DESAFIOS DO ENVELHECIMENTO NO BRASIL
JUACY DA SILVA
Todos os países,
inclusive o Brasil, tem experimentado um processo acelerado de envelhecimento
de suas populações, ao lado de outras transformações demográficas que estão
exigindo e irão exigir cada vez mais a criação de novos paradígimas tanto para
a gestão publica em relacao `as pessoas idosas quanto para o comportamento e
estilo de vida das pessoas e das famílias.
No caso do Brasil, o
envelhecimento populacional pode ser observado a cada década ao longo dos
ultimos 90 anos, ao lado de outras profundas transformações como o processo de
urbanização crescent e desordenado, a redução das taxas de fertilidade, de
mortalidade por doenças infecto-contagiosas, da mortalidade infantil e tambem
alterações profundas no perfil epidemiológico, aproximando nosso país dos
demais países desenvolvidos.
Em 1940 os idosos
chegavam apenas a 1,65 milhões de pessoas e representavam 4% da população total
do Brasil e a cada década esta parcela foi aumentando, chegando a 8,6% no ano
2000; a 11,0% em 2010; 12,0% em 2015; 13,5% em 2018, em torno de 28 milhões de
pessoas. As projeções indicam que os idosos
em 2020 serão 14,5% da população do país; 16,2% em 2025; 18,7% em 2030 e
nada menos do que 24,5% em 2042, quando a população idosa será bem maior do que
a faixa etária até 14 anos.
Existe também uma
característica que marca o Brasil como o nono país mais desigual do mundo,
entre as maiores economias, com uma concentração de renda, riquezas e
oportunidades absurda, com repercussões no processo de envelhecimento.
População empobrecida representa envelhecimento na pobreza, na miséria e na
exclusão.
O envelhecimento no
Brasil ocorre em meio a uma situação em que a pobreza afeta a grande maioria
dos idosos, dentre os quais 73,3% não tem planos de saúde e dependem única e
exclusivamente do SUS, que está praticamente falido, para os cuidados com a
saúde, além de aproximadamente 90% que não tem planos odontológicos e raramente
podem cuidar da saúde bucal. A saúde mental em geral e da população idosa em
particular praticamente não existe em nosso país. O SUS praticamente não tem
profissionais nesta e em várias outras áreas de média e alta complexidade, nem
recursos e equipamentos para diagnósticos e tratamento de idosoas que enfrentam
problemas nesta área. A população idosa, em sua grande maioria, principalmente
na faixa de 75 anos e mais, sofre de pelo menos uma, duas , tres ou mais doencas
cronicas.
Um dos grandes, talvez o
maior dos desafios que os idosos/idosas enfrentam é a questão financeira. Só
para termos uma ideia, em 2016, dos 19,2 milhões de aposentados pelo INSS em
torno de 70% recebiam no máximo um salário mínimo e 85% no máximo dois salários
mínimos. O sálario minimo de 2016 era de
R$880,00 reais, um quarto do auxílio moradia pago aos marajás da República nos
tres poderes.
Em relação aos idosos em
geral, 82% tinham rendimentos unicamente da aposentadoria ou pensão e 18% dos
idosos não tinham uma fonte definida de rendimentos, dependiam de
transferências governamentais, verdadeiras migalhas ou ajuda de outras
entidades, familiares ou entidades de caridade. Em geral essa renda não chega
sequer a meio salário minimo, é suficiente apenas para que o idoso ou idosa não
morra de fome.
Esta era a importância
que a maioria dos idosos recebiam para fazer face `as despesas com moradia, alimentação,
cuidados pessoais e com a saúde, deslocamentos, medicamentos, energia, lazer,
vestuário, educação. Muitos idosos gastam mais de 50% do que recebem só para a
compra de medicamentos de uso permanente, tendo em vista que nesta faixa etária
a incidência de doenças crônicas e
degenerativas é muito alta.
Se e quando as pessoas
idosas não conseguem cuidar de si mesmas e dependem de cuidadores ou de moradia
assistida, os custos são muito elevados. O salário médio de um cuidador ou cuidadora em 2018 varia de
R$954,00 a R$2.716,00 com uma média de R$1.198,00; importância quase duas vezes
a renda disponivel de quase 90% dos
idosos. Isto significa que apenas um em cada dez idosos dispõe de renda
suficiente para pagar apenas um cuidador ou cuidadora. Ai fica a pergunta, de
onde os idosos que vivem praticamente na pobreza e ou na miséria, vão conseguir
recursos financeiros para cobrirem as demais despesas? Esta é a situação de
aproximadamente 25,3 milhões de idosos/idosas em 2018.
Dentro de poucas semanas
vai ter inicio a mais um ciclo governamental, com a posse de um novo presidente
da República, novos governadores ou alguns que irão dar continuidade `as suas
gestões, já que foram reeleitos. Ao serem definidas as politicas públicas tanto
do governo federal quanto dos governos estaduais e a continuidade das gestões
municipais, espera-se que nessas políticas públicas e ações dos organismos
públicos as pessoas idosas possam ser contempladas e terem seus direitos
grantidos e respeitados, incluindo a questão da reforma da previdência que, a título
de buscar um equilíbrio orçamentário e fiscal, não venham a ser sacrificadas
pelos governantes. A reforma da previdência vai afetar negativamente a
população que atualmente esta na faixa entre 40 e 50 anos, que serão as pessoas
idosas dentro de 10 ou 20 anos.
Em 2019 deverá também ser
realizada a 5a. Conferência dos direitos da pessoa idosa, cujo tema será: “Os
desafios de envelhecer no século XXI e o papel da politicas públicas”. Como
sempre acontece, esta conferência terá a primeira etapa no âmbito municipal que
deverá ser realizada até final de março; a etapa estadual a ser realizada até
final de Agosto e a Conferência Nacional, que será em Brasília, entre 11 a 14
de novembro de 2019.
As discussões e
deliberações, incluindo propostas de aprofundamento de politicas públicas
voltadas para garantir plenamente os direitos das pessoas idosas, estarão sendo
feitas em quatro eixos temáticos: 1) Direitos fundamentais dos idosos na
Constituição e demais leis, incluindo o Estatuto do Idoso e a efetivação das
politicas públicas concernentes; 2) Educação: assegurando direitos e
emancipação humana; 3) Enfrentamento da violação dos direitos humanos da pessoa
idosa; 4) Os Conselhos de direitos: seu papel na efetivação do controle social
na geração e implementação das politicas públicas.
Oxalá, 2019 seja um ano
que marque um avanço nas políticas públicas voltadas `a população idosa e que
esta parcela significativa da população brasileira não continue sendo excluida
e possa viver esta etapa final da existência humana com mais dignidade,
respeito e menos exclusão social, econômica, cultural e política.
JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista e
colaborador de diversos veículos de comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br
Blog www.professorjuacy.blogspot.com
Twitter@profjuacy
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