terça-feira, 5 de novembro de 2013


COLAPSO  DA SAÚDE NO BRASIL

JUACY DA SILVA

Conforme mencionado em artigo anterior, intitulado “ Governo e o futuro da saúde no Brasil”, é importante que ao analisar a situação da saúde pública em nosso país possamos não apenas identificar as mudanças  ocorridas ao  longo de décadas e de sucessivos governos, mas também compararmos esta e outras áreas com outros  países. Caso isto nao ocorra o único referencial de análise passa a ser a dimensão cronológica. Ao  fazer tal comparação iremos identificar que diversos países conseguiram no mesmo periodo de cinco ou seis décadas melhorar muito mais não apenas a saúde, mas também a educação,  o saneamento básico, a qualidade do fator trabalho,  a distribuição de renda e  a qualidade de vida de suas populações.

Afinal, saúde é muito mais do que ausência de doença, é, fundamentalmente padrão de vida decorrente de melhorias em diversos indicadores. Esta é a maior razão da posição do Brasil bem abaixo de diversos países, que há cinquenta anos estavam  em posições piores do que o nosso em diversos “rankings”, como analfabetismo, mortalidade infantil, taxa bruta de mortalidade, violência, acesso aos serviços básicos de saúde  esgotamento sanitário, qualidade de vida e outros mais.

Até meados da década de cinquenta do século passado o Brasil ainda era um país majoritariamente rural, com altas taxas de mortalidade infantil, de analfabetismo e sua economia era vinculada basicamente as importações de bens industrializados e exportação de produtos primários. A partir desse periodo ocorreu uma grande transformação econômica e demográfica, com migrações do meio rural em direção `as cidades e também um grande deslocamento populacional do nordeste em direção aos Estados do Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

Essas mudanças econômicas e sociais representaram e, em certo sentido ainda representam em diversas regiões do Brasil, uma pressão popular por melhores condições de vida e acesso a bens e serviços urbanos como água potável, esgoto, coleta de lixo, escolas de qualidade, diversão e lazer, habitação, transporte coletivo e, também serviços de saúde.

Apesar do aumento enorme de carga tributária ter ocorrido e continuar a ocorrer, os governos federal,  estaduais e municipais não tem demonstrado competência e vontade política para atender a tais demandas  de uma população urbana que cresceu de forma acelerada por décadas seguidas.

Além dos baixos níveis de vída da população rural, principalmente no Nordeste e Norte,  colocar o Brasil próximo aos países  mais atrasados da África, Ásia  e América Latina, também o crescimento urbano ocorreu de forma caótica, com ocupações de áreas impróprias para assentamentos humanos como alagados, encostas de morros, áreas de proteçao ambiental.

Apesar da propaganda oficial por parte dos governantes, estima-se que mais de 50% da população urbana vive ou sobrevive em áreas totalmente impróprias e não desfrutam de serviços essenciais como saneamento, educação de qualidade, iluminação pública, pavimentação, coleta de lixo e assim por diante. Tal fato é o responsável direto pelos precarios índices e indicadores de saúde pública, que há muito tempo está em crise, em meio a um caos absurdo e caminha para o total colapso. Falta planejamento de médio e longo prazo, falta de investimentos e a inexistência de uma articulação entre os tres níveis de governo (União, Estados e Municípios). Programas imediatistas, casuísticos e de cunho eleitoreiro, como o “mais médico”, indicam que a improvisação é a tônica dominante em uma área tão importante e complexa.

De acordo com dados recentes, em 2010 o Brasil apresentava um índice de analfabetismo de 9,6%, maior do que a maioria dos países da América do Sul e pior do que 120 outros países, nossa posição neste aspecto era a 98a, pior do que em 1990 quanda ocupavamos a 85a. posição no ranking mundial.

Em expectativa de vida ao nascer, em 2011 o Brasil ocupava 73a posiçao no rankig mundial, e em 2012, segundo a CIA nosa. posição teria sido na verdade a 121a., apesar do”progresso” ocorrido nas últimas tres décadas.

Entre 1950 e 1955 o Brasil apresentava uma taxa anual de mortalidade infantil de 134,7 por mil nascidos vivos e ocupava a 83a. posição no ranking mundial,  entre 2005 e 2010 esta taxa caiu para 23,5. Um grande progresso. Só que nossa posição no ranking mundial caiu para 98a., demonstrando que ainda continuamos ruins na foto.

Em um próximo artigo vamos refletir sobre outros aspectos desta discussão.

JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e  aposentado UFMT, mestre em sociologia, Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

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