ANTE SALA DO INFERNO
(1)
JUACY DA SILVA
O Brasil e o mundo
iniciaram 2017 sob o bombardeio de notícias dando conta de que o segundo maior
massacre em prisões de nosso país havia deixado nada menos do que 60 mortos,
muitos dos quais mutilados, relembrando o massacre da penitenciária do
Carandiru, de triste memória.
Desta vez foi em uma das maiores prisões da região
norte do país, em Manaus. O curioso é que o Sistema prisional do Amazonas há
alguns anos foi terceirizado, ou seja, o governo do Estado paga muito mais e o
Sistema é tão ou mais infeciente do que as demais prisões existentes no Brasil,
colocando por terra a idéia de que a privatização do Sistema prisional vai
livrar nossas masmorras da corrupção, da violência, do domínio das facções
criminosas, que de fato mandam e desmandam no Sistema penitenciário, da
mesma forma que fazem em
áreas urbanas, onde o Estado brasileiro é o grande ausente.
Há quase meio século,
ainda durante o regime militar estudos e resultados de sindicâncias, de CPIs, correições
e outras modalidades do gênero
vem demonstrando que as políticas de segurança pública e a forma de agir
do Sistema judiciário e a própria adminitração do Sistema prisional estão
falidas e não atendem aos requisitos
básicos que deveriam ser a garantia da segurança `a população, a presteza
na apuração dos crimes e os julgamentos de forma mais célere, para que
as pessoas, pouco importa as suas razões ou alegações , que cometem crimes
tanto contra a pessoa quanto contra o patrimômio sejam retiradas do convívio social e possam,
passar por um período de punição e se penitenciarem de seus mal feitos.
Todavia, nada disso
funciona e temos verdadeiras masmorras, muito próximas do Sistema de
repressão e punição da idade média, com
elevado custo para a sociedade e o contribuinte, sem que haja a tão “almejada”
socialização e que o criminoso possa retornar para a sociedade, sabendo que
terá que cumprir as regras e normas do convívio coletivo.
Tendo em vista a escalada da violência que vem ocorrendo ao
longo dos últimos trinta anos, que por coincidência é o período do governos civis, do estado
democrático de direito, da constituição cidadã, como assim dizia Ulisses
Guimarães quando a promulgou, o clamor popular é por segurança, ante a
passividade e ineficiência de nossos governantes que, pela corrupção,
transformaram o estado brasileiro em algo muito mais próximo do crime
organizado do que da cidadania, da democracia e do estado de direito.
O Brasil é o quarto
país do mundo em população encarcerada e, na contra-mão do que ocorre no resto
do mundo, principalmente na Europa, alguns países asiáticos e de outras partes,
o nosso poder judiciário, enfim, nosso país,
tem uma verdadeira volupia para o encarceramento, poupando, é logico os
criminosos de colarinho branco e as pessoas que integram as elites que dominam
a sociedade brasileira há séculos. Não é
por outra razão que as prisões brasileiras
estão lotadas de pobres, negros e outras camadas excluidas. Um mesmo
crime, digamos um assassinato, um estupro, um feminicídio, um roubo, assalto ou
delito grave no trânsito quando é cometido por alguém desses grupos excluidos rapidamente sua imagem e
todos os detalhes das
investigações são noticiados, o mesmo não ocorre quando o crime é
cometido por alguem que pertence `a casta privilegiada, como algum
“representante do povo” ou que ocupa
alto cargo na adminitração pública que goza de foro especial, imunidade,
segredo de justiça. Assim poderá aguardar décadas em Liberdade, muitas vezes
até que a pena seja prescrita e, se
for condenado, terá prisão
especial, com várias regalias, inclusive penas mais brandas e longe do depóitos de presos,
como são nossas prisões.
O Brasil representa
2,8% da população mundial e detém 6,1% do total da população encarcerada do
mundo. O número de presos em nosso país praticamente triplicou nos últimos 15
anos. Em 2000 a população carcerária era de 232.755 presos e em 2015 passou para 622.202 “internos”,
como se costuma dizer.
Existem diversos
problemas graves que tornam o Sistema
prisional brasileira algo que podemos dizer que seja a ante sala do inferno. A
superlotação é um deles, talvez um dos mais graves. Em 2015 existiam 371.459
vagas no Sistema prisional, incluindo os espaços nas delegacies de polícias e
nos centros de detenção provisórios e nada menos do que 615.933 presos, ou seja
um deficit de 244.474 vagas, ou seja, praticamente 40% do que deveria
existir. Em alguns estados e em algumas
prisões ou penitenciárias o número de
presos é o triplo do número de vagas e o ambiente é de verdadeira
promiscuidade, violência de toda ordem, chegando a tortura e morte.
Além disso, em 2015
existiam 430 mil mandados de prisão “em aberto” ou seja, não cumrpidos, se os
mesmos acontecessem elevariam o deficit do Sistema prisional para mais de 600 mil vagas.
Para completar o quadro do total da população encarcerada em
2015 nada menos do que 39% era de presos
provisórrios, ou seja, não tinham sofrido a condenação e não deveriam estar
enjaulados, seja pela arbitrariedade do Sistema legal ou por decisões
equivocadas . Muitos presos cujos crimes são considerados de menor poder
ofensivo acabam jogados em celas onde estão assassinos, estupradores, membros
do crime organizado e ai ao inves de se “ressocializarem” acabam verdadeiros bandidos quando conseguem
sair dessas masmorras.
O assunto é
complexo e muito grave e merece mais
reflexão por parte da sociedade , mais seriedade , responsabilidade e ações
efetivas por parte de governantes e autoridades que tem a responsabilidade de
definir e implementar políticas nacionais
e estaduais voltadas `a segurança pública e os Sistema judiciários e
prisional em nosso pais. Voltarei ao
tema oportunamente.
JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado
UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs
e outros veículos de comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
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