FISIOLOGISMO, CINISMO
E PARALIZIA
JUACY DA SILVA
A Câmara Federal, em uma
longa sessão, nesta última terça feira, 25 de Outubro de 2017, acabou, mais uma
vez, livrando Temer de ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal,
alongando, de forma desnecessária, um
governo impopular e fragilizado ética e politicamente.
Nunca, na recente
história política e institucional brasileira, um presidente da República esteve
tão desgastado, fragilizado e acuado pelo fisiologismo, pelas acusações de
corrupção, contra si próprio, contra seus ministros e contra deputados federais
e senadores que o apoiam no Congresso Nacional, quanto Temer.
Eleito e reeleito como
vice presidente da República em uma chapa que tinha Dilma, o PT e o
ex-presidente Lula como artífices, este
ultimo, figura central dos dois maiores escândalos de corrupção do Brasil, o
mensalão e a LAVA JATO. Temer e seu
partido o PMDB foram sócios majoritários
de um governo traido e apeado do poder. Todo mundo sabe perfeitamente que Temer
e seu partido e outros que também apoiavam Dilma conspiraram para a derrubada
da mesma. Há quem diga que a diferença entre Dilma e Collor de Mello, que foram
cassados de seus mandatos e Temer que continua no poder, é a questão do apoio
fisiológico na Câmara e no Senado. Enquanto Collor e Dilma não conseguiram este apoio e acabaram apeados do
poder, Temer, exímino politico na arte da dissimulação e nos acertos de bastidores, profundo
conhecedor dos meandros de um parlamento dominado pelo fisiologismo, tem
conseguido uma maioria parlamentar para salvar a sua própria pele e de seus
aliados mais próximos.
Assistindo ao vivo `a
votação das duas denúncias contra Temer, a primeira por corrupção passiva e
lavagem de dinheiro e a segunda por obstrução de justiça e chefiar
organização criminosa, tendo seus dois principais ministros, nesta segunda
denúncia como integrantes desta organização criminosa, denúncia feita pelo
então procurador geral da República,
Rodrigo Janot, baseado em gravações feitas pelo mega empresário, atualmente
preso por corrupção e outros crimes de
colarinho branco, percebe-se que Temer
vai ficar aguardando o término de seu mandato espúrio, para acertar as contas com a justiça, pelos crimes
cometidos durante seu mandato. Pela idade avançado e pela morosidade da
Justiça, tudo leva a crer que a impunidade o favorecerá, mesmo depois de deixar
a presidência da República.
Com certeza, ao ouvir
diversas justificativas apresentadas pelos deputados que votaram pelo
arquivamento da denúncia contra Temer, parecia que estavamos vendo ou
assistindo a uma comédia, uma peça de
teatro, uma encenação ou uma tragicomédia. Alguns parlmentares diziam que iriam
votar a favor de Temer pelo bem do Brasil, pela volta do crescimento econômico,
pela estabilidade política, pelo bem geral
do povo brasileiro, pelo amor que tem pela pátria amada, mesmo traida e
vilipendiada. Enfim, eram frases de efeito para tentar enganar a população
sofrida deste país.
Nunca tais deputados
falaram sobre as liberações de suas
emendas para alavancar seus currais eleitorais, a portaria que
praticamente legaliza o trabalho escravo no país e que foi condenada no Brasil
e no resto do mundo, feita a mando de Temer, em sua barganha com a bancada
ruralista,como bem afirmou o ex governador de MT, senador licenciado e atual
Ministro da Agricultura; ou o decreto que concede perdão para as dívidas com a previdência rural por
parte dos grandes latifundiários e barões do agronegócio, ou do decreto que
livra criminosos ambientais das multas bilionárias do IBAMA por destruição ambiental. De forma semelhante esses deputados não falaram
que estavam votando a favor de Temer pelos cargos que receberam no
Balcão de negócios em que se transformaram
os palácios do Jaburu, onde o Presidente reebeu o dono da JBS e foi
gravado nas caladas da noite, do
planalto onde deputados fisiológicos
fizeram e fazem verdadeiras romarias na busca de favores políticos; da Alvorada
onde grandes jantares, as custas do
dinheiro público, foram oferecidos pelo presidente , tendo como sobremesa mais
favores nada repuublicanos e muito menos éticos.
Enfim, quando o país
continua acuado pela violência, mais de 13 milhões de pessoas continuam
desempregadas e mais de 15 milhões
subempregadas, morrendo `a mingua pela falta de atendimento de uma saúde
pública sucateada, um país cujos índices educacionais fazem vergonha perante o
mundo, um país vivendo em meio a degradação ambiental, enfim, um país sem rumo
e sem futuro, nossos deputados continuam fazendo de conta que nada disso é
importante e continuam enganando o povo, mantendo no poder e apoiando um
governo marcado pela corrupção, pelo fisiologismo e pelo cinismo institucional.
O Brasil não merece continuar neste clima de deterioração política e
institucional.
O governo Temer está
paralizado, continua refém de uma base parlamentar ávida de fisiologismo e
acuado pela opinião pública em que mais de 90% da populaçao rejeitam
abertamente sua forma de governar.
Estamos praticamente no fundo do poço em termos éticos e de gestão pública. Tal
situação não se coaduna com democracia e muito menos com os princípios
republicanos!
JUACY DA SILVA,
professor universitário, titular
e aposentado UFMT, mestre em sociologia,
articulista e colaborador de jornais, sites,blogs e outros veículos de comunicação. Twitter@profjuacy Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com