INTERVENÇÃO FEDERAL, O
ÚLTIMO CARTUCHO.
JUACY DA SILVA
Há aproximadamente dez
dias escrevi um artigo intitulado “A FALÊNCIA DA SEGURANÇA PÚBLICA”,
demonstrando que o Estado Brasileiro, ou seja, a União, os Estados , Distrito
Federal e municípios estão levando “um baile” por parte do crime organizado em
todo o Brasil e não apenas no Rio de Janeiro.
Esta falência da
seguranca pública está associada também ou principalmente `a FALÊNCIA de outros
serviços públicos, marcadamente a saúde publica, a educação pública, a
degradação ambiental e tem suas raizes na corrupção e incompetência de
governantes que tomaram de assalto as estruturas dos governos e das
instituições públicas, afetando de morte inclusive os órgãos de controle como
tribunais de contas, forcas policiais, Sistema penitenciário, chegando também
aos poderes legislativos e judiciário.
Quando Presidentes e ex
presidentes da República, ministros de Estados, governadores, secretários,
prefeitos, deputados federais, estaduais e vereadores e também integrantes do poder judiciário, altos
dignatários da República e das Estatais e grandes empresários são suspeitos,
investigados, presos e condenados por atos e práticas de corrupção não existe
país e nem serviço público que resista a este câncer que está destruindo a
democracia, o estado de direito e o país.
Portanto, o que se passa
no Rio de Janeiro e diversos estados em todos os setores é algo que a imprensa
escrita, falada e televisada vem batendo na tecla há decadas, inclusive
reproduzindo as mentiras, meias verdades ou desinformação veiculados pelas entidades
governamentais, enquanto o povo sofre, vive em meio a uma guerra suja, com medo
e ao mesmo tempo revoltado com este estado de coisas, os recursos tanto para a
saúde pública, educação pública e segurança pública vem sendo reduzidos tanto
pelo governo federal quanto os governos estaduais e municípios que vivem uma
grave crise fiscal, orcçamentária e financeira.
Em nome da crise fiscal,
o governo federal, com apoio de um Congresso Nacional, onde tem assento mais de uma centenas de parlamentares
que só não foram ainda presos devido ao manto protetor do FORO PRIVILEGIADO,
aprovou o chamado Teto dos Gastos, ou seja, um congelamento dos gastos públicos,
tanto para investimentos quanto custeio, pelos proximos 10 ou 20 anos, apenas
corrigidos pela inflação, quando as necessidades dos servicos públicos,
sucateados há praticamente duas decadas, exigem aumento de investimentos e
gastos de custeio muito acima da inflação.
A prova cabal é o Sistema
penitenciário do Brasil que, conforme relatório do Ministério da Justiça, em dezembro de 2014 tinha 622.202 presos e passou
a ter a terceira maior população carcerária do mundo, chegando a 726.712 presos
em junho de 2016, um aumento de 104.510 presos em 18 meses. Se projetarmos
esses dados para fevereiro de 2018, seguramente podemos concluir que o Brasil
terá dentro de poucos dias nada menos do que 842.834 presos.
Para “abrigar” esses
quase um milhão de presos, dos quais mais de 40% nunca foram julgados e
condenados, são “presos provisórios”, esquecidos nas masmoras que são nossos
presídios, o Sistema penitenciário do país tem apenas 368.049 vagas. O deficit de vagas no Sistema penitenciário
do Brasil era de 250.318 em junho de 2014, passou para 358.663 em dezembro de 2016
e atualmente deve ser de 474 mil vagas.
Mais da metade dos presos
no Brasil tem entre 18 e 29 anos, estão nessas masmorras sem julgamento e
condenação, por pequenos delitos, 64% são negros, analfabetos, semi
alfabetizados, filhos e filhas de familias pbres, miseráveis, que moram em
favelas ou áreas periféricas e foram recrutados pelo crime organizado pela
falta de perspectivas de um futuro dígno.
Este é parte do cenário
que tem levado o Brasil a este caos em que vive não apenas, mas principalmente na
segurança pública e que não será resolvido ao transformar as Forças Armadas em
novos “capitães do mato”, como o foram no Império, quando estavam a serviço dos
escravocratas na busca de negros que fugiram da escravidão.
Conforme relato do
General Heleno, Comandante do Exército, em recente palestra no Senado da
República, depois de 14 meses de ocupação do complexo de favelas da Maré, próximo
`a linha vermelha, Av Brasil e Aeroporto do Galeão, mesmo gastando mais de
R$600 milhões de reais, em menos de uma semana depois da saida das tropas
federais a situação da bandidagem voltou ao que era antes.
Neste meio tempo também
as Forças Armadas foram utilizadas em operações de cerco a favelas no Rio de
Janeiro, com destaque para a Favela da Rocinha e os resultados são extremamente
pífios.
Tendo em vista que o Rio
de Janeiro é o quinto estado em índices de violência, de homicícios esta
intervenção, determinada por um Governo que não tem nenhum apoio da opinião pública
e um Congresso totalmente desacreditado aos olhos da população, conforme as
mais recentes pesquisas de opinião pública, estará fadada ao fracasso e até
mesmo a desmoralização das Forças Armadas, que não podem se transformar
novamente em capitães do mato do século 21, caçando pobres, miseráveis que
vivem nas favelas e áreas periféricas das cidades, como vai acontecer se a
justiça conceder mandados de busca e apreensão coletivos, como pretende o
Governo, uma verdadeira aberração jurídica, ao permitir a violação de direitos
fundamentais da população pobre e excluida.
Será que algum juiz
concederia um mandado deste tipo para que um bairro nobre do Rio de Janeiro ou
de qualquer cidade que também pudesse ser objeto de busca e apreensão de forma
indiscriminada?
Voltarei ao assunto
oportunamente.
JUACY DA SILVA, professor
universitario, mestre em sociologia, articulista de jornais, sites e blogs.
Email professor.juacy@yahoo.com.br
Blog www.professorjuacy.blogspot.com
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