quarta-feira, 30 de setembro de 2015


OS PASSOS DE FRANCISCO

JUACY DA SILVA

Diferente  de seu antecessor, Bento XVI, que em oito anos  de papado visitou apenas 24 países, o Papa Francisco, com apenas dois anos e meio  já visitou 16 países, e, neste aspecto  assemelha-se  muito ao hoje, São  João Paulo II, que era chamado de o Papa peregrino, pelas suas constantes viagens apostólicas a mais de 128 países durante  seu pontificado de 17 anos.

Além de um vigor apostólico Francisco aos poucos vai consolidando seu pensamento e com coragem tem tocado aspectos controvertidos tanto dentro da Igreja quanto em questões seculares, exortando fiéis católicos  e também de outras confissões  religiosas  e cutucando governantes  e líderes mundiais sobre questões  econômicas, sociais , políticas e culturais.

Francisco exorta os católicos que a Igreja deve  ser pobre, missionária, inserida na comunidade, cultivando  a fraternidade, a solidariedade, principalmente em relação aos excluídos e marginalizados, ou seja, seguir os passos de Jesus no compromisso com a verdade, com o amor e com a caridade voltada aos necessitados e  que sofrem.

Mesmo sem tem o poder  da força, das armas, sem ser  um senhor da Guerra, Francisco não se cansa de criticar o egoismo, o materialismo, o consumismo, a violência, as guerras, a insensibilidade ante o sofrimento humano, como ocorre com milhões de refugiados e discriminados pelo mundo afora.

Depois de costurar  a  distenção entre  EUA e Cuba, que possibilitou o reatamento das relações diplomáticas entre os dois países, Francisco não titubeou ao falar perante o Congresso Americano, principalmente  `a maioria republicana, conservadora, de que a distenção só pode estar completa  quando houver  o desbloqueio  economico.  Ainda  no Congresso americanao não  titubeou em dizer que a pena de morte é  uma verdadeira aberração e sugeriu que os EUA  acabem  com a pena capital  e apostem mais na  recuperação de criminosos.

Durante três  dias de visita a Cuba, encontrou-se  com os irmãos Castro que estão no poder há mais de seis décadas e durante  anos restrigiram  as  liberdades, inclusive  a religiosa, esquecendo-se de que a grande maioria da população, mais 90%  dos cubanos são católicos ou professam  outras religiões  cristãs.  Ao fazer  uma crítica direta às ideologias totalitárias  conseguiu  dar o seu recado em favor da democracia, da liberdade e dos direitos das pessoas.

Outro momento  significativo nesta viagem de Francisco foi quando fez seu pronunciamento na  ONU, dando ênfase ao fim as guerras, condenando  a cultura da morte e pedindo um apoio  mais efetivo, por parte dos líderes mundiais,  aos imigrantes que fogem de áreas em Guerra, principalmente em países do Oriente Médio e norte da África. O ponto alto foi quando falou sobre  as questões ambientais,  principalmente  as mudnças climáticas, enfatizando que não podemos deixar  par as próximas gerações  o enfrentamento deste grave desafio, antes que seja tarde demais e a própria humanidade corra risco de pagar  um custo elevadíssimo. Aproveitou também  para criticar  a perseguição de cristãos  em países com maioria islâmica e contra o fanatismo religioso que ,  em nome de uma fé distorcida, destroem  as pessoas.

Condenou mais uma vez, como o fez em sua Encíclica Verde    poucos mesess, o uso  desenfreado dos recursos naturais, a  degradação  dos ecossistemas, motivados pela  busca exagerada do lucro e do consumismo,  que  estão destruindo o planeta.

Na ONU, perante o maior número de chefes de Estado e de Governo seu recado foi incisivo ao dizer que “este é o nosso pecado: a exploração desmedida da terra, a  degradação do  meio ambiente, não permitindo que ela (a  terra)  nos dê o que pode e deve dar”. Este  foi um recdo direto `aqueles que, na busca do lucro rápido, destroem  o solo, envenenam os cursos d’água,  abusam dos agrotóxicos,  enfim, destroem a natureza e a saúde humana.

Outro  recado de Francisco  foi uma crítica direta ao capitalismo, a usura, a concentração de renda que ajudam a marginalizar  e empobrecer bilhões de pessoas, isto é  uma afronta  `a dignidade  humana. O combate  `a fome  e a pobreza so é alcançada através  de formas produtivas mais solidárias.

