, quanto mais baixa esta escala social, mais
afrodescendentes podem ser encontrados.
Esta é uma
realidade que deveria estar no cerne das discussões não apenas em relacao `a
pobreza, mas também em relação `as questões de raça e clase em nosso país e
isto deveria também fazer parte das discussões do movimento negro e de tantos
outros movimentos e pessoas que lutam por um Brasil justo, desenvolvido e
sustentável, não apenas no dia dedicado ao heroi negro ZUMBI dos Palmares, mas
ao longo do ano e por anos a fio, até que negros, afrodescendentes , pobres e
mulheres de todas as raças e cor da pele deixem de ser discriminados, excluidos,violentados
e tenham o direito a uma vida dígna, como todos os seres humanos.
JUACY DA SILVA, professor universitário, aposentado UFMT, mestre
em sociologia, articulista e colaborador de diversos veiculos de comunicação.
Email professor.juacy@yahoo.com.br
Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
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