ANO NOVO, VELHOS
PROBLEMAS
JUACY DA SILVA
Existe um certo
pensamento mágico entre as pessoas de que com a chegada de um novo ano os
problemas desaparecem e tudo se renova. Isto faz parte de um sentimento inato
do ser humano de, mesmo em meio a dificuldades, problemas, desafios, alguma
força sobrenatural possa agir em nosso
favor e transformar a realidade.
Todavia, isto não é
verdade, pois, com excessão dos desastres naturais, desde que não sejam
provocados pela irresponsabilidade das ações humanas como aconteceu em Mariana,
Minas Gerais, tudo o que acontece no mundo em
cada país ou local, é fruto das ações ou omissões humanas, sejam as
pessoas mais simples sejam os governantes que agem de forma desonesta/corrupta ou
decorrente da incompetência em planejar
e agir racionalmente.
Outro aspecto, o tempo
não é cíclico com o dia e a noite ou as
quatro estações do ano, que se renovam a
cada 24 horas ou a cada tres meses, ou seja, o tempo é continuo e imutável e
isto representa a dimensão do processo
histórico, com suas peculiaridades culturais, sociais, políticas,
religiosas e econômicas. A diferença do
que acontece em um ou outro país decorre da combinação desses fatores e jamais da innfluência de
divindades, entidades, deuses ou demônios. Por mais que algumas pessoas
acreditem que ao se oferecer comida, flores, rezas, preces ou orações, isto não vai transformar pessoas corruptas em
honestas, governantes e gestores incompetentes
e irresponsáveis em seres
competentes e responsáveis de uma hora para a outra, ou transformar políticos
mentirosos e demagogos em representantes que falem a verdade e deixem de
enganar o povo antes, durante e depois das eleições.
No caso do Brasil, por
exemplo, dezenas e dezenas de passagens de ano, milhões de pessoas costumam se vestir de branco ou amarelo, na vã esperança de que naquele minuto mágico da contagem regressiva quando o
relógio se aproxima da meia noite e no
próximo segundo um novo ano vai raiar, enquanto as pessoas em júbilo se
abraçam e festejam o raiar de um novo
ano, os problemas continuam bem ao nosso lado, bem a nossa frente.
O caos na saúde pública
que afeta todos os estados e todos os municípios, onde milhões de pessoas
sofrem com a falta de atendimento não
vai acabar por que um novo ano se inicia, pois os governantes e gestores
que produziram e produzem este caos
continuam os mesmos, agindo de forma cínica como se nada estivesse acontecendo,
afinal a baixa qualidade dos serviços públicos em geral e da
saúde em particular não lhes afeta, quando
precisam de cuidados médicos ou hospitalares
recorrem `a rede privada, pagando os
custos, geralmnte com dinheiro público, enquanto os contibuintes, eleitores ou
os excluídos tem apenas um Sistema falido que é representado pelo SUS.
A violência, seja a
decorrente da bandidagem , do crime oranizado, de acidentes de trabalho ou do trânsito continua crescendo, ano após ano o número de assassinatos, estupros,
sequestros, tráfico de pessoas e mortes nas vias públicas e rodovias aumentam.
Só as mortes violentas no Brasil devem superar
este ano que se finda mais de cem mil pessoas, muito mais do que há dez
ou vinte anos, em rítimo muito maior do que os índices de crescimento
populacional ou de urbanização.
A educação também
continua muito aquém dos desafios
provocados pelas mudanças tecnológicas ou das necessidades do progresso
individual ou coletivo, milhões de crianças
continuam fora da escola ou tendo um aprendizado abaixo das exigências
de uma educação de qualidade. As universidades públicas continuam sucateadas e
as greves de professoreres e
trabalhadores do ensino superior são
constantes motivadas por falta de recursos e de políticas de valorização
do ensino.
A crise econômica, a
inflação, a recessão, a desvalorização
cambial, as taxas de juros absurdas, a inadimplência que já afeta mais de 56
milhões de pessoas, o descontrole das contas públicas, a dívida publica
que deverá superar R$ 2,8 trilhões em 2015,
ultrapassando 70% do PIB e o rebaixamento
da nota do Brasil por duas agências de classificação de risco fará de
2016 um ano muito ruim para o país e
para todos os brasileiros. Tudo isso em meio a operação lava jato e a tentativa
de impeachment da Presidente Dilma e a
crise política.
Finalmente, a falta de
rumo e a mediocridade tanto do governo federal quanto dos governos estaduais e municipais atestam que este novo
ano nada mudará radicalmente. Por exemplo, das 55 metas previstas para serem realizadas em
2015, o Governo Dilma realizou integralmente apenas 6; e das 922 de todos os
governos estaduais 72,3% ficaram apenas no papel.
Mesmo assim, não
podemos perder as esperanças, em 2016 teremos eleições municipais e em 2018
eleições gerais e aí o povo terá oportunidade de dar um cartão vermelho aos
políticos incompetentes e corruptos. Só
assim poderemos dizer sempre FELIZ ANO NOVO!
JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado, mestre
m sociologia, articulista de A Gazeta.
Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
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