Na Filadelfia,  berço  do nascimento dos EUA  como um país independente, convocou  tanto católicos quanto não católicos a reviverem os princípios e valores defendidos pelos chamads “pais  da pátria”, incluindo  as  liberdades  em geral, o humnismo,  a tolerância  e  a solidariedade, principalmente  em relação aos  imigrantes, inclusive demonstrando solidariedade  aos imigrantes ilegais, ao receber o apelo de uma menina nascida nos EUA  e filha de imigrantes mexicanos ilegais,   que pediu a Francisco  para interceder junto ao Presidente OBAMA  para que seus pais não sejam presos e deportados. Este  foi um dos muitos momentos emocionantes  da visita de Francisco, ao lado da  visita que fez a um presidio na Pensilvânia,  exortando os detentos a se arrependerem de seus crimes , única forma de poderem se reintegrar  na sociedade e viverem de acordo com as normas sociais, jamais usando da violência como forma de ação.

Da  mesma  forma, Francisco  reuniu-se com um grupo de pessoas que , em suas infâncias e juventude foram  abusadas  sexualmente por clérigos e disse que os culpados devem ser punidos e que Deus chora em solidariedade a  essas vítimas e que isto é uma mancha, uma vergonha para a Igreja e não pode ser tolerado.

Finalmente, lançou luzes e abriu o debate  em  torno do aborto, da comunhão aos católicos separados  e do casamento ou união  entre  pessoas do mesmo sexo, remetendo  essas e outras questões doutrinárias para o Sínodo que irá  debater em Roma ,próximamente, as questões  relacionadas com a família, célula mater de qualquer sociedade e grupo religioso, inclusive os católicos.

As  repercusões desta viagem de Francisco,  tanto no meio católico ,quanto de outras religiões, entre políticos, empresários e a mídia, principalmente,  foram extremamente positivas e serviram para reforçar  sua liderança  moral e diplomática. Afinal o Papa  é ao mesmo  tempo a maior autoridade para bilhões de católicos pelo mundo afora e o Chefe de Estado do Vaticano.

Seus passos sempre deixam  um rastro de esperança, de solidariedade, de frternidade e de preocupação com os destinos do planeta  e da humanidade. Siga em frente Francisco, o mundo está ávido por um novo rumo!

JUACY DA SILVA,  professor  universitário,  titular e aposentado  UFMT, mestre  em sociologia, articulista de A Gazeta.  Email  professor.juacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy  Blog  www.professorjuacy.blogspot.com

quinta-feira, 24 de setembro de 2015


AJUSTE FISCAL E DÍVIDA PÚBLICA

JUACY DA SILVA

Há poucos dias o  ex-ministro e  ex-deputado federal  Delfin Neto em entrevista a um jornal de grande circulação nacional, disse com todas as letras “Dilma é  uma trapalhona”,ou seja, mete os pés pelas mãos, ao tentar ser ao mesmo tempo presidente da República, Ministra da Fazenda, do Planejamento e de outros setores mais. 

Desde  o fim do   regime militar os brasileiros foram submetidos a vários pacotes, planos e ajustes, sempre com o mesmo discurso de que é preciso equilibrar as contas públicas, modernizar o estado, elevar o padrão de vida do povo e estimular o crescimento do PIB.  Para que isto seja possível, o aumento dos juros, de mais impostos, o desemprego, o arrocho salarial, tanto  de servidores quanto dos trabalhadores da iniciativa privada  tem sido uma constante.

Convivemos com planos e pacotes que foram concebidos na calada da noite, em gabinetes com ar refrigerado e em conchavos com um Congresso quase sempre subserviente aos ditames do poder executivo. Tivemos confisco de gado no pasto, prisão de pecuaristas, confisco da poupanca  e depósitos bancários, de forma arbitrária como  aconteceu com os planos Collor, Bresser, Funaro  e outros mais.

Na esteira  dessas formas improvisadas e autoritárias de governar, sempre tem ocorrido um aumento brutal da carga tributária, e isto não é diferente neste novo pacote  enviado ou a ser enviado ao Congresso Nacional pelo Governo Dilma.

Na  verdade, como o diagnóstico  da crise está  errado, o chamado ajuste fiscal do governo Dilma é, na verdade, uma   grande farsa e um grande engodo, pois impõe  ao povo mais humilde, aos trabalhadores, servidores públicos e classe média baixa  o ônus do ajuste e, em troca, ajuda o grande capital, os banqueiros, os agiotas nacionais e internacionais e os grandes grupos  econômicos, inclusive as multinacionais, tudo com um discurso mistificador e manipular, usando até  mesmo linguagem de esquerda  ou pseudo-esquerda, para enganar os incautos, como fez durante a campanha eleitoral que a levou `a  reeleição.

