FALTA DE PLANEJAMENTO E DE ÉTICA
JUACY DA SILVA
O Brasil é pródigo em
Leis, inclusive “boas leis”, mas ao
mesmo tempo é campeão no descumprimento das Leis, na omissão dos poderes
constituidos e dos orgãos de controle, que se fazem de cegos, surdos e mudos e,
com certa incidência, na atuação desses orgãos a serviço de quem deveria ser controlado. Basta vermos
os escândalos que a cada momento surgem envolvendo agentes públicos que se corrompem
e empresários que, como corruptores, estabelecem a dinâmica das relações entre
esses dois setores, esta seria, de fato, a verdadeira parceria público privada
, ou o que poderiamos chamar de PPPs do
mal ou dos mal feitos, para utilizar
uma expressão tão em voga.
Nos âmbitos federal e
estadual a corrupção e a vista grossa de nossas autoridades gera , a cada ano, bilhões
de prejuizos aos cofres públicos e a população, em licitações com cartas
marcadas, a prorrogação de concessões por décadas a verdadeiras quadrilhas,
como no caso do lixo, dos transportes coletivos intermunicipais, na
fiscalização que nada vê, como foi o recente caso da “carne fraca”, das obras
da Copa de 2014, das olimpíadas do ano passado, nas obras rodoviárias de baixa qualidade, no
super faturamento, nas propinas, caixa dois etc e assim por diante.
Já no âmbito municipal,
pelo fato dos municípios serem os primos pobres da federação e seus orçamentos
serem mais minguados, com excessão das capitais e de algumas cidades com mais
de um milhão ou quinhentos mil
habitantes , a corrupção também está presente, em escala menos gritante,
mas quando somados os diversos casos que se multiplicam e também chegam a
cifras bilionias e que os grandes veiculos e meios de comunicação , ocupados
com os grandes escândalos, de repercussão nacional e internacional, acabam ficando
fora do noticiário.
Além da corrupção o que
denigre a imagem dos governantes locais, tanto ocupantes do poder executivo quanto legislativo, outro
fator é uma omissão que também acaba
favorecendo alguns grupos e pessoas em
detrimento da grande maioria da
população. Parece que as municipalidades abdicam de seu poder de polícia e com
isto contribuem para o agravamento dos problemas.
No caso específico da
mobilidade e da acessibilidade urbanas, por exemplo, se os governantes locais e os “representantes do
povo” nas câmaras de vereadores, realmente estivessem comprometidos e voltados para cumprirem suas
promessas de campanha ou devotados para que o planejamento de médio e longo
prazos fosse realmente a bússula de suas
acões, a maioria dos problemas que afeta a população no âmbito municipal
deixaria de existir em uma ou duas décadas, ou seja, os problemas que angustiam
os moradores das cidades não se eternizariam por décadas e séculos a fio, como, por exemplo os
que afligem a poulação cuiabana e de seu entorno, cuja capital dentro de um ano
e nove meses estará completando seus 300 anos.
Cuiabá e VárzeaGrande,
juntamente com os municípios de Nossa Senhora do Livramento, Santo Antônio do
Leveger , Acorizal e Chapada dos Guimarães
fazem parte da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, onde estão
concentrados em torno de UM MILHÃO de
habitantes, quase um terço da população
de MT, quase 30% do PIB do Estado, onde estão sediados todos os organismos
públicos estaduais dos tres poderes, do MP, do TCE, todas as representações dos
organismos federais e as máquinas
administrativas municipais.
Todavia, aqui também
estão presentes mazelas que já afligiam
a população cuiabana e da região quando Cuiabá tinha pouco mais de cem mil
habitantes e a região considerada nem chegava aos duzentos mil habitantes. A
falta de planejamento, a falta de ética, a falta da continuidade das políticas
públicas, tanto por parte dos governos federal, estadual e municipais, as obras
paralizadas, a incapacidade dos governantes em preverem o crescimento
populacional que podia ser visto claramente, determinou que a ocupação do
espaço físico ou do território de forma desordenada, gerando conflitos e
problemas que até hoje continuam como uma chaga aberta, para flagelo das
pessoas, principalmente das camadas média e mais pobres desta região e vergonha
por parte dos governantes passados e atuais.
Como fundamento básico
para todas essas mazelas, podemos destacar a falta de planejamento e sua implementação, apesar de que tanto o PPA
(plano plurianual), a LDO (lei de diretrizes orçamentária) e LOA (lei
orçamentária annual) e a LRF (lei de
responsabilidade fiscal) serem
requisites legais e obrigatórios para a realização das ações pública.
Todaia, com frequência tais normas legais são burladas, prova disso é a
corrupção desenfreada que denigre nossas instituições públicas.
Em artigos futuros
abordarei alguns dos principais desafios
de Cuiabá , da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá e demais municípios
que integram a nossa empobrecida e sempre esquecida Baixada Cuiabana, onde
diversos municípios que a compõem a cada dia estão sendo apenas cidades
dormitórios e o que isto tem a ver com a qualidade de vida da população e do
que deveria ser base para o conceito de cidades sustentáveis e cidades
inteligentes. Será que vamos nos defrontar com os mesmos problemas daqui a cem
anos, quando serão comemorados Cuiabá 400 anos?
JUACY DA SILVA, professor
universitário, titular e aposentado
UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs.e
outros veículos de comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br
Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
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