UM PAPA NEGRO?
JUACY DA SILVA
O mundo todo, principalmente os católicos, tanto a hierarquia
quanto os leigos em geral, foram pegos de surpresa pelo anúncio feito pelo Papa
Bento XVI, há poucos dias, de que no ultimo dia deste mês de fevereiro irá
abdicar de suas funções papais. O último papa a renunciar, em meio a uma crise
política e institucