PEC DA MENTIRA E DA
INJUSTIÇA
JUACY DA SILVA
A Câmara Federal aprovou há poucos dias, em primeira votação, a PEC 241 (projeto de Emenda
Constitucional), enfiada goela abaixo dos parlamentares e da sociedade
brasileira, de forma autoritária, que limita/congela os gastos do Governo Federal, nos Tres
Poderes e também no Ministério Público e
Defensoria Pública, por 20 anos, tendo por base a inflação do ano anterior,
afetando negativamente estados e municípios, agravando/piorando, a curto e
médio prazo a crise brasileira.
A justificativa do
Governo Temer, cuja aprovação pouco difere
dos índices experimentados pela ex presidente afastada Dilma,
demonstrando que a população brasileira não accredia e nem
aprova seu governo/mandato tampão, é que para resolver a crise econômica, de
confiança e demais aspectos é fundamental
reduzir os gastos públicos. Esta seria uma verdadeira tábua de salvação
nacional, o que não corresponde a verdade.
Todavia, esta PEC
não tem sido discutida de forma
aberta, transparente e honesta com a
sociedade, com os contribuintes e com os usuários dos serviços públicos e nem
apresentado todos os aspectos que levaram ao descalabro/descontrole das contas públicas e, consequentemente as
medidas necessárias para buscar um
equilíbrio entre receita e despesa.
Outro aspecto que ficou
de fora da propaganda do governo para
defender a PEC é o
modelo de estado e de sociedade que queremos e , ao mesmo tempo, o papel do
estado como agente importante e imprescindível para a correção/redução dos desequilíbrios/desníveis regionais, setoriais e sociais. Em
qualquer sociedade moderna cabe ao
estado fazer o papel de equalizador social e induzir o desenvolvimento regional
e também corrigir as distorções setoriais, sob pena do país continuar
ajudando a excluir do processo de desenvolvimento milhões de pessoas,
beneficiando apenas suas elites, como sempre tem acontecido no Brasil.
Todos sabemos que o
Brasil ostenta diversos índices sociais e econômicos que o colocam em posição
extremamente desfavorável no ranking dos demais países no contexto
mundial. Esses índices estão
relacionados com a educação, com a saúde, com salário mínimo, com
longevidade, com distribuição de renda,
com qualidade da mão de obra, com
produtividade da economia, com desenvolvimento da ciência e da
tecnologia, com corrupção, com violência, com o meio ambiente, incluindo saneamento
básico e outros mais. Enfim, todos esses aspectos estão interferindo na qualidade dos serviços
públicos que estão totalmente sucateados e na qualidade de vida da população.
Outro aspecto que tem ficado de fora na discussão é a
questão da dívida pública, dos juros ,
encargos e o refinanciamento da mesma,
que ao longo de mais de 20 anos tem consumido entre 40% e 49% dos recursos do
OGU Orçamento Geral da União e que estarão de fora dos gastos que irão definir o congelamento do teto. Isto
significa que pelos próximos anos o
Governo Federal deverá deixar de
aplicar, por exemplo, na saúde pública em torno de R$ 743 bilhões de reais,
afora o que já deixou de aplicar nos últimos dez anos. Por falta de
recursos destinados pelo governo federal
cada vez mais encargos em todos os setores, inclusive na saúde, tem sido transferidos aos Estados e
Municípios que não estão em condições
de suprir este deficit . Resultado, o caos na saúde pública aumenta a cada dia. E vai piorar mais.
Só para se ter uma idéia na proposta orçamentária
para 2017 que o Governo Temer encaminhou
ao Congresso estão destinados R$340
bilhões de reais só para pagamento de juros da dívida pública, além de
R$925 bilhões para rolagem/refinanciamento da dívida, totalizando mais do que o
dobro do que será gasto com a
previdência, um grande vilão do deficit
público proclamado pelo governo e seus arautos e mais de dez vezes do que vai
ser destinado `a saúde pública.
Há poucos dias o
Conselho de Administração da FIOCRUZ publicou uma carta aberta `a sociedade brasileira, ao
Congresso Nacional e ao Governo Temer demonstrando que se aprovada a PEC 241 a
situação da saúde pública, inclusive o
desenvolvimento de pesquisas nesta área vão piorar e serão
estrangulados por décadas a fio, colocando o Brasil em uma
dependência maior nesta e em
outras áreas. Também o IPEA, organismos de pesquisa e
elaboração de estudos estratégicos para
o Governo publicou uma nota técnica em que demonstra que a PEC é extremamente prejudicial `a saúde pública.
Diversos outros
organismos de pesquisas e análises,
bem como pesquisadores , como o prof Paulo Artaxo,
físico da USP de renome internacional, tem demonstrado que a PEC vai estragular mais ainda o desenvolvimento
científico e tecnológico , bem como
ajudar a sucatear o que resta das universidades públicas.
Em um exercício um
professor da FGV demonstra, por exemplo, que se esta PEC tivesse entrado em vigor em 1998, ou seja, há
20 anos, o salário mínimo e o piso da previdência hoje, ao invés dos míseros
R$880 reais seria de apenas R$400 reais, afetando 28 milhões de aposentados e
pensionistas e pelo menos mais de 35 milhões de pessoas que recebem auxílios da
assistência social ou trabalhadores da ativa que ganham apenas um salário
mínimo.
O assunto continua no
próximo artigo sob o mesmo título.
JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado
UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, Sites,
Blogs e outros veiculos de comunicação.
Email professor.juacy@yahoo.cm.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
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