SAÚDE PARA POUCOS
JUACY DA SILVA
Os artigos 196 até 200 da
Constituição Federal estabelece as bases e princípios relativos `a saúde dos
brasileiros, os quais deveriam ser cumpridos fielmente, mas na verdade boa
parte do que ali consta não passa de boas intenções dos legisladores
constituintes ou letra morta para “inglês ver”, como se diz quando normas
constitucionais são simplesmentes ignoradas.
No proximo dia 05 de
outubro de 2018, vamos comemorar 30 anos da promulgação da Constituição
Federal, que até 04 de outubro do ano passado (2017) já foi emendada ou
remendada, alguns dizem, nada menos do que 97 vezes.
Para muitos estudiosos a
Constituição Federal brasileira foi um avanço em termos de cidadania e para
outros um conjunto de ideais apropriados para países capitalistas avançados ou
até mesmo países socialistas. Outros estudiosos dizem que nossos constituintes
pensaram que o Brasil estaria prestes a se tornar um regime parlamentarista e
por ai vamos tentando ampliar ou reduzir
direitos, gerando muitas contradições e grandes polêmicas.
Por exemplo, o artigo 196
da Constituição Federal estabelece taxativamente que “ A saúde é direito de todos e
dever do estado….” e o artigo 198, também estabelece as normas,
princípios e diretrizes de como a saúde publica deveria ser organizada para que
, de fato, atendesse aos princípos da universalidade, da equidade, da
integralidade, da descentralização, da humanização, da participação da
sociedade em sua gestão e sua autonomia.
Enfim, nossos
constituintes imaginaram que a saúde brasileira deveria ser para todos, sem
distinção de classe, cor, território ou condição econômica e social. Para quem
lê a Constituição Federal e as Leis que criaram e organizaram o SUS, é algo
maravilhoso, que contrasta com o descaso
como a população pobre, os excluidos são tratados.
Imaginemos uma mulher que
viva no Amapá, onde só existe um mamógrafo para o estado todo e que esteja
estragado, como poderá esta mulher realizar exames preventivos de câncer de
mama? Imaginemos milhões de pessoas que a cada dia, por este Brasil imenso
precisa acordar de madrugada ou passar a noite toda para tentar agendar uma
consulta médica ou centenas de milhares de usuários so SUS que estão na fila
virtual, invisível há dois , tres ou cinco anos para agendar ou conseguir um
exame de media ou alta complexidade ou uma cirurgia. Basta assistirmos os
noticiários da TV, rádio, lermos as manchetes dos jornais ou da midia virtual e
a conclusão é a mesma: o atendimendo dispensado `a população pobre no Brasil é
uma vergonha, um acinte, um desrespeito `as normas constitucionais, legais e `a
dignidiade da pessoa humana.
Segundo dados recentes, do
final novembro de 2017, do IBGE, pouco mais da metade da população brasileira,
vive ou sobrevive com menos de um salário minimo, enquanto a camada do topo da
pirâmide econômica e social, 1% da população, recebe em media R$27 mil reais
por mes e alguns marajás da República, nos tres poderes chegam a ganhar mais de
R$50 ou R$100 mil, incluindo uma minoria, nos tres poderes, que recebe auxílio
moradia de mais de R$3 mil mensais e até ameaçam fazer greve para manterem este e outros
privilegios. Para esses, tanto o poder legislative, quanto executivo e
judiciário tem planos e serviços especiais de saúde, tudo custeado pelos cofres
publicos.
Entre 2007 e 2014, o número
de pessoas que tinham planos de saúde saiu de 39,3 milhões e atingiu 50,4
milhões, mas em decorrência da crise econômica, do desemprego e da
inadimplência generalizada que se abateram sobre a classe média, entre 2014 e
2017 mais de 3 milhões de segurados perderam seus planos de saúde e tiverem que
voltar ao SUS, que a cada dia está mais sucateado, seja pela corrupção que
tomou conta da administração pública seja devido ao corte de recursos
destinados a saúde e outras áreas, devido `a aprovação do teto dos gastos públicos
e da redução do tamanho do estado, sempre em detrimento da população pobre e
excluida, pois os grandes grupos economicos e os marajás da República continuam
com seus prvilégios, mordomias e outras benesses grantidos e até mesmo
ampliados.
Para finalizar, devemos
também levar rem consideração que até final de novembro de 2017 o numero total
de aposentados e pensionistas pelo INSS era de 34 milhões de pessoas, dessas,
2/3 ou seja, 22,7 milhões desse total recebiam apenas um salário minimo.
Enquanto os marajás da República,
integrantes dos tres poderes tem salario médio acima de R$20 mil, R$30 mil ou
até mais, além de diversas privilegios e benesses, tudo custeados pelo Tesouro
ou seja, dinheiro de uma pesada carga tributária que pesa mais sobre o consume e
os pobres, nossos governantes imaginam que quem ganha salário minimo pode ter
saúde e educação de qualidade ou que possa, com um salário desses, ter uma vida
dígna.
A pergunta que se pode
fazer é como uma pessoa, recebendo no máximo um
salário minimo, de fome, pode sustentar a si e sua familia, incluindo
alimentação, saúde, transporte, habitação, vestuário, lazer e educação. Podemos
dizer, sem sombra de duvida, que saúde, educação, moradia e alimentação de
qualidade são privilégios para poucos no Brasil. O grande paradóxo é que
continuamos assistindo a cada dois anos, os pobres elegendo governantes que
pouco ou nada fazem para mudar esta triste e vergonhosa realidade, pois
continuam sempre defendendo os privilegiados e seus interesses, esquecendo-se
do povo que sofre e continua marginalizado.
JUACY DA SILVA, professor universitario, titular e aposentado
UFMT, mestre em sociologia, articulistas e colaborador de diversas veiculos de
comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy Blog
www.professorjuacy.blogspot.com