CICLOS E INTERREGNOS NO
BRASIL
JUACY DA SILVA
Um
novo Presidente, 27 governadores, 513 deputados federais, 81 senadores, mais de
600 deputados estaduais, dezenas de ministros de estado e centenas de secretários
estaduais tomam possam no primeiro dia de 2019 ou em breve tomarão posse,
compondo a nova camada dirigente ou donos do poder no Brasil.
Desde
a proclamação da República, em 1889, portanto há praticamente 130 anos, o
Brasil vive entre ciclos politicos, econômicos e sociais e interregnos, onde
novos modelos são gestados e/ou implementados.
Segundo
Antônio Gramsci, pensador marxista italiano, em alguns de seus escritos nos anos em que passou na prisão, durante o
regime facista na Italia, “A crise consiste precisamente no fato de que o velho está
morrendo e o novo não pode nascer; neste interregno, uma
grande variedade de sintomas mórbidos aparecem”. E mais, para Gramsci “O
interregno é o tempo da falência histórica de um ciclo da política, de um
modelo, de um sistema até então dominantes. Mas é também o tempo da
inexistência de nexos que articulem (projeto alternativo) os diferentes polos
de condensação dos conflitos e das culturas criticas ao modelo que agoniza. São
ocasiões, segundo Gramsci, propícias ao aparecimento de “sintomas mórbidos,
fenômenos estranhos, criaturas monstruosas”. Habitado por bifurcações
inesperadas e multiplicidades de rumos possíveis, ele é, por excelência, o
território do imponderável, ao mesmo tempo fascinante e aterrador. Simulacro de
caos, cheio de armadilhas. Um tempo intenso, eletrizado e perigoso.”.
Em
1930 com Vargas foi o início de um ciclo que se encerrou com a sua deposição,
seguido de um interregno que foi de um governo provisório, dando lugar a um novo
ciclo com Dutra, a volta de Vargas e o Governo de Juscelino; seguindo-se mais
um interregno com a eleição de Jânio Quadros até a deposição de João Goulart e
a tomada do poder pelas Forças Armadas, em 31 de Março de 1964.
O
Ciclo dos Governos militares demorou 21 anos, podendo-se dizer que o governo de
Sarney foi novamente um interregno, com a convocação da Constituinte e a promulgação
da Constituição de 1988; quando, todos imaginavam, um longo ciclo democrático e
estabilidade deveria ser estabelecido.
Ledo
engano, a eleição de Collor, o governo curto e impeachment do primeiro presidente
eleito democraticamente, apenas prolongou aquele interregno, surgindo dai, então
um novo ciclo social democrata com Itamar Franco/FHC, que foi ampliado para
mais 13 anos de governos do PT e seus aliados de esquerda, de centro e de
direita, a maioria dos quais continuaram no governo Temer e estarão no Governo
Bolsonaro.
A
deposição da ex Presidente Dilma, deu lugar a um novo interregno com o governo Temer,
que foi encerrado com a eleição de Bolsonaro, que, espera-se possa inaugurar um
novo ciclo conservador, de extrema direita, com alterações profundas na
política interna e externa do Brasil, em meio a muitas contradições e
conflitos.
Para
muitos, pelas incertezas que poderão ser geradas pela falta de um modelo claro
de país e com políticas voluntaristas e desarticuladas, este novo ciclo tanto
pode demorar para se configurar, como
também pode ser mais um interregno na história econômica, política e social do
Brasil. Há quem vaticine que Bolsonaro não completará seus quatro anos de
governo. Só Deus sabe.
Os
desafios, contradições e conflitos que devem surgir fruto dos problemas que o
país enfrenta em todas as árreas, uma verdadeira herança maldita para alguns,
podem descambar para instabilidade política e institucional ou até mesmo afundando
o Brasil em conflitos internacionais ao romper com os princípios de uma
política externa independente e de neutralidade que historicamente tem marcado as
posições de nosso país no contexto internacional.
Ao
alinhar-se de forma subalterna e subserviente aos interesses americanos e seu
principal aliado no Oriente Médio que é Israel o Brasil poderá sofrer
represálias por parte do mundo árabe, da mesma forma que neste alinhamento ao
romper com o Acordo do Clima de Paris e ao criticar as relações atuais do
Brasil com a China, nosso país poderá ter problemas de mercado com a União Européia
e com o gigante Asiático.
Enfim,
ainda é cedo para saber se estamos iniciando um novo ciclo em nossa história ou
apenas prolongando um interregno que pode durar mais tempo. Quem viver verá.
JUACY DA SILVA, professor universitário,
mestre em sociologia, titular e aposentado UFMT. Email professor.juacy@yahoo.com.br
Blog www.professorjuacy.blogspot.com
Twitter@profjuacy