A CRISE É BEM MAIS
SÉRIA
JUACY DA SILVA
O
último final de semana foi marcado pela expedição da ordem de prisão do ex
presidente Lula, cuja repercussão ultrapassou as fronteiras do país, durante,
praticamente quatro ou cinco dias, desde que o Supremo Tribunal Federal negou o
“habeas corpus” para que Lula aguardasse em liberdade até que a ação fosse
considerada “transitada em julgado”, até a noite de sabado, o noticiário
dominante foi este fato.
Este
pode ser considerado o final de um capítulo de uma longa história de um lider sindical,
de origem nordestina, afrodescendente, pobre que enfrentou a repressão do
periodo em que o Brasil viveu sob o regime militar, foi preso político e
resolveu, juntamente com alguns intelectuais de esquerda ou centro esquerda, fundar
um partido que buscava ser diferente na forma de se fazer politica no Brasil e
na defesa verdadeira dos interesses e direitos dos trabalhadores.
Dentre
os pilares do partido dos trabalhadores fundado e capitaneado por Lula por
quatro década podemos destacar a ética na politica, a denúncia da corrupção e
alguns dos ideais socialistas, um pouco distantes do marxismo e a defesa dos
interesses da classe trabalhadora.
Por
tres vezes Lula tentou eleger-se presidente da República, mas só conseguiu este
feito na quarta disputa, além de uma outra campanha fracassada quando tentou ser governador de São Pualo. Tão logo eleito, em
2002, antes mesmo da posse, para acalmar o famigerado mercado, que estava todo
arrepiado com a chegada da esquerda e de alguns comunistas ao poder, Lula
divulgou a “carta ao povo brasileiro”, onde demonstrava que não iria romper radicalmente
com o “status quo” e para governar iria seguir as expectativas do mercado. De
sua equipe fazia parte Henrique Meirelles, presidente do Banco Central por oito
anos, este mesmo que voltou como ministro da fazendo do governo impopular e
corrupto de Temer.
Para
tanto, para formar seu governo, não titubeou em aliar-se aos partidos de centro
e de direita, além dos partidos de esquerda que com ele chegaram ao poder e, na
composição de sua equipe de governo, buscou aliados nas forcas conservadoras,
onde estavam e ainda estão boa parte dos politicos corruptos e fisiológicos que,por
decadas, tem mamado nas tetas do governo e assaltado os cofres publicos.
Ao
aliar a tais forcas corruptas e conservadoras, Lula ia aos poucos distanciando-se
dos princípios basilares que sempre defendeu, descaracterizando o seu próprio
partido, motivo pelo qual ao longo de seus oito anos no poder viu dezenas ou
centenas de quadros que não concordavam com os rumos que seu governo ia tomando
e abandonaram o PT fundando ou rumo a outros partidos de esquerda. Para
manter-se no poder, o governo Lula utilizou-se dos mesmos mecanismos e práticas
nada éticas, ou seja, formas corruptas e fisiológicas de se fazer politica,
incluindo o peleguismo syndical e o aparelhamento da administração publica.
A
partir deste ponto, o PT passou a preocupar-se muito mais com um projeto de
poder do que com um projeto de país e os resultados deletérios não demoraram a
se apresentar com o mensalão e depois com o petrolão/lava jato e tudo o mais
que bem conhecemos.
Ao
longo de décadas o Brasil vive em uma crise permamente, podendo estabelecer
como pontos de referência o fim da ditadura Vargas, em 1945, o retorno de Vargas
através das eleições de 1950, o suicídio de Vargas, o Governo meteórico e a renúncia
de Jânio Quadros e a tentativa de impedimento da posse de João Goulart, a
imposição do parlamentarismo, o retorno ao presidencialismo, através de um
plebiscito, durante o governo João Goulart, a derrubada de João Goulart em 1964
e a intervenção militar, que durou até 1985, a eleição de Tancredo Neves e José
Sarney, a morte de Tancredo antes da posse e a chegada de Sarney ao poder, que
de apoiador incondicional dos governos militares se transformou em democrata de
carteirinha, passando de cacique do PDS para cacique do PMDB, antes e novamente
agora MDB.
Esta
crise desembocou na convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte que
elaborou a famosa “constituição cidadã” como a chamava o Dr Ulisses Guimarães,
Carta Magna ja emendada e remendada centenas de vezes, cujo artigo quinto que
pretendia ser a base das garantias individuas, incluindo o Famoso e
controvertido item LVII, que apesar de muito claro tem merecido muito debate e
um vai e vem por parte dos doutos ministros do STF, onde esta escrito de forma
cristalina “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória”.
Ao
final do Governo Sarney temos as crises da renúncia/impedimento de Collor, as
constantes disputadas ideológicas e políticas durante os governos FHC, o
impeachment de Dilma e, finalmente, a crise atual, que pode ser considerada
apenas mais um capítulo desta crise histórica que vivemos ao longo de mais 73
anos.
Muitos
imaginam que com a prisão de Lula e as futuras condenações do mesmo em diversas
ações que responde, o Brasil vai ser passado a limpo. Mero engno, a crise
continua e a cada dia é mais grave do que podemos imaginar, como veremos nos
próximos artigos sobre este mesmo tema.
JUACY DA SILVA, professor universitario,
fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de
jornais, revistas, sites e blogs. Email professor.juacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
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