A MULHER NA POLÍTICA
JUACY DA SILVA
Ao
longo de séculos ou talvez milênios a posição da mulher tanto do espaço doméstico quanto na sociedade em geral foi
marcada por uma relação de subordinação, principalmente a duas figuras masculinas,
como o pai e o esposo, e, em menor grau a outras figuras masculinas que
representavam e ainda representam alguma forma de poder como o patrão, o chefe
religioso ou o chefe politico.
Essas
formas de subordinação em relação `as estruturas do poder foi e continua sendo
um dos aspectos a serem reformulados ou abolidos para que a verdadeira
igualdade de gênero em termos de direitos,
garantias individuais e de oportunidade seja alcançada.
Assim, a luta pela emancipação da mulher tem girado
em torno de vários aspectos, como a violência contra a mulher, sua inserção no mercado
de trabalho, uma justa divisão do trabalho e dos encargos domésticos, a liberdade
para dispor de seu próprio corpo,
quebrando a hegemonia masculina e o sentido de propriedade que o marido sempre
exerveu e em em menor grau ainda exerce sobre a mulher.
Todos
esses aspectos refletem no fundo
dimensões diferentes de relações de poder. Até mesmo o direito de
frequenter escola, participar do mercado
de trabalho e também o direito de votar
e ser votada, em diversas sociedades só
era possível com o consentimento do esposo ou, no caso, de solteiras, com a
anuência do pai, que também decidia e ainda em vários países decide
com quem as filhas podem ou devem
se casar.
No
dia 08 de setembro e 2000, chefes de estado e de governo decidiram através da ONU que durante uma década e meia, diversos objetivos deveriam
servir para nortear os rumos do
desenvolvimento de todos os países. Esses
refereciais passaram a ser
conhecidos como os Objetivos do Milênio, em vigor até o ano passado,
2015, quando foram avaliados e subsituidos pelos objetivos do desenvolvimento
sustentável, com horizonte até 2030,
onde a igualdade de gênero e autonomia da mulher continuam presentes.
O
objetivo do milênio de número três, estava voltado exatamente para a “promoção
da igualdade de gênero e da autonomia da mulher”, ou também como a “igualdade
entre os sexos e a valorização da mulher”.
Esse objetivo foi desodobrados em metas como
aumentar a participação de meninas e jovens
do sexo feminino na educação fundamental, média e superior; outra meta
era ampliar a participação da mulher no mercado de trabalho e lutar para que
a desvantagem de remuneração em relação
aos homens pudesse ser reduzida e a terceira meta era referente ao empoderamento
das mulheres, mensurada através da
ampliação da presença da mulher em postos eletivos e da gestão pública,
principalmente em nível federal.
No
mundo todo, com excessão de alguns países,
esse objetivo e suas metas foram atingidas. No caso do Brasil, tanto a meta
educacional quanto a do trabalho foram atingidas, com excessão da remuneração
igual para jornada e encagos iguais, neste quesito as mulheres ganham em torno
de 30% menos que os homens.
No
entando, a meta que trata do empoderamento da mulher em nosso país
práticamente ficou muito abaixo
do esperado, pois a participação
da mulher na política, principalmente em postos eletivos para as Assembléias
legislativas estaduais , a Câmara Federal e Senado, da mesma forma que a presença de mulheres em posições ministeriais ainda está muito aquém do que realmente seja
empoderamento das mulheres.
Apesar de que no Brasil desde 1997 ter sido aprovada
uma Lei Federal que determina que os
partidos reservem 30% das vagas de
candidaturas de mulheres para os pleitos proporcionais – Câmaras Municipais, Assembléias Legislativas e Câmara
Federal e posteriormente através de Resolução do TSE estabelecendo, em 2009,
que o partido ou coligação que não atendesse este dispositivo poderia ter o
registro de suas candidaturas para o pleito proporcional rejeitado, só nas
eleições gerais e 2014 é que os partidos passaram a cumprir tal
mandamento legal.
Dados
da União Parlamentar Internacional e da ONU Mulher, indicam que no quesito
“mulheres ocupando posições ministeriais”, o Brasil ocupa a 99a. posição
entre 180 países. No aspecto da
participação das mulheres no Senado as
mesmas representam apenas 13,6% e na Câmara Federal apenas 8,8%.
A
participação das mulheres nas Assembléias Legislativas indicam que a presença das mesmas foi reduzida entre 2010 e
2014, passando de 13,0% para 11,3%. Em
2010 foram eleitas 141 deputadas
estaduais e em 2014 este número caiu para 120, apesar de que o número da
candidatas nas eleições para os parlamentos estaduais tenha aumentado de 3.253
em 2010 para 4.880 em 2014.
Quanto
`a Câmara Federal nota-se um aumento da
presença feminina, ainda que de forma muito tênue. Em 2010 concorreram 1371
candidatas e em 2014 foram 2057 mulhres postulantes, um aumento de 50% no múmero de candidatas.
Todavia, o aumento do número de mulheres eleitas para a Câmara Federal
entre 2010 e 2014
foi de apenas 13,3%, passando de 45 para 51 deputadas federais.
Nos
cargos majoritário também a presença da
mulher no Brasil ainda é muito tênue. Há décadas o número de governadoras e
senadoras tem sido muito diminuto,
geralmente uma ou duas
governadoras e apenas 11 senadoras ou
13,3% do Senado integram a “bancada do baton” naquela Casa de Leis.
Segundo
informações da União Inter parlamentar o Brasil em termos de presença de
mulheres no Congresso Nacional ocupa a 162a. posição entre os 188 países que fazem
parte dessas estatísticas, ficando no
penúltimo grupo com menos de 10%.
Analisando
um pouco mais detidamente, e considerando que nas últimas eleições de 2014, o
Brasil tinha registrados 142,8 milhões de eleitores, dos quais 52,13% eram do
sexo feminino e considerando que 30% das
vagas para os parlamentos foram preenchidas por mulheres, a conclusão clara é
que a grande maioria do eleitorado feminimo não vota nas candidatas que deveriam melhor
representá-las.
Se
considerarmos que a democracia deve expresser a vontade soberana do povo,
através dos eleitores, toda e qualquer mecanismo que seja criado para favorecer um ou outro segmento acaba sendo um fator de
distorção da soberania do voto, portanto
as quotas de candidaturas para mulheres,
pelo menos no caso do Brasil não tem se
mostrado apropriadas para os propósitos que nortearam os legisladores.
De
pouco adiantam Leis que estabelecem
"quotas", seja na política, na educação ou em qualquer outro setor do país ou da sociedade.
Estabelecer quotas é uma forma de tentar
alterar a dinâmica política, social e econômica no tapetão e de forma
artificial. Isto distorce a realidade, inclusive facilitando, no caso da
política o que é chamado “familiocracia”, onde esposos fazem dobradinhas com
suas esposas ou filhas, para se perpetuarem nas estruturas do poder.
No
caso da politica, cabe`as mulheres e aos movimentos que as representam ou as defendem capacitarem as mesmas para lutarem, de igual
para igual com homens, atraves de novas
ideias, novas propostas; ou seja, o povo já anda cansado de politicos demagogos, incompetentes e corruptos.
Neste
contexto, se as mulhres ou mesmo homens com ética, propostas , perfis inovadores e capacidade de
mobilização se apresentarem ao eleitorado, com certeza vão encontrar respaldo e serem eleitas. Só assim será possível acabar com o
machismo, o caciquismo e o mandonismo que dominam a vida partidária e politica
nacional. É preciso acabar com a prática de que os partidos tem donos, os quais
permanecem nas posições de direção e mando por décadas a fio, muitas vezes sendo apenas substituidos por seus
familiares, como acontece nas piores ditaduras mundo afora.
Outro
aspecto, a politica, em todos os paises, inclusive no Brasil, possui uma
interface com os demais setores, com
a economia, com as entidades representativas como sindicatos,
associações de moradores, entidades empresariais, religiosas, ONGs, meio
artístico e de comunicação etc. Com certeza,
esses são setores que devem também ser ocupados por mulheres, através de
luta e espírito competitivo e não como favor, enfim, espaços a serem
conquistados na luta do dia-a--dia, pois só assim irão ganhar maior
visibilidade, credibilidade e poderem concorrer a cargos eletivos não apenas
com discursos novos; mas, fundamentalmente
com práticas novas, superando os velhos
paradígmas da política e da gestão pública brasileira.
Para
disputar o espaço politico, serem
candidatas, ao invés de ficarem escondidas atrás de quotas ou outros artifícios, as mulheres
devem também terem uma militância mais
ativa na vida partidária, muito além dos setores que em cada partido
representam as mulheres.
Um exemplo de como as coisas no Brasil são
exdrúxulas temos o caso do PARTIDOS DA MULHER BRASILEIRA, onde existem poucas mulheres com mandato e a
grande maioria de parlamentares e outros dirigentes são homens, coisa que só acontece no Brasil,
como a obrigatoriedade do voto, uma contradição com a idéia e o espírito da
democracia, onde as pessoas devem participar das eleicões de livre e espontânea
vontade movidas pelo espírito da cidadania e jamais pela imposição
das super estruturas do poder.
Já
imaginaram se alguem resolvesse criar um partido para defender e representar,
com exclusividade, os negros e a maioria
dos dirigentes fosse integrada por brancos? Ou um partido que pretendesse
representar os trabalhadores e, seus dirigentes e representantes, fossem
banqueiros e latifundiários ou grandes empresários?
Finalmente,
é preciso também considerar que não é o fato de ser de um outro gênero que a pessoa passa a ser
competente, idônea e com uma envergadura moral que a credencia para o exercicio de funções públicas ou mandato
eletivo.
Exemplo,
Dilma é a primeira mulher a chegar ao mais alto cargo da politica nacional, no
entanto seu governo tem sido um desastre econômico, politico e eivado de
corrupcão; o mesmo aconteceu
recentemente com a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, cujo
governo foi outro desastre, com muita corrupção e incompetência em termos
políticos, econômicos e de gestão
pública.
Por
outro lado existem exemplos de mulheres que demonstraram uma grande competência
e honestidade `a frente de seus mandatos, como Indira Ghandi na Índia, Golda
Meir em Israel, Margareth Tatcher na Inglaterra, Angela Merkel na Alemanha e
aqui bem pertinho do Brasil, a presidente Michelle Bachelet eleita
duas vezes para o mais alto cargo do país e que conta com a aprovação de
ampla maioria do eleitorado chileno.
Assim,
cabe as mulheres mostrarem que de fato podem fazer a diferenca em um
mundo, como a politica, marcado pelo machismo, pela incompetncia,
pelo oportunismo, pela demagogia e pela corrupcão!
Estamos
`as vesperas das comemorações de mais um
DIA INTERNACIONAL DA MULHER, na próxima terça feira, 08 de
março deste ano, este é um momento
oportuno para refletirmos o que significa realmente igualdade de gênero ,autonomia e valorizaçao
da mulher!
JUACY DA SILVA, professor
universitário, fundador, titular e aposentado
UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites
, blogs e outros veículos de comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog
www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
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