MOBILIDADE URBANA E
VIOLÊNCIA
JUACY DA SILVA
Para que as
cidades sejam realmente sustentáveis e
locais que ofereçam condições para que seus habitantes possam desfrutar de
níveis de vida dígnos, uma série de desafios devem ser superados, incluindo serviços
públicos de qualidade, a começar pela saúde, saneamento, educação, segurança e,
também, cuidar da mobilidade urbana, onde estão incluidos não apenas as
questões do trânsito e dos transportes, mas também possibilitar que os
pedestres e os ciclistas possam ter garantido o seu direito de ir e vir.
Neste sentido, tanto as
vias públicas, ruas, avenidas e as rodovias, devem ser seguras quanto as
calçadas e ciclovias devem attender este requisite básico. Lamentavelmente,
apesar de que praticamente quase a metade da população faça seus deslocamentos
a pé, incluindo pessoas portadoras de necessidades especiais ou o que
denominamos de deficientes, as calças na quase totalidade de nossas cidades
é um caso de polícia, uma vergonha, demonstrando que os pedestres
principalmente não constam da agenda de nossas administrações municipais, com
raríssimas excessões, que apenas confirmam a regra.
Neste artigo vou tartar
apenas da questão da violência no trânsito que ao logo dos últimos 21 anos foi
responsável pela morte de 843.451 pessoas,
das quais 43,3% eram
pedestres e 4,5% ciclistas, números que assustam
pois representam mais do que todos os atos terroristas cometidos em mais
de 50 anos pelo mundo afora.
De acordo com dados da
ONU, tomando como base o ano de 2010, morrem aproximadamnte 1,3 milhões de
pessoas em acidentes de trânsito ao redor do mundo. O total de pessoas, vítimas
desses acidentes, incluindo as que morrem chega a mais de 50 milhões de pessoas.
O custo desses acidentes e dessas mortes
naquele ano era de US 518 bilhões de dólares, valor maior do que o
PIB de 160 países, incluindo os custos médicos,
hospitalares, ausências do trabalho e a previsão da sobrevida que haveria se
essas mortes, desnecessárias, não houvesem ocorrido
O Brasil, como em tantos
outros aspectos, quando comparado com
outros países, está e continua muito feio na foto. Nosso país é o quarto no
ranking mundial de mortes por acidentes de trânsito, perdendo apenas para a
China, a India e a Nigéria, mas quando comparado por índice de mortes por 100
mil habitantes, entre os quatro mencionados, somos o segundo onde o trânsito
mais mata, pior do que na China, na Índia, nos EUA, no Japão e em todos os
países Europeus, Canadá e Austrália.
Por ano morrem mais de 46 mil pessoas em acidentes
de trânsito em nosso país. O total de mortos no trânsito de 1996 a 2017, deverá
chegar a 843.451 mortes violentas, que poderiam ser plenamente evitadas se
nossa legislação do trânsito fosse
respeitada, desde que os poderes públicos exercessem uma efetiva fiscalização
e os infratores fossem de fato
punidos. Da mesma forma que a impunidade acoberta a corrupção política e
empresarial, também a impunidade e penas
consideradas leves ou brandas demais acabam sendo a regra geral nos acidentes e
mortes no trânsito.
As estatísticas de acidentes e mortes no
trânsito demonstram de forma clara que estamos diante de uma verdadeira
carnificina. Ficamos horrorizados quando um ato terrorista mata 10 , 20 ou cem
pessoas na Europa, nos EUA ou em outros
países, e parece que aceitamos de forma passiva
quando sabemos que em 2017 deverão morrer em torno de 46 mil pessoas em
acidentes de trânsito em nosso país. Dessas, nada menos do que 43,3% são pedestres, como bem demonstrou o MAPA DA VIOLÊNCIA, para
o período de 1996/2010. Neste período
225.361 pedestres morreram ou melhor, foram assassinados por motoristas
irresponsáveis, verdadeiros assassinos
ao volante, muitos dos quais sequer foram presos ou indenizaram suas vítimas.
No mesmo período
23.445 ciclistas também foram vítimas de
um trânsito violento e assassino e o que
se apresenta como uma escalada nesta violência no cotidiano de nossas cidades,
99.203 motociclistas também perderm a
vida. No conjunto desta tragédia, os pedestres representam 43,3% das mortes no
trânsito; os ciclistas 4,5% e os
motoclclistas 19,1%, totalizando 66,9% das mortes no trânsito.
Em termos de uma visão evolutiva, percebemos que
no período considerado as mortes de pedestres apresentaram uma redução annual de 51,5%, os ciclitas um aumento
de 207,8% e os motociclistas um aumento vertiginoso de 846,5%, o que indica
que estamos diante de uma tragédia anunciada, uma escalada sem paralelo, no que tange `a violência no trânsito.
No Brasil as mortes por
acidentes de trânsito, ocupam em termos gerais a oitava causa de morte, mas
quando consideradas algumas faixas etárias podemos acender o alarme vermelho
antes que esta carnificina passe a ser mais uma rotina a marcar a imagem de
nosso pais.
As mortes no trânsito é a terceira causa na faixa
entre 30 e 44 anos; a segunda na faixa entre cinco e 14 anos e a primeira na
faixa de 15 a 29 anos, ou seja, o trânsito, da mesma forma que o banditismo, os
assassinatos, está matando impiedosamente as nossas crianças, a nossa juventude
e os nossos adultos em plena idade
produtiva.
Enquanto isto,
continuamos a conviver com o noticiário diário dando conta que nossos
políticos, empresários e governantes
estão roubando descaradamente o dinheiro que faz falta para as políticas
públicas em todas as áreas, incluindo saúde, segurança e na mobilidade urbana.
É triste e vergonhoso viver em um país
como o nosso, onde há anos só se fala em operações caça corruptos.
A continuar esta
rotina, a cada década milhões de pessoas continurão morrendo de forma violenta, assainadas no
trânsito ou pela sanha do banditismo que no amedronta, ante o descaso de nossas
autoridades!
JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado
UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs
e outros veículos de comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com
Twitter@profjuacy
Nenhum comentário:
Postar um comentário