A TEMPERATURA ESTÁ
ESQUENTANDO
JUACY DA SILVA
Estamos em pleno outono,
a caminho do inverno, ou seja, quando a temperatura no hemisfério sul esfria de
forma continua. Enquanto isto, a temperatura politica brasileira esquenta de
forma rápida, alimentada por conflitos de interesses, novas denúncias de
corrupção envolvendo gente graúda, incluindo muitas autoridades que gozam de
impunidade para seus mal feitos, graças ao famigerado “foro especial” ou em
linguagem técnica “foro por prerrogativa de função”, crise econômica que
persiste, desemprego que ainda é o flagelo de mais de 13,2 milhões de
desempregados, além de outros 15,5 milhões de subempregados, descrença
generalizada da população em relação aos politicos e demais autoridades em
todos os níveis e assim por diante.
Além desses fatos, ainda
podemos assistir ao vivo os debates no STF e constatar que a mais alta corte de
justiça do pais esta rachada ao meio, principalmente quando se trata de definir
questões que afetam autoridades com foro privilegiado. Costuma-se dizer que
generais, altos dignatários religiosos, politicos e integrantes do poder
judiciário e também membros do ministério público mais se parecem com
semi-deuses, donos da verdade absoluta, esquecendo-se de que tanto as políticas
quanto as ações de governo, nos tres poderes, são custeadas pelo suado dinheiro
do contribuinte, incluindo metade da população que vive ou sobrevive quase
vegetando com um salário de fome ou graças a algumas migalhas que caem dos
orçamentos publicos, enquanto os marajás da República continuam com seus altos
salários e demais mordomias.
Outros fatos que estão
aquecendo a temperatura política e social no Brasil nos últimos meses podem ser
destacados: a condenação e prisão do ex presidente Lula, que, apesar de preso,
ainda é o candidato da preferência do povo/eleitores brasileiros; a condenação
e com certeza prisão do ex governador e ex senador mineiro, Eduardo Azeredo,
envolvido em corrupção no chamado mensalão Tucano, apesar de que muita gente,
por algum tempo, ter acreditado que todos os partidos, menos o PSDB, flertavam
ou ainda flertam com a corrupção.
Neste aspecto outro fato
neste clima politico quente foi a decisão do STF tornando réu o outrora cacique
do PSDB, Senador Aécio Neves, que também, tudo leva a crer, pelo andar da
carrugarem, irá parar atrás das grades,
a menos que o STF mude sua postura e decisões e dê uma “forcinha” para que
condenados em segunda instância possam recorrer das sentenças em liberdade,
garantindo uma certa impunidade graças `a morosidade como os investigados com
foro privilegiado gozam junto aos tribunais superiores, tudo isto, com algumas
excessões, é claro, como aconteceu com o ex senador Delcídio do Amaral.
Contra algumas posturas
consideradas dúbias ou contraditórias do STF e outros tribunais superiores,
parece que está havendo um certo “mal estar” por parte da cúpula militar,
principalmente no Exército, envolvendo alguns generais de pijama e também parte
dos generais do Alto Comando, incluindo o próprio Comandante do Exército, com
pronunciamentos considerados duros e muito críticos em relação ao momento
atual.
Fazendo coro com tudo
isso, a candidatura do Deputado e ex capitão do Exército, Jair Bolsonaro,
bastante conhecido por suas posições radicais, seus discursos inflamados, está
bem consolidada e , a menos que surja um fato novo, tende a chegar ao segundo
turno das eleições presidenciais deste ano, se é que vamos mesmo ter eleiçõs em
outubro proximo.
Há poucos dias, o Senador
Requião, do PMDB/PR divulgou um pronunciamento pelas redes sociais, alertando o
país, autoridades e instituições sobre a gravidade do momento que estamos
vivendo, incluindo os atentados a bala contra a caravana de Lula no Sul do país
e contra o acampamento dos simpatizantes do ex presidente em Curitiba. Segundo
Requião estamos vivendo um clima muito tenso que pode desembocar em conflitos
violentos no país, exigindo ou dando margem para uma intervenção militar, não
como a que ocorre no Rio, mas como um golpe militar e a quebra da “normalidade
democrática” e o rompimento dos liames que sustentam um estado democrático de
direito.
Enfim, parece que estamos
mais próximos de um enfrentamento generalizado entre grupos de interesses
conflitantes que podem levar o país ladeira abaixo, com sérias repercussões na
economia e nas instituiçoes. Muita gente vê uma certa semelhança com o final de
1963 e os idos de março de 1964 e o restante da estória e história que bem
conhecemos.
Costuma-se dizer que é
facil perceber quando os tanques, veiculos blindados e militares saem das casernas,
difícil é prever ou antever quando voltarão, novamente, aos quartéis. Este
filme tem sido visto e revisto em alguns países, como no Egito, por exemplo e
não custa colocar “as barbas de molho”.
JUACY DA SILVA, professor universitario, titular e aposentado
UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de diversas veiculos de
comunicação social. Email professor.juacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy Blog
www.professorjuacy.blogspot.com
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