Todos sabemos que a  corrupção ,  a incompetência, o aparelhamento da administração pública por parte do PT  e seus aliados, o assistencialismo, o populismo, os privilégios  acabam levando ao desequilíbrio das contas públicas.

Todavia, o nó górdio ou  calcanhar  de aquiles da crise brasileira, está em outro lugar, que pouca luz  tem sido lançada sobre este aspecto, com a finalidade de proteger grandes e poderosos interesses econômicos e financeiros. Refiro-me  `a divida bruta do Brasil, de responsabilidade direta  do Governo Central, a quem cabe “administrar” , pagar juros escorchantes   e a “rolar” uma divida impagável que, mesmo gastando entre 42%  e 48% dos recursos orçamentários da União todos anos, só tem aumentado de forma absurda.

Ao  final do Governo FHC, em 2002,  e início do Governo Lula, este mesmo  em  cujo governo aconteceu o MENSALÃO E O PRETOLÃO, a dívida pública bruta era de R$ 838,8 bilhões  de reais. Durante os governos Lula e Dilma, em doze anos, foram  gastos mais de 6,1  trilhões de reais a título de juros , um pouco de amortização e ` a  rolagem da divida.

Mesmo  assim, entre o início do governo Lula e o  ano em curso (2015), a dívida pública bruta passou de R$838,8 bilhões para R$4,3  trilhões, um  aumento de quase  3,5 trilhões de reais , isto representa nada menos do que 65,5% do PIB em 2015 e deverá aumentar  este percentual pelos próximos dois anos, 68,4%  em  2016  e 68,8%  em  2017.

Com a  desvalorização  cambial  a dívida externa do Brasil que no final de agosto era de  U$ 346 bilhões de dólares, apesar de Lula ter feito a maior propaganda de que havia  pago o FMI,  o governo brasileiro  voltou  a endividar-se  em dólares, com o câmbio em R$3,55 naquela  data e seu fechamento  na última  quarta feira a R$4,15 , a dívida  externa  em real  passou de R$1,128,3  trihões  para R$1.434,5,   ou seja, o tesouro nacional vai ser onerado em mais 306,2  bilhões de reais  em pouco mais de 24  dias. Durante  os últimos doze anos o Tesouro Nacional injetou mais de R$ 450  bilhões  de reais no BNDES e outros bancos públicos, via emissão de títulos da dívida pública, pagando juros de até 14,5% ao ano, enquanto o  referido banco concedia empréstimos   para grandes grupos econômicos nacionais e  multinacionais a juros de 3,5%  ao ano, gerando um enorme  prejuizo ao  Tesouro Nacional, vale dizer aos contribuintes.

Enquanto não  for feita  uma auditoria internacional independente, ou a chamada auditoria cidadã, em torno da dívida pública brasileira, que também  inclui a dívida de Estados e Municípios, o povo , enfim, os contribuintes  estarão sendo escravizados por um Sistema de dívida publica que é  impagavel e ajuda, na verdade, a acumulação de capital dos bancos e grandes intesses privados, em detrimento do povo  Perante  esses números o ajuste fiscal de Dilma e Levy é  uma grande piada, de ma gosto, é claro.

JUACY DA SILVA,  professor  universitário, titular e aposentado UFMT, mestre  em sociologia, articulista de A Gazeta. Email  professor.juacy@yahoo.com.br  Blog  www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

sábado, 19 de setembro de 2015


MOVIMENTO PARLAMENTAR PRÓ-IMPEACHMENT

JUACY DA SILVA

Há pouco mais de dez  dias foi constituído, na Câmara Federal,  um movimento supra-partidário, que já conta  com mais de duzentos parlamentares, visando aprofundar as discussões e, quando for oportuno,  pautar  o tema, ou seja, iniciar as discussões sobre o processo de impeachment da Presidente Dilma.

Existem protocolados na Câmara Federal 17  pedidos de impeachment da Presidente,  sendo que o último, muito bem fundamentado em um documento de mais de 20 laudas, foi inicialmente protocolado pelo ex-Procurador de Justiça de SP,  ex—Deputado Federal,  ex-vice prefeito  de SP e um dos fundadores do PT, HÉLIO  BICUDO, que deixou o PT após o estouro do escândalo do MENSALÃO, envergonhado pela corrupção no Governo Lula.

Na última quarta feira, 16  de setembro , o pedido de impeachment protocolado por HÉLIO BICUDO  foi apoiado formalmente e reforçado juridicamente pelo ex-ministro da Justiça e um dos maiores juristas brasileiros MIGUEL REALE JR, e novamente protocolado na Câmara Federal.

Na ocasião, o novo documento foi entregue diretamente ao Presidente da Câmara Eduardo Cunha, na presença de vários parlamentares, incluindo dirigentes de partidos de oposição, integrantes  de movimentos sociais e da mídia, juntamento com o ex-ministro e a filha de HÉLIO BICUDO, que, pela idade avançada, 93 anos, não pode participar do evento.

Paralelo  a esta entrega e `a formação do MOVIMENTO PARLAMENTAR PRÓ-IMPEACHMENT foi criado um site no dia 09 deste mes de setembro,  como instrumento para estimular a participação popular e também um abaixo assinado que neste final de semana, 19  e 20 de setembrro, deve alcançar UM MILHÃO DE ASSINATURAS. Na manhã  deste sábado estavam faltando menos de tres mil assinaturas para alcançar  esta meta.

Dentro de poucas semanas ou pouco mais de um mes devem vir a público duas decisões importantes que poderão ser a gota d’ água, que estava faltando para acelerar o processo de impeachment da Presidente.  Primeiro, o TCU  deve votar se aprova ou rejeita as contas de Dilma  referentes ao ano de 2014, incluindo as famosas “pedaladas  fiscais”  e outras  irregularidades  apontadas pelos técnicos do TCU e acatadas, em parte pelo Ministro Relator do TCU.

Segundo fato, também dentro de poucas semanas ou meses, o TSE  deverá julgar as contas  de CAMPANHA  DE DILMA e do PT, suspeitas de uso de dinheiro desviado da PETROBRÁS, conforme denúncias de investigados e condenados na Operação Lava Jato/PETROLÃO, que informaram no processo, em delações premiadas  esses fatos, considerados crimes eleitorais, os quais podem sujeitar `a cassação de registro e diplomação da chapa DILMA/MICHEL TEMER.

Não bastassem  esses fatos, Dilma ainda tem contra si e seu governo os mais baixos índices de popularidade que um presidente, em tempos “normais”,  ja teve. Apenas 7% dos entrevistados em pesquisa recente consideram seu governo  ótimo e bom e mais de 70%  dos entrevistados em pesquisas de opinnião pública recentes aprovam o impeachment da Presidente.

Para agravar ainda mais a crise política, o Brasil  enfrenta também uma grave crise econômica, financeira, fiscal ,  orçamentária e ética, chegando ao ponto do Governo Dilma, pela primeira vez na história politica brasileira, ter enviado ao Congresso Nacional uma proposta orçamentária  LOA– OGU – Orçamento Geral da União  com déficit, em meio a uma profunda recessão econômica, um aumento brutal nas taxas de juros, um processo inflacionário descontrolado, uma enorme variação cambial que afeta tanto as contas públicas como re-alimenta a inflação, tendo em vista que diversos produtos e insumos que são necessários ao processo de produção são importados ou quotados em dolar,  que  também contribui para aumentar o tamanho da dívida pública e a elevação dos gastos públicos, em mais de 45% só com pagamentos de juros, encaros e rolagem de uma dívida pública que em julho ultimo alcançou R$2,6 trilhões de reais e que de janeiro a julho cresceu em média pouco mais de 41 bilhões de dólares por mes.  Tendo em vista a brutal desvalorização do real nos últimos meses, tudo leva a crer que a divida pública brasileira deverá ser  superior a tres  trilhões de reais.

Outro fator de agravamento da crise é o ajuste fiscal que coloca sobre os ombros, o bolso e as costas dos contribuintes, principalmente das camadas menos  abastadas o ônus desta conta, fruto da irresponsabilidade, a incompetência do Governo, que continua acuado pela OPERAÇÃO LAVA JATO que a cada dia chega mais perto da cúpula do poder, de direito e de fato.

Apesar do sacrifício imposto pelo governo ao povo brasileiro, o atual  ajuste fiscal, incluindo uma verdadeira  extorsão tributária, praticamente não vai resolver a situação porquanto não vai `as raizes do problema do descontrole das contas públicas , do aparelhamento da máquina pública pelos partidos da base aliada, pela corrupção , a ineficiência do  governo e ao peso que a divida pública tem no agravamento desta crise.

Finalmente, outro aspecto é a falta de rumo do governo  e a fraqueza da presidente, que com suas indecisões não consegue  dar unidade ao governo e perde a cada dias o apoio de sua base de sustentação política e parlamentar, podendo inviabilizar completamente o exerício do poder e corre o risco de acabar sendo tutelada pelo seu partido e por outras figuras que todos conhecemos. Não tem sentido um ex-Presidente articular e comandar reuniões com minstros, parlamentares e praticamente dar o rumo `as  ações do Governo. Um mandatário que abdica ou perde seu poder, acaba virando mera figura decorative  no processo politico e ajuda a destruir as instituições e  enfraquecer a democracia.

JUACY DA SILVA,  professor universitário,  titular e aposentado UFMT, mestre  em sociologia. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog  www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

 

sexta-feira, 18 de setembro de 2015


O BRASIL NÃO AGUENTA MAIS IMPOSTOS

JUACY DA SILVA

Como mencionei em meu artigo da última semana, o aumento da carga tributária está chegando a um nível insuportável em nosso país. No período compreendido entre o início do Governo Sarney em 1.986  e o fim do primeiro mandato da Presidente Dilma, em 2014, a  carga  tributária  total passou de 22,4% do PIB para 37,2%, podendo chegar  a 38%  até  o final deste ano.

 Isto representa um aumento de 66,1%  e indica que a cada ano os brasileiros precisam trabalhar mais para pagar impostos aos governos federal, que fica com 65% do total da arrecadação nacional,  cabendo aos Estados 24%  e aos municípios com apenas  11%.  Em 1986 cada contribuinte precisava  trabalhar 111 dias para pagar impostos e em 2015  são necessários  155  dias de  trabalho.

Segundo estudos da OECD – União Européia, em 2014  o Brasil tinha a maior carga tributária entre os países do BRIC e a segunda maior da América Latina, com 36,6%, enquanto  a Rússia vinha  em segundo lugar com 23%, seguindo-se a China  com 20%, a África do Sul com 18%  e por ultimo a Índia  com 13%, mesmo patamar em  que o Brasil estava em meados dos anos quarenta  do século passado.

Alguns países europeus tem carga tributária superior a 40%, todavia, tais países  devolvem o que os contribuintes pagam na forma de  impostos, taxas  e contribuições na forma de serviços públicos de qualidade  e totalmente universarsais e gratuitos  como segurança pública, educação  desde o maternal até a universidade,  saúde, cuidados com o meio ambiente e assim por diante; diferente do Brasil que tem carga  tributária praticamente igual a tais países e em troca oferece serviços semelhantes aos países mais pobres da Ásia, África , América Latina e Caribe, ou então, nem serviços públicos são oferecidos.

Diante disto, o Sistema tributário acaba sendo, na verdade, uma extorsão institucionalizada pelo Estado e pelos diferentes níveis de governo e, ao mesmo tempo, servindo para alimentar uma estrutura que tem na corrupção, nos privilégios e nos famosos esquemas que contribuem para o enriquecimento ilícito de uns poucos e acumulação  de capital nas mãos dos grandes grupos econômicos e financeiros.

No período  considerado, aos poucos  a União foi transferindo diversos encargos como educação, saúde, meio ambiente, segurança, assistência social, meio ambiente , outras áreas e políticas públicas aos Estados e municípios, mas mantendo uma grande concentração de recursos no âmbito  do poder central.  Com isso, o crescimento da carga tributária nos Estados e Municípios  tem crescido em percentual maior do que da  União e muito maior do que o crescimento do PIB  nacional, estaduais ou municipais.

No período considerado de 1986  e 2014, o aumento da carga tributária federal foi de 53,3%,  dos estados  de 78,7% e dos municípios 195,2%, indicando que está  havendo uma verdadeira sangria dos recursos gerados pelos contibuintes, principalmente  pelas classes trabalhadora e média, enfim, os  mais pobres  da  sociedade. O Estado  brasileiro a cada ano cresce mais e demanda mais recursos para manter uma máquina ineficiente, burocratizada e corrupta.

Apesar dos baixos  níveis de crescimento econômico, o  aumento do desemprego e do sub-emprego, da inflação, ocorridos nos últimos cinco anos, incluindo um certo empobrecimento por parte da população, razão do elevado número de pessoas que estão dependentes de programas assistencialistas do governo, mesmo assim, o Governo Dilma, a título de equilibrar  o orçamento da União para 2016, acaba de abrir  um verdadeiro saco de maldades que terá  como vítimas  o chamado andar de baixo, ou seja, os trabalhadores e a classe média.

Deseja  promover a volta da CPMF, o congelamento dos salários dos servidores públicos, mais cortes nos recursos de diversos ministérios e programas do governo, redução nos níveis de inestimentos e um corte de oito bilhões do Sistema S – Senai, Senac, Senar,que atendem fundamentalmente filhos de trablhadores e da classe média baixa que não tem acesso as univeersidades, principalmente as públicas e de melhor qualidade, e precisam se qualificar melhor para um Mercado de trabalho cada vez mais tecnificado e competitivo.  Esta  é  uma verdadeira facada nas costas de milhões de crianças, adolescentes e jovens que sempre encontraram no Sistema S  uma porta para o progresso individual. Dilma  vai fechar mais esta porta  como está  fechando as portas do FIES  e de outros programas sociais.

Enquanto isto, os banqueiros e os grandes grupos econômicos batem palmas para  este pacote draconiano, como eu mencionei em meu ultimo artigo, faz como um Robin Wood  as  avessas, tira dos pobres  para dar aos ricos. Literalmente dar através  da  renúncia fiscal de mais de 250  bilhões que o Governo Federal concede a grandes grupos econômicos por ano, juros subsidiados, como  os concedidos pelo BNDES  e por outros bancos oficiais  como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.  Ou então pela leniência com os grandes sonegoadores que devem mais de  1,5  trilhões  de reais, além da defasagem na correção da  tabela do imposto de renda ao longo dos últimos 20 anos, escorchando principalmente as pessoas físicas.

A volta  da CPMF, os cortes orçamentários como já ocorreram neste ano em mais de 80  bilhões e que estão afetando diversos setores, principalmente a educação  e saúde, se somam  ao peso dos gastos com juros e financiamento/rolagem  da dívida pública, que a  cada ano consomem mais de 45% dos  recursos do Orçamento Geral da União.  Este ano só  de juros serão gastos 225,2 bilhões com juros e 1,131 trilhões na rolagem da dívida.  A LOA  para 2016  que deverá  ser de 3,0 trilhões, reserva 1,184 trilhões para juros , encargos e rolagem da dívida, ou seja, 39,5% do orçamento.

Somente durante os quatro anos do primeiro mandato de Dilma, o Governo Federal  gastou R$3,157 trilhões de reais com juros, encargos e rolagem da dívida pública interna e externa. A tendência dessa situação é piorar muito nos próximos anos, pois a dívida pública continua crescendo, igual a uma agiotagem, principalmente porque parte do endividamento do Brasil é atrelado ao dolar e com a desvalorização brutal do real que está ocorrendo nos últimos anos  e meses, mais dia menos dias, vamos chegar `a situação da Grécia que foi estrangulada por uma dívida pública impagável. Atualmente o total da dívida pública brasileira  corresponde a 64,1% do PIB. Aí  reside, de fato, o grande estrangulamento das finanças públicas e da crise que estamos vivendo. O resto é apenas uma cortina  de fumaça  para desviar a atenção do povo, que vive alheio `a real situação em que vive o país.

Diante  dessas  distorções, não sentido fazer  um verdadeiro terrorismo fiscal  sobre a sociedade, afinal, um deficit de 31 bilhões em um orçamento de tres trilhões, representa apenas 1%, convenhamos, o buraco é mais em baixo. Enquanto o Governo Federal não realizar  uma auditoria cidadã na dívida pública  e estabelecer  um percentual menor, digamos no máximo de 20%  do orçamento da união para os juros e encargos da dívida publica, iremos assistir um verdadeiro desastre fiscal e orçamentário como o  que o governo Dilma enfrenta no momento,   agravando ainda  mais a crise.

Não  tem sentido jogar nas costas dos contribuintes e da população em geral, principalmente das camadas mais  humildes o peso desta incompetência, insensibilidade, engodo e da corrupção  que são  as marcas do atual governo.

JUACY DA SILVA,  professor  universitário, titular e aposentado UFMT, mestre  em sociologia. Email  professor.juacy@yahoo.com.br  Blog  www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy