sábado, 1 de agosto de 2015


ENTREVISTA DA SEMANA

 

Fonte Original Jornal Centro Oeste Popular, Cba e


 “Falta coerência e fidelidade aos políticos e partidos”

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Beatriz Girardi - Jornal Centro-Oeste Popular

JUACY DA SILVA é mestre em sociologia

“Falta coerência e fidelidade aos políticos e partidos”

Sociólogo, mestre em sociologia, professor fundador, titular e aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT. Professor Juacy já ocupou os seguintes cargos e funções: Assistente Técnico da Delegacia do IND – Instituto de Desenvolvimento Agrário de MT; Delegado da CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura de MT, articular para a fundação da FETAGRI/MT; Coordenador de Extensão e Pesquisa da UFMT; Secretário de Planejamento e Gestão da Prefeitura de Cuiabá; Diretor Executivo do IPDU – Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá; Coordenador da Revisão do Plano Diretor de Cuiabá; Coordenador das Conferências das cidades de Cuiabá e Várzea Grande, Ouvidor Geral/Ombusdman da Prefeitura de Cuiabá; Membro do Corpo Permanente da ESG - Escola Superior de Guerra,  Diretor da Divisão de Pesquisa e Doutrina da ESG; integrante da Missão Brasileira na Junta Inter-Americana de Defesa (EUA), Chefe da Divisão de Assuntos Econômicos do Inter-American Defense College (EUA), articulador e coordenador Geral da Caritas Arquidiocesana de Cuiabá. Confira a entrevista exclusiva.

Beatriz Girardi -  Jornal Centro-Oeste Popular

Na sua opinião, as eleições deste ano em Mato Grosso sinalizam novidades políticas?

Juacy da Silva - Em parte sim e em parte não. As novidades políticas podem ser representadas pelas candidaturas do senador Pedro Taques, como nova força de oposição aos grupos que estão no governo. Todavia, o mesmo tem ao seu lado forças conservadoras e que já são bem conhecidas pelo eleitorado, como os integrantes do DEM, do PSDB e em  certo sentido o PPS. A outra novidade, dependendo das articulações do bloco que está no poder estadual, se conseguir emplacar a candidatura será o  ex-juiz  federal Julier. Tanto Pedro Taques quanto Julier, este mais ainda, terão que fazer acordos e alianças com grupos conservadores e os verdadeiros caciques que de fato mandam na política em nosso Estado, tanto os velhos caciques, quanto os novos como o senador Blairo Maggi, deputado Carlos Bezerra e outros mais. Desta forma, nem em relação aos candidatos e nem em relação aos futuros eleitos não vejo tantos sinais de renovação, principalmente em termos de ações de governo.

A eleição deste ano está atrelada ao grande evento Copa do Mundo?

Juacy - Em certo sentido sim, mas isto muito mais no plano federal. Se o Brasil for campeão, por exemplo, o governo Dilma, Lula e outras figuras de relevância no PT farão um grande esforço, um verdadeiro carnaval tentando “faturar” para o Governo Federal os louros da vitória. Se  perder, vão tentar jogar a culpa pelo fracasso na oposição ou em outros grupos. Em relação às eleições estaduais, em MT, como em Cuiabá só ocorrerão quatro jogos, da primeira fase, a COPA pouco influenciará no encaminhamento do pleito. Como certeza, tanto em MT quanto em todos os demais estados onde devem ser realizados jogos, as forças de oposição deverão colocar  na agenda política a questão dos gastos com a COPA e a situação do caos que existe nas áreas de saúde, saneamento, insegurança pública, educação, infraestrutura urbana, incluindo a incompetência , a  qualidade de várias obras, o superfaturamento e inclusive a corrupção que  sempre acaba vindo a público. Outro aspecto é a questão dos protestos  populares, a presença da violência e do crime organizado e as ações dos aparelhos de repressão do Estado (poderes constituídos) inclusive a utilização das forças armadas como forças policiais neste processo de repressão.

Na sua avaliação, o PT se dilacera no país ou segue sendo uma referência da esquerda brasileira?

Juacy - Em minha opinião, desde o momento em que Lula articulou sua vitória e depois de eleito aliou-se as forças que antes ele mesmo as considerava conservadoras, retrógradas e até mesmo corruptas, o PT  deixou de ser referência de esquerda. Um partido que tem uma linguagem de “esquerda” ou defende princípios socialistas, marxistas e às vezes até leninistas, com práticas stalinistas, e ao mesmo tempo tem como aliados políticos que serviram aos governos militares, usineiros, latifundiários, barões da indústria, do comércio e do agronegócio, aliado ao fato do envolvimento de vários de seus mais altos dirigentes que foram condenados e estão presos por corrupção, e outros que ainda estão sob investigação como ex-dirigentes da Petrobras, e mais recentemente o vice presidente da Câmara Federal, do PT do Paraná, que é acusado de envolvimento com um doleiro preso por práticas de lavagem de dinheiro. Um partido assim não pode ser referência pra ninguém, muito menos para a esquerda. Afinal, quando na oposição o PT defendia de unhas e dentes o princípio da ética na política. E nunca este princípio esteve tão distante do que a realidade da gestão do PT no Governo Federal.

O que mudou nas campanhas? Trata-se de uma campanha direcionada para a chamada “nova classe média”?

Juacy - O que mudou nas campanhas políticas é a presença de grandes somas de dinheiro, muitas vezes doações para caixa dois, fruto e estímulo a corrupção. A única novidade tem sido o uso dos meios de comunicação de massa, principalmente da internet, das redes sociais. No entanto, isto ainda está longe de ter um efeito que possa contrabalançar a influência dos grandes grupos e dos interesses ocultos, inclusive acima dos partidos.

Como compreender coligações entre partidos que têm históricos divergentes?

Juacy - Os partidos políticos no Brasil são constituídos não em função de princípios ideológicos, doutrinários ou programáticos, mas sim das conveniências dos caciques ou novos donos de partidos. Dai a existência do que popularmente tem sido denominado de partidos nanicos ou de aluguel, os quais têm baixa representatividade nacional, estadual e local.

As alianças são realizadas em função dos interesses dessas pessoas, verdadeiros donos de siglas que pouco representa para o povo. O que move tais alianças são interesses imediatos, de grupos ou segmentos, jamais o interesse nacional, estadual ou local. Falta coerência e fidelidade tanto aos políticos como indivíduos quanto aos partidos os quais se juntam em alianças momentâneas, pouco importando as incoerências que levam a tais alianças. O importante é vencer as eleições e depois poder participar do loteamento dos cargos e funções, acabando por aparelhar toda a administração pública.

Pode-se falar de uma crise dos partidos políticos, considerando as coligações partidárias?

Juacy - Não existe crise, principalmente de identidade ideológica nos ou entre os partidos. Longe dos embates ideológicos ou de modelos de desenvolvimento, nesses ajuntamentos, o que impera é o princípio de que inimigos ou adversários de ontem podem ser amigos ou correligionários de hoje ou vice versa. A grande maioria dos partidos e dos políticos procuram estar sempre junto a quem esteja  no poder. Durante o período militar havia um enorme contingente de políticos que faziam parte do governo, eram nomeados para cargos de ministros, de governadores, prefeitos, senadores biônicos e ocupantes de cargos de segundo escalão em Brasília ou nos Estados. Nos governos civis que sucederam aos militares (Sarney, Collor/Itamar; FHC e agora LULA/DILMA, muitos daqueles políticos continuam no governo. Os casos do PMDB, PTB, PDT e outros mais,  são emblemáticos.

Considerando o resultado das eleições municipais, já é possível vislumbrar alguma possibilidade para a eleição de governador agora em 2014?

Juacy - Muita gente acredita que prefeitos e vereadores sejam os grandes cabos eleitorais nas eleições gerais para Presidente da República, Senadores, Governadores, Deputados federais e estaduais. Penso que a eleição deste ano deve  levar em conta a questão da gestão pública, ou o que eu chamo de incompetência governamental; a realidade econômica e social do Brasil nesses próximos meses; a questão da corrupção. Creio que o povo anseia por mudanças verdadeiras e mais profundas que mexam com as estruturas do país, que possibilite um desenvolvimento com melhor qualidade de vida, com mais dignidade, mais transparência, onde o povo brasileiro que paga uma das mais altas cargas tributárias do mundo possa receber serviços públicos de qualidade e universais.  As eleições municipais recentes não são um indicador confiável de quem possa ser eleito governador em MT ou qualquer estado. O povo anda desiludido com a classe política. Boa parte comparece as urnas pelo fato do voto ser obrigatório e na verdade não tem grandes opções de escolha. Mais se parece trocar seis por meia dúzia!

A corrupção impregnada na política brasileira é uma “herança portuguesa. Mas a República parece que adotou a prática. Concordas?

Juacy - Não concordo. Não podemos condenar algo que já é passado por mais de dois ou três séculos. Na verdade a corrupção decorre da falta de pudor dos corruptos e corruptores, da lentidão dos processos investigatórios, da lentidão da Justiça em condenar os corruptos e  de outras práticas como a impunidade, o foro privilegiado, o segredo de justiça, a falta de celeridade dos organismos de controle e do compadrio que ainda existe entre os integrantes  das elites do e no poder. Podemos resumir dizendo que é o mesmo que deixar a cargo das raposas estabelecer as leis que devem defender as galinhas, ou ao vampiro regular o funcionamento do banco de sangue. O caso do Mensalão é,  na verdade, uma exceção. Afinal, tanto antes quanto durante e após tal escândalo inúmeros casos de corrupção foram denunciados, principalmente pela imprensa. Foram “investigados”, mas a grande maioria acabou em pizza. Falta seriedade e compromisso com a ética, a transparência e a decência no exercício das funções públicas no Brasil, tanto os cargos e funções  ocupadas por nomeação quanto resultado de eleições.

A corrupção independe dos partidos políticos?

Juacy - A corrupção é praticamente endêmica no Brasil, está  entranhada em todas as  camadas sociais, todas as instituições, inclusive nos partidos políticos. 

Existe uma consolidação do PT como o partido do proletariado, e do PSDB enquanto um partido da classe média?

Juacy -  Nem um e nem outro. Nem o PT representa o proletariado, e muito menos o PSDB representa a classe média. Ambos representam os interesses de seus dirigentes, seus donos e dos grupos econômicos e financeiros com os quais, como partidos que esteve ou esteja no poder.

Que papel no espectro ideológico está reservado ao PMDB?

Juacy - Estar sempre com quem estiver no poder como força coadjuvante e buscando o usufruto que as alianças possam oferecer aos seus caciques, dirigentes ou seus quadros, que também ajudam o PT a aparelhar  a administração pública brasileira, inclusive as estatais

Por que o PMDB está sempre se dividindo?

Juacy - A divisão é aparente, da mesma forma que as divisões que existem no PT, no PSDB ou em qualquer outro partido. É divisão muito mais em função do fisiologismo que marca os partidos e muito menos de ordem ideológica, filosófica ou doutrinária.

Em sua opinião, é possível acabar com a corrupção no Brasil?

Juacy - Como brasileiro, contribuinte e cidadão  eu gostaria de acreditar que um dia o Brasil poderá acabar com a corrupção. Mas em sã consciência, não acredito. Se pudesse faria minha a célebre frase de Rui Barbosa “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto.

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