terça-feira, 16 de julho de 2013


PENSAMENTO E AÇÃO DE FRANCISCO

JUACY DA SILVA

Na próxima terça feira, 23 de julho de 2013, quando abrir a 23a. Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, o Papa Francisco, com certeza fará um pronunciamento que deverá marcar sua presença e passagem pelo Brasil, agora como o Sumo Pontífice da Igreja Católica, com mais de um bilhão de fiéis ao redor do mundo.

Desde a sua escolha para substituir Bento XVI, que acabara de renunciar, Francisco tem encantado não apenas católicos/as, mas também pessoas de outras religiões ou mesmo aquelas que não professam nenhum credo religioso. Sua forma simples, humilde e solidária de ser e de viver tem inspirado e deverá inspirar uma grande transformação na Igreja Católica e seu carisma, com certeza, deverá ser usado para contribuir para a resolução de vários conflitos e contradições que desafiam o mundo contemporâneo.

Além de sua primeira Encíclica, apresentada ao público recentemente, que deve comportar uma análise especial por parte da Igreja e de quem deseja entender o pensamento, as ações do Papa e os rumos que pretende estabelecer para a caminhada da Igreja Católica durante seu pontificado, que, a meu ver, muito se aproxima do papado de João Paulo II e deverá marcar um novo tempo nas relações do catolicismo com as demais religiões e do Vaticano com os demais Estados no âmbito da política internacional.

Gostaria de destacar algumas frases e exortações de Francisco que podem indicar pistas para compreender seu pensamento e formas de ação.

Um cristão, se não for revolucionário nos tempos atuais, não é cristão”, parte de seu pronunciamento em 17/06 por ocasião da abertura do simpósio eclesiástico da Diocese de Roma. Na verdade o Papa não está conclamando as pessoas a pegarem em armas e promoverem a derrubada de governos, mesmo que sejam ditatoriais e corruptos, mas sim no sentido de que o cristão deve viver o evangelho em sua plenitude, não compactuar com a injustiça, com a exclusão social, com o consumismo materialista, enfim, ser revolucionário é compromisso de todos que almejam uma sociedade justa, desenvolvida e humana.

Quem de voces chorou pela morte desses irmãos e irmãs? Em 08/07, por ocasião de sua viagem de barco pelo mediterrâneo, sobre o sofrimento e morte de milhares de imigrantes ilegais que arriscam a vida para entrar na Europa. É um gesto de solidariedade a milhões de imigrantes ilegais ou legais que sofrem perseguições pelo mundo afora, inclusive no Brasil.

Na vida cristã e na Igreja também há estruturas antigas e frágeis. Devemos renova-las”. Esta é uma condenação `a burocracia e desvirtuamento que as vezes tem afetado profundamente a Igreja e a desviado de sua doutrina e mensagem cristã. Em 06/07, Francisco exorta os católicos que não temam a reforma que a Igreja precisa fazer com urgência, para voltar `as suas origens cristãs, incluindo a condenação da burocracia e a corrupção do Vaticano e de seu Banco.

O homem precisa de conhecimento e da verdade, porque sem eles não se mantém em pé”. Trecho de sua primeira Encíclica, escrita por Francisco, ao lado de Bento XVI. A base desta afirmação é o evangelho quando Cristo dizia “conhecereis a verdade e Ela (a verdade) vos libertará”. A Verdade era o próprio Cristo, único caminho para a salvação e a transformação da vida das pessoas. O conhecimento, por sua vez, é o antídoto para se combater a ignorância e buscar novos patamares de desenvolvimento que possibilitam uma vida mais dígna a todos os seres humanos. Aqui se abre uma porta para um diálogo mais profícuo entre religião e a ciência.

São Pedro não tinha conta bancária” e com certeza, mesmo que Francisco não tenha mencionado de forma explícita, com certeza a Igreja primitiva não tinha banco, como atualmente acontece com o Banco do Vaticano, envolvido em práticas pouco éticas, para não dizer corruptas. Esta frase foi pronunciada por Francisco, em 11 de junho passado, durante homilía na Capela  Santa Marta, defendendo uma Igrreja pobre, voltada aos pobres, sem opulência e longe dos grandes conglommerados financeiros nacionais e internacionais que por suas ações acabam contribuindo para a concentração de renda e a exclusão social. Insere-se, também, em suas críticas `a luxúria e pompa que a Igreja vive em alguns lugares e tempos, voltada para uma mentalidade materialista.

Deus não pertence a nenhum país”, e com certeza a nenhuma religião. Alocução durante a solenidade em comemoração ao Dia Internacional contra o trabalho e a exploração (inclusive sexual) infantil, em 16 de junho último. Além da solidariedade `as crianças vítimas de abuso sexual e exploração, o Sumo Pontífice enfatiza que este é um compromisso de todos os países, religiões, grupos sociais, pessoas e que a base desta cruzada é o amor cristão, a solidariedade e o respeito pela dignidade humana, principalmente dos mais vulneráveis.

Um carro é necessário para fazer um monte de trabalho, mas, por favor, escolha um mais humilde”. Em 06 de junho Francisco disse que lhe doía ver sacerdotes, religiosos, religiosas, enfim, leigos, fiéis se deleitando com a luxúria, com a ostentação enquanto bilhões de pessoas lutam pela mera sobrevivência. É a exortação de que deseja uma “Igreja pobre, voltada aos pobres”, alocução quando de sua eleição para ocupar o trono de São Pedro.

Ao longo desses meses Francisco não tem se cansado de dar exemplo de humildade, como ao recusar os aposentos luxuosos do Vaticano, ao recusar usar transporte aéreo especial, exigindo que sua viagem ao Brasil seja feita em voo de carreira regular (talvez este devesse ser um exemplo a ser seguido pelos nossos governantes que com frequência usam jatinhos da FAB para irem a festas, jogos de futebol, casamentos; governadores usando helicópteros para seus deslocamentos de finais de semana para casas de veraneio, levando de carona amigos, parentes, animais de estimação, tudo `as custas do contribuinte). Durante sua estada no Brasil recomendou que deseja usar aposentos comuns e semelhantes aos utilizados pelos demais cardeais, bispos e arcebispos, dispensando qualquer tratamento especial ou “VIP”, como tanto gostam nossas autoridades!

Ao longo desses poucos meses em que está investido como Sumo Pontífice, Francisco não tem medido palavras, nem atos para demonstrar que foi escolhido para ser o Papa das grandes transformações que a Igreja está clamando há décadas. Autoridade, humildade, carisma, solidariedade e compromisso com os excluidos tem sido e deverá ser a marca de seu pontificado. Aos poucos a Igreja ao redor do mundo, inclusive nas Dioceses, paróquias e pequenas comunidades espalhadas por centenas de países, começa a respirar e a viver um novo tempo.

A presença de Francisco, o papa dos humildes, deverá aquecer os corações e a mente não apenas de católicos, principalmente a juventude, mas todo o povo brasileiro e latino-americano, é a Igreja que se renova e se transforma para transformar o mundo! Sinais dos tempos!

JUACY DA SILVA, professor universitário, UFMT, Mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

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