VIOLÊNCIA NA AMAZÔNIA
JUACY DA SILVA
Estamos a menos de duas
semanas para o encerramento da Campanha da Fraternidade de 2018, cujo tema é “Fraternidade e a superação da violencia”.
No Domingo de Ramos, dia 25 de Março próximo, será o DIA NACIONAL DA COLETA SOLIDÁRIA, quando os católicos de todo o
Brasil farão um ato concreto de solidariedade para que as Arquidioceses,
Dioceses, Paróquias e comunidades possam dispor de fundos que servirão de apoio
para projetos em prol de milhões de familias que continuam `a margem de nossa
sociedade.
Além deste gesto
concreto, também devemos continuar, para além do término da Campanha da
Fraternidade, nossas reflexões sobre as causas, diversas formas e as
consequências da violência em nosso país e o que podemos fazer de concreto para
contribuir para a superação deste grande desafio, visando a construção de uma
sociedade e um mundo melhores, baseados na compreensão, no diálogo, na justiça
e na recuperação de pessoas que estejam participando ou sendo vítimas desta
onda de violência que tanto medo e sofrimento tem causado ao povo brasileiro.
Dando continuidade `as
reflexões que venho realizando, na forma de artigos que são veiculados em
jornais, revistas, sites, blogs e outros veiculos de comunicação, gostaria de
chamar a atenção dos leitores sobre uma dimensão muito concreta nesta questão
da violência e que atinge uma das áreas mais emblemáticas do Brasil. A reflexao
de hoje é sobre a violência na Amazônia.
A Igreja Católica,
atraves da CNBB, da Caritas brasileira, da CPT, do CIMI e da REPAM-Brasil –
Rede Eclesial Pan Amazônia, vem dando uma grande ênfase na questão da Amazônia,
não apenas sua parte brasileira mas também da PAN AMAZÔNIA, de cujo território
também fazem parte os paises limítrofes como Venezuela, Guiana, Colômbia,
Equador, Peru e Bolívia e sua importância nas questões do clima, do meio
ambiente e do desenvolvimento economico.
Antes mesmo da chegada
dos portugueses e espanhois nesta parte da América do Sul, a Amazônia era
povoada por diversas tribos ou nações indigenas, as quais por séculos foram
vítimcas de violência por parte dos colonizadores e ainda continuam sendo
vitimas da violência da ganância dos modernos colonizadores do século 21, que a
titulo de “desenvolverem” a Amazônia acabam espoliando, matando, dizimando não
apenas as populações indigenas como também desrespeitando o modo de vida e o
direito `a vida e ao trabalho de ocupantes tradicionais como seringueiros,
garimpeiros, pequenos agricultores, ribeirinhos.
É neste sentido que o
Papa Francisco, em 2017, anunciou a convocação do Sínodo Especial da Pan
Amazônia, a ter lugar em 2019, com tres grandes três finalidades: Identificar
novos caminhos para a Evangelização na Amazônia,Com enfoque especial aos
povos indigenas e a crise da Floresta Amazônica.
A violência relacionada
`a posse e uso da terra tem contribuido para a eclosão de diversas conflitos
como bem atestam as informações contidas no recem publicado Atlas de conflitos
na Amazônia, CPT, 2017; o Relatório Violência contra povos indigenas no Brasil,
CIMI, 2016; o Relatório estadual “Direitos humanos e da terra MT e Brasil, 2017
e o Relatório sobre Direitos Humanos no mundo, Anistia Internacional 2017/2018,
onde a parte relativa ao Brasil não é nada animadora.
Conforme notícia do site
UOL/Folha online de 02/10/2017, no ultimo ano 977 áreas na Amazônia Legal
estavam em disputa, algumas que geraram conflitos e muita violência, incluindo
massacres, assassinatos de agricultores ou indigenas. Nessas áreas viviam mais
de 93 mil familias ou aproximadamente 550 mil pessoas, incluindo crianças e mulheres
que também foram vitimas de violência.
De fato, não podemos ignorer
que o desmatamento, a ação de grileiros, latifundiários e a construção de
grandes barragens, além da exploração de minérios é uma violencia não apenas
contra o meio ambiente como também contra a população, principalmente indigenas
e populações originárias da Amazônia, incluindo seringueiros e povos nomads.
A expansão das fronteiras
agrícolas na pré Amazônia e na Amazônia propriamente dita, com destaque para os
Estados de Mato Grosso, Pará, Rondônia e Acre, tem estimulado muitos conflitos
naquela regiao, alguns desses conflitos com repercussão internacional, com
prejuizo para a imagem do Brasil no exterior. Há quem afirme que o Estado
brasileiro não apenas se omite diante de diversas desses conflitos como também
participa de atos de violên cia contra a população.
Além da violência
relacionada `a questão da terra, a Amazônia também tem sido marcada por altos
índices de violência urbana, maiores do que a média nacional. Entre os 30
municípios mais violentos do Brasil 7 (23,3%) estão na referida região. E entre
as 17 capitais mais violentas, 8 (47,1%) estão na Amazônia. Com excessão do
Acre, todos os demais estados da Amazônia Legal, inclusive Mato Grosso, tem
índices de violência maiores do que a média nacional; todos esses estados tem
índices de violência superiores aos do Rio de Janeiro, considerando numero de
assassinatos por cem mil habitants.
O número de assassinatos
no Brasil entre 2005 e 2015 aumentou em 22,7% e a média deste número na
Amazônia Legal para o mesmo periodo foi de 90,8%. Entre o ano de 2000 e 2017 as
estimativas e dados oficiais indicam que mais de 120 mil pessoas foram
assassinadas nos Estados da Amazônia Legal.
Para concluir, devemos
ter em mente que os Estados da Amazônia Legal tem fronteira “seca” com diversas
países Sul Americanos, em extensão
superior a mais de 8 mil km, por onde entram armas, drogas, contrabando, onde a
atuação do crime organizado nacional e internacional contribui sobremaneira
para o aumento da violência.
Este é um tema tão ou
mais importante do que os motivos que determinaram a intervenção federal/militar
no Rio de Janeiro, mas parece que não tem motivado nossos governantes a tomarem
medidas mais concretas para a superação desta violencia regional. É um caso a
pensar!
JUACY DA SILVA, professor universitario aposentado UFMT, articulista
e colaborador de diversos veiculos de comunicação, mestre em sociologia.
Twitter@profjuacy Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogs;pot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário