terça-feira, 28 de janeiro de 2014


ROSA  PARKS E OS ROLÉZINHOS

JUACY DA SILVA

Apesar das diferenças  de tempo e de espaço, podemos tentar traçar um certo paralelo entre a luta pelo fim do racismo e da discriminação racial nos EUA com as manifestações populares que vem ocorrendo ultimamente no Brasil, incluindo este mais recente movimento denominado de “rolézinho”. Afinal, tanto o primeiro quanto o segundo estão relacionados com a questão dos direitos fundamentais da pessoa humana, como a liberdade de ir e vir, de frequentar espaços públicos, incluindo estabelecimentos comerciais privados, liberdade de reunião, de manifestação, enfim, a busca de uma igualdade que transcende a cor da pele ou da origem étnico-racial, status social e local de residência.

Tanto os EUA quanto o Brasil, em seus primórdios, desde a colonização até quase o final do século 19, tiveram suas economias baseadas  no trabalho escravo, as pessoas  tinham o mesmo status que animais não racionais, as quais podiam ser compradas,vendidas ou trocadas e sujeitas a um regime de extrema violência por parte de seus senhores, tendo o Estado como garantidor desta ordem política,social e econômica muito perversa, em se tratando de dignidade intríseca do ser humano  Todas as instituições, inclusive as Igrejas Católica no Brasil e protestantes nos EUA coonestaram tais praticas desumanas, apesar de pregarem a figura de um Deus, pai de todos os seres humanos.

A escravidão nos EUA foi abolida ao final da Guerra civil, que custou 750 mil de vidas, conforme o historiador  David Hackers, em notícias veiculada no NY times em 02 de abril de 2012 e prejuizos sociais e economicos consideráveis ao país, através da Emenda Constitucional número treze que foi aprovada em Abril de 1864 no Senado, em   janeiro de 1865 na Câmara Federal e ratificada por dois terços dos Estados  em dezembro de 1865. No Brasil a prática da escravidão foi extinta em 13 de maio de 1.888, por Ato da Princeza Isabel.

Tanto nos EUA quanto no Brasil os ex-escravos e seus descendentes continuaram  e continuam a ser discriminados, lá de maneira formal, através de uma legislação  segregacionista e aqui através de inúmeras formas de manipulação para fazer crer que tanto brancos quanto negros e seus descentendes são iguais em direitos e oportunidades, o que está longe de ser verdade.

No caso dos EUA , em práticamente todos os Estados do Sul e alguns de outras regiões tanto a nível Estadual quanto local as práticas discriminatórias foram estabelecidas através de legislação que proibia negros e seus descendentes de frequentarem os mesmos espaços e ambientes que a populaçao branca. Isto incluia,por exemplo,a criação de escolas e universidades só para negros, até mesmo igrejas adotaram tais práticas.  Era e ainda e comum, existir emu ma mesma cidade uma igreja de uma denominação frequentada só por brancos e outra da mesma denominação só para negros e seus descendentes. Casamentos inter-racias eram considerados crimes em vários Estdos.

Em lugares públicos era “normal” a existência de banheiros para negros e  outros separados para brancos, barbearias para negros e barbearias para brancos e assim por diante. O Sistema de transporte público em ônibus ou trens  indicavam que alguns  assentos mais a frente eram  destinados aos passageiros brancos e os do fundo/atraz  eram para negros, com a determinação de que se os assentos para brancos estivessem livres os negros não podiam se sentar, mas se faltassem lugares para brancos ai os passageiros negros deveriam ceder os lugares aos passageiros brancos, sendo obrigados a descer  ou a continuarem a viagem de pé.

Em várias cidades existiam e ainda existem certas áreas  onde só vivem negros e atualmente descendentes de outros grupos minoritários e outras onde só vivem brancos. Como o Sistema escolar é baseado na residência, isto também acaba reforçando um Sistema escolar discriminatório em relação a cor e origem étnica dos estudantes.

Rosa Parks , uma negra que residia em Montomery, capital do Alabama, no dia 01 de dezembro de 1955, quando retornava do trabalho embarcou em um ônibus e ocupou um lugar reervado para negros, logo atraz dos bancos reservados para brancos. O ônibus logo ficou lotado, alguns pontos depois um passageiro branco entrou no ônibus e como nao havia mais assento  destinado aos brancos, o motorista, que pela Lei municipal tinha poder de polícia, exigiu que a mesma se levantasse e cedesse seu lugar ao passageiro branco, no que não foi obedecido. ato  continuo o motorista, que também tinha função policial a prendeu e levou para Delegacia.

O resto da estória e suas semelhanças com os “occupy”  e os rolézinhos, será objeto da próxima reflexão. Todos estão relacionados com as práticas da não violência como instrumento de luta em defesa dos direitos civis, principalmente contra a discriminação e a exclusão política, social e econômica. Esta é uma realidade universal que transcende as fronteiras nacionais e o tempo. É  a luta por uma sociedade onde a igualdade, a liberdade e a justiça devem caminhar juntas!

JUACY DA SILVA, professor universitário, Titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia.Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014


ROLÉZINHO E EXCLUSÃO

JUACY DA  SILVA

Diferente dos discursos do Governo federal, incluindo  todos  os partidos que o integram, a começar pelo  PT,  PMDB  e demais que na  verdade não passam de sub-legendas nesta coalisão de poder,  a idéia de que o Brasil  está promovendo a inclusão de grandes massas na sociedade de consumo, daí  um certo  “endeusamento”  da chamada  “nova” classe média,  a exclusão social, econômica, política, cultural e espacial está muito bem enraizada e pouca  coisa tem mudado de fato nas últimas décadas.

Por  vários meses em 2013 o país presenciou grandes manifestações de massa  em diversas capitais e grandes cidades, quando inúmeras reivindicações foram estampadas na forma de protestos contra tarifas de transporte coletivo e acabaram extrapolando para outros setores, chegando mesmo a descambar para um certo nível de violência, tanto por parte das forças de repressão de governos que se dizem  democratas e defensores dos direitos dos excluídos. 

De forma oportunista e cínica tanto governantes quanto partidos e  entidades  sindicais, estudantis,  da sociedade civil organizada  e outras que outrora representavam  e defendiam  os direitos dos trabalhadores , estudantes e massas excluídas,  mas que acabaram  cooptadas pelo Governo , tentaram pegar carona em tais movimentos, no que foram  rechaçadas prontamente pelos manifestantes.

A maior consequência foi a queda da popularidade tanto da Presidente Dilma, quanto de seu governo e de vários aliados, enfim, o povo, nas ruas,  demonstrou que deseja  um país livre da corrupção, da demagogia, da incompetência e da imoralidade pública.

Com muito “jogo de cintura” e gastos com meios de comunicacão, aos poucos o  governo conseguiu recompor sua lua de mel com as massas excluídas e voltou a “nadar  de braçada”,com vistas `as  eleiçoes, quando os donos do poder desejam ali permanecer para continuarem usufruindo de suas benesses.

De repente, não mais do que de repente, surge  uma nova forma de manifestação popular integrada por jovens que vivem nas periferias urbanas mas que aos poucos começaram a experimentar o gostinho de tudo o que a grande mídia e a máquina de propaganda econômica,  empresarial e governamental impõe  como novos padrões de consumo. Esses grupos de excluídos ou semi-incluidos  também desejam participar dos  banquetes do Rei.

Sabemos que  nas periferias urbanas , sem infra-estrutura , sem opções de lazer, sem condições de trbalho dígno, sem transporte coletivo de qualidade, sem segurança, sem serviços urbanos de qualidde nas áreas de saúde e de educação, vivem milhões de brasileiros, a grande maioria constituida de pobres, negros, com baixos índices de escolaridade, altos índices de desemprego e sub-emprego.

Muitas vezes, como é o caso de SP  , do   Rio de Janeiro , de Salvador, BH, Recife e outras capitais e regiões metropolitanas as favelas e moradias sub-humanas  estão  bem próximas ou ao lado de verdadeiras mansões e nichos de consumo representados  por shopping  centers de alto luxo frequentado por  integrantes da verdadeira classe média e da alta burguesia.

Essas áreas até recentemente eram consideradas seguras e um verdadeiro “oasis” para o deleite das elites e assemelhados , enfim, verdadeiros “apartheid” sociais em um país que tanto se orgulha de sua democracia racial e social.  Eram espacos guardados por seguranças particulares,  que agem com extrema violência contra pobres e negros, como aconteceu em um shopping em Cuiabá onde um inocente foi espancado até a morte, em nome da defesa dos privilégios das camadas nobres que não querem se misturar  com a ralé.

Ai é que surgem os rolézinhos como desafio a esta meia inclusão. O questionamento que vem a tona é se de fato o processo de desenvolvimento brasileiro é para todos ou para um grupo privilegiado? Com certeza  vamos conviver com os rolézinhos cada vez mais desafiadores do “status quo”!

JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e apoentado UFMT, mestre em sociolgia.Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.profesorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014


DESEMPREGO E EXCLUSÃO

JUACY DA SILVA

O nível de emprego em uma sociedade é determinado por diversos fatores, tais como: índices de crescimento econômico (PIB), estágio de desenvolvimento tecnológico do país, grau de informalidade da economia; peso relativo dos diversos setores (agricultura, extrativismo, indústria,comércio e serviços), índices de urbanização e outros mais.

Um país subdesenvolvido, cuja economia é altamente dependente dos setores agropecuário e extrativistas possui muito menos capacidade de gerar emprego do que outro que tem sua base econômica nas atividades industriais, serviços e comércio. De forma semelhante, um país onde a informaliade é grande os índices de desemprego podem ser aparentemente pequenos, mas a ausência de postos de trabalho formais acaba gerando insegurança futura, principalmente  no aspecto previdenciário e de renda.

Há poucos dias a OIT – Oganização Internacional do Trabalho, organismo especializado da ONU para as questões de emprego e desemprego, apresentou seu mais recente relatório, onde são destacados aluns aspectos que todos  os estudiosos deste tema e principalmente governantes  responsáveis pela definição de políticas, estratégias e ações de inclusão social e econômica, deveriam estar bem atentos.

É ilusória a idéia de que podemos promover a inclusão de milhões de pessoas através de políticas compensatórias, de assistencialismo ou mesmo transferência  direta de renda por parte do Estado e do Governo. Essas estratégias e ações podem até ter alguns resultados imediatos e criar a sensação de que o país  esteja mudando e que a miséria, a exclusão social e econômica  ou até mesmo a fome estejam sendo reduzidas.

A médio e longo prazo nenhum país pode sustentar um modelo deste pela simples razão de que a verdadeira inclusão só ocorre via oportunidades de trabalho , emprego decente e salários reais dignos, que alavanquem a capacidade de compra dessas massas excluídas do Mercado de consumo e aumente o dinamismo econômico.  Medidas assistencialistas e paternalistas acabam gerando maior dependência dessas pessoas, desestimulando-as a busca de trabalho, aumento dos gastos públicos, deficit nas contas governamentais , muita corrupção e manipulação política  e eleitoral, favorecendo muito mais os donos do poder do que a população excluida.

O recente relatório da OIT apresenta algumas premissas que devemos refletir sobre as mesmas, tanto para melhor compreender o que esta  acontecendo a nível mundial quanto do Brasil em particular. Essas premissas são as seguintes:

1)Os índices de crescimento do PIB mundial e das várias regiões nos próximos anos vão ser menores do que os experimentados antes da crise de 2008/2009;

2)Crescimento econômico baixo vai dificultar a possibilidade de gerar os 42 milhões de postos de trabalho por ano que são necessários para atender os  202  milhões de desempregados existentes em 2013 e mais alguns milhões que a cada ano estão chegando ao Mercado de trabalho;

3)As causas ou fatores que desencadearam a crise econômica e financeira mundial ainda não foram totalmente superados e continuam sendo uma ameaça tanto para a recuperação de alguns países quanto a possibilidade de ocorrerem novas crises;

4)O Sistema financeiro mundial e de vários paises continua em estado de crise latente  e é o verdadeiro calcanhar de aquiles da economia mundial, podendo desarticular todo o sistema novamente;

5)A renda do trabalho continua aumentando, mas em rítimo muito mais lento do que a produtividade dos demais fatores de produção, isto afeta a expansão do Mercado de consumo mundial e os países em particular;

6)No contexto dos debates do pós-2015, quando encerra o periodo dos objetivos do milênio, constata-se que a redução da pobreza  da classe trabalhdora tem sido muito pequena, tanto em relação `as metas fixadas quanto em relação `as expectativas dessas  grandes massas. Tal fato pode gerar crises políticas e sociais e afetar também a economia como um todo e diversos países, principalmente os emergentes;

7)O nível de informalidade e de relações de trabalho espúrias e `a margem do marco legal e ético estabelecido em convenções da ONU ainda é muito grande, principalmente nos países subdesenvolvidos, também nos emergentes e em alguns países europeus.

Oportunamente tentarei apresentar alguns dados relativos `a questão do desemprego mundial e alguns outros sobre o Brasil e América Latina, os quais não são nada animadores!

JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre  em sociologia. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy