terça-feira, 30 de abril de 2013


O CAOS URBANO

JUACY DA SILVA

A idéia de caos está associada a alguma realidade econômica, social, política ou territorial que foge `as normas estabelecidas ou o que as pessoas desejam como forma de vida de acordo com princípios de harmonia e convivência em coletividade.

Assim, podemos falar de caos politico quando um país, região ou localidade vive em meio a conflitos intermináveis ou onde a ausência dos poderes constituídos propicia a chamada “lei do mais forte”. Podemos falar também em caos econômico quando as regras que regem as leis macro-econômicas deixam de ser cumpridas e isto acarreta situações como inflação fora do controle, especulação,  desabastecimento, altas taxas de inadimplência, descumprimento de contratos, qualidade dos produtos que afetam a saúde e o bolso do consumidor.

Enfim, em todos setores da sociedade quando o poder público está ausente, por omissão deliberada por parte de seus agentes, o caos acaba favorecendo os especuladores e os mais fortes em termos de relações econômicas, sociais ou políticas. O caos, neste sentido, é a antítese da ordem, da harmonia, da segurança e da responsabilidade coletiva.

A evolução demográfica principalmente nas últimas décadas tem demonstrado que o mundo, todos os países em menor ou maior grau, vem experimentando uma concentração populacional cada vez maior nas cidades, principalmente com o surgimento de grandes áreas metropolitanas com mais de cinco, dez ou vinte milhões de habitantes. Enquanto esta concentração populacional aumenta a gravidade dos problemas os poderes públicos não possuem capacidade e vontade política efetiva para  enfrentar e equacionar tais problemas.

Neste sentido, a evolução do processo de urbanização no Brasil e em dezenas de países, principalmente nos sub-desenvolvidos e emergentes, tem ocorrido em meio a um caos permanente, agravando cada vez mais os eternos problemas que afetam a vida das pessoas. Caos é também a antítese do planejamento e, em decorência, da falta de controle da ocupação do espaço urbano, que ocorre muito mais em função de invasões, desrespeito `a propriedade pública e particular, ao descumprimento das leis que visam estabelecer parâmetros para o desenvolvimento urbano. O caos urbano está também associado `a degradação ambiental das cidades e regiões metropolitanas afetando diretamente a qualidade de vida das pessoas.

Podemos identificar o caos urbano não apenas nas periferias urbanas mas também em áreas as vezes consideradas “nobres”, onde não existem pavimentação, limpeza das ruas, coleta de lixo, onde diversos obstáculos dificultam as pessoas a andarem com segurança devido `a falta de calçadas, obstáculos de toda natureza, buracos, mato, entulhos e lixo acumulado, incluindo carros estacionados sobre as mesmas obrigando pedestres a andarem no meio da rua afetando a segurança das pessoas.

Além desses aspectos físicos, podemos falar de caos urbano quando a população não desfruta de padrões de saúde e de saneamento adequados, segundo parâmetros técnicos ou recomendados por organismos internacionais especializados. O caos da saúde se reflete nas intermináveis filas de pacientes `a espera de atendimento,  ao sofrimento de uma mulher que necessita ser atendida por ter entrado em trabalho de parto ou de acidentados que precisam “curtir” as dores do sofrimento, a falta de pessoal especializado para atender a população, a falta ou obsolescência de equimentos ou até mesmo uma vaga em um hospital ou em uma UTI.

Podemos identificar o caos urbano pelo aumento da violência, ao mêdo que as pessoas sentem sem ter a quem recorrer, a impunidade que os bandidos e assassinos continuam desfrutando graças a um ordenamento jurídico que privilegia os “fora da lei” e acaba punindo as pessoas de bem que trabalham e pagam seus impostos e não têm segurança e liberdade para viverem em paz, ante a omissão das autoridades, a  incapacidade e ineficiência dos poderes constituídos.

Finalmente, podemos perceber o caos urbano na área da acessibilidade, mobilidade, trânsito e transporte urbano que é um verdadeiro campo de batalha entre carros, motos e pedestres, onde quase sempre quem sai perdendo são os últimos. Só nesta área a cada ano mais de 40 mil pessoas perdem a vida. Somente na última década, entre 2000 e 2010 nada menos do que 388.995 pessoas morreram vítimas de acidentes de trânsito, a grande maioria nas cidades. Neste setor o Brasil está entre os oito países com os piores índices/taxas de mortes para cada grupo de 100 mil habitantes.

Como se vê, o caos urbano é um dos mais sérios problemas que nosso país enfrenta e parece que a realidade teima em desmentir os belos e demagógicos discursos de nossas autoridades para infelicidade do povo, eleitores e contribuintes! Isto é Brasil, mas parece que o povo está feliz com seus governantes, os quais se eternizam no poder!

JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador de Hipernotícias e de outros veículos de comunicação. Email professorjuacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com


 

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