CRISE E A DÍVIDA PÚBLICA
JUACY DASILVA
O Brasil nos últimos anos não tem sido bem avaliado pelos
organismos internacionais, incluindo as empresas que realizam o que é chamada
de classificação de risco. Essas
empresas orientam e são consultadas pelos grandes investidores
internacionais quando decidem investir ou deixar de investir em outros países,
principalmente os chamados “mercados emergentes”, onde nosso país está
incluido.
No ultimo ano duas dessas empresas rebaixaram o nível do
Brasil, colocando nosso país na categoria de mercados especulativos e de alto
risco e com isso diversos grandes fundos americanos e europeus, inclusive
poderosos fundos de pensão começaram a avaliar a possibilidade de deixar de
investir no Brasil ou até mesmo a trasferir investimentos aqui realizados.
Na avaliação que essas empresas fazem elas levam
em conta a situação geral da
economia do país avaliado, incluindo índices de crescimento do PIB nos últimos
anos; taxas de inflação, taxas de
investimentos internos, públicos e privados, equilíbrio e controle das contas públicas, índices de corrupção relacionados com a
economia e a gestão pública, carga
tributária, establidade nas regras contratuais, enfim, se a economia do país
está estável , em crescimento ou em
recessão e qual a capacidade do
governo central em gerenciar uma
crise existente.
Em todos esses quesitos o Brasil foi redondamente reprovado e
todas as medidas tomadas pelo governo, inclusive o chamado “pacote fiscal” não
tem conseguido ser corretamente definido
e tudo leva a crer que o Congresso não
tem sido convencido pelo Governo Dilma quanto `a propriedade e
efetividade das medidas. Muitos setores,
inclusive parte da bancada de apoio de Dilma no Congresso Nacional são
contrários ao aumento da carga tributária, a volta da CPMF e a questão da
dívida pública, que tem aumentado muito nos últimos anos e é o ponto
central do estrangulamento das contas
públicas e da crise econômica, fiscal e financeira que a cada dia está mais
complexa e difícil de ser equacionada.
Há quase 20 anos praticamente metade do OGU – Orçamento Geral
da União, variando de 42% a 49%, tem sido destinados para o pagamento de juros,
encargos , rolagem e uma pequena parte para amortização. Mesmo assim o
crescimento da dívida bruta e líquida, tanto em relação ao PIB quanto no total tem aumentado de forma
acelerada. As razões básicas deste problema são: a) desvalorização
cambial; b) aumento aburdo da taxa básica de juros e c) subsídios a diversos setores da economia
e, finalmente, o volume de renúncia fiscal que o governo tem feito em favor de
grandes grupos e setores da economia.
Em 2006, por exemplo, o total da dívida pública era de 1,34
trilhões de reais e representava 55% do PIB; em 2016 deverá atingir 3,64
trilhões de reais e vai representar 71,5%
do PIB. No orçamento da União de 2016 a rubrica da dívida pública
tem uma dotação de R$ 304,1 bilhões só
para pagamento de juros e nada menos do que 1.044,8 trilhões de reais para
rolagem e amortização, totalizando R$1,348,9 trilhões de reais. Como o Governo
não consegue fazer “superavit” nem para pagar
os juros,terá que refinanciar R$855bilhões, na forma de novas dívidas que entra
no orçamento como receita. Como o orçamento líquido da União para2016 é de R$
2,1 trilhões, com este aporte o orçamento geral passa para tres trilhões. Desta forma, o peso da dívida sobre
o orçamento líquido da união é de 64,3%
e de 44,96% da LOA para 2016. Como a taxa básica de juros pode subir em
2016, ao lado da recessão que deverá ser praticamente a mesma de 2015 e a
desvalorização cambial que também deverá
continuar, o cenário para este ano é
muito complicado, incluindo redução das atividadeseconômicas, queda
acentuada na arrecadação
e dificuldades para honrar os compromissos do governo com seus credores,
que são implacáveis, como os agiotas costumam
ser.
A única solução é
a realização de uma auditoria
independente , a chamada Audotoria cidadã da divida pública e uma lei , `a
semelhança da Lei de Reforma de Responsabilidade Fiscal, que estabeleça um teto máximo no OGU para fazer face ao
pagamento de juros, encargos, rolagem e amortização da dívida, antes que a mesma estragule de vez
a economia e a vida do país, inviabilizando todas as políticas públicas por falta
de recursos orçamentários e financeiros.
JUACY DA SILVA,
professor universitário, fundador,
titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. Email professor.juacy@yahoo.com.br
Blog www.professorjuacy.blogspot.com
Twitter@profjuacy
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