COMO SUPERAR A VIOLÊNCIA?
JUACY DA SILVA
Em boa hora a CNBB –
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil definiu que o tema da Campanha da
Fraternidade de 2018 seria, novamente, o aprofundamento das discussões, análise
e busca de solução ou formas de superação para um dos ou talvez o maior drama
que não apenas o mundo em geral, mas o Brasil em particular está enfrentando.
Ao longo das últimas
tres, quatro ou cinco decadas, portanto, há praticamente meio século a violência
tem sido um dos temas mais estudados e debatidos em todos os países, incluisive
no Brasil. Em todas as universidades, públicas ou privadas, surgiram e
continuam surgindo núcleos ou setores voltados ao aprofundamento deste tema.
Com certeza milhares de teses, dissertações de mestrado, doutorado ou monografias
em cursos de especialização tem surgido com o objetivo de melhor compreender as
origens, a dinâmica, as formas e consequência da violência em nosso pais.
A CNBB, seguindo
metodologia própria, destaca tres momentos ou tres etapas na busca do
conhecimento para implementar as ações visando superar ou enfrentar problemas
que surgem na sociedade, sempre tendo como parâmetro as sagradas escrituras/Biblia
Sagrada, principalmente o Novo Testamento; a Doutrina Social da Igreja e
documentos emanados dos Papas como Encíclicas, Cartas Apostólicas, Exortações e
outros mais. O método utilizado pela Igreja destaca esses tres momentos ou etapas: VER, JULGAR
e AGIR.
No Caso presente da CF
-Campanha da Fraternidade 2018, em que o tema é a superação da violência, o VER se desdobra em
tres dimensões:a) identificar as múltiplas formas da violência no Brasil, a
partir da realidade local, das paroquias e comunidades, agregadas, posteriormente,
para a realidade diocesana, arquidiocesana e/ou regional; b) a violência como Sistema,
ou seja, como historicamente a violênca em todas as suas formas tem surgido e
evoluido em nosso pais, qual a relação entre violencia e os modelos de
desenvolvimento pelos quais o Brasil tem passado desde o período colonial,
império, república, as formas de ocupação do território e assim por diante; c)
a violência no Brasil atual, com destaque nos ultimos cinco ou dez anos.
O JULGAR , é o momento em
que, de posse das informações, incluindo dados estatísticos, relatos escritos
ou relatos orais, tentamos compreender a questão da violência em suas
diferentes formas ou manifestações, utilizando, com certeza, os aportes científicos das diversas áreas
do conhecimento como psicologia, psiquiatria, sociologia, direito, antropologia,
economia, gestão pública e outras contribuições mais. Todavia, o julgar, no
caso da CF e da CNBB, só pode ser a partir do prisma religioso, fundamentado nos ensinamentos da Igreja, com realce ou
destaque para as tres dimensões: paz,
justiça, inclusive justiça social e reconciliação.
Finalmente, o AGIR, ou seja,
o que fazer para buscarmos a tão sonhada superação da violência que está destruindo
pessoas, destruindo lares e famílias, destruindo comunidades e destruindo o
país, deixando na esteira desta destruição muita dor, muita angústica, muito sofrimento
e muito custo econômico, financeiro, psicológico, humano e a perda de gerações
inteiras que vivem sem esperança de um futuro
, um mundo e um país melhores.
Neste aspecto particular
do AGIR, é também importante uma visão global e ao mesmo tempo compartilhada,
no sentido de que não cabe a Igreja, seja a Católica ou de qualquer outra denominação,
pretender ocupar os espaços que cabem, por responsabilidade, ao Estado, aos
poderes publicos, `as universidades, as demais organizações não governamentais
e nem mesmo o papel e o espaço que cabem `a familia e outras organizações como entidades
sindicais ou partidos politicos.
Na busca da compreensão,
do aprofundamento das análises e na elaboração dos planos, programas, projetos
e ações para enfrentar os desafios das diversas formas de violência que existem
em nosso país, é importante que haja integração de esforços, de recursos
humanos, econômicos, financeiros e orçamentários para que os resultados sejam
alcançados.
A primazia das ações cabe
com certeza ao Estado, afinal é o Estado ou seja, os organismos públicos quem
tem o chamada monopólio da violência, o poder de policia. É o Estado, através dos
poderes legislativos Federal (Câmara Federal, Senado e Congresso), estaduais
(Assembléias Legislativas) e Municipais (Câmaras municipais), quem tem o poder
de legislar, elaborar, mudar, e criar novas Leis, definindo os limites das ações
individuais e as penalidades para quem transgride as leis e normas sociais.
É também o Estado quem
cria, aumenta e cobra impostos, tributos, taxas e contribuições para custear as
ações públicas e manter em funcionamento seus aparatos repressivos, as forcas policiais
e o Sistema judicial e também as políticas públicas. Não tem sentido jogar para
os cidadãos a responsabilidade das ações que cabem, precipuamente ao Estado ou
seja aos poderes públicos, nas diversas áreas e desafios que o país enfrenta e
ao mesmo tempo continuar o Estado abocanhando quase 38% de tudo o que a
população produz, para alimentar uma máquina falida, corrupta e dominada pelo
fisiologismo e privilégio das elites, donas do poder.
É neste contexto, que
precisamos comecar a participar, refletir e contribuir para que a CF 2018 possa
trazer uma luz a um tema tão atual, tão complexo e que tanto faz a população
sofrer.
O assunto continua nos próximos
artigos.
JUACY
DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em
sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veiculos
de comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br
Blog www.professorjuacy.blogspot.com
Twitter@profjuacy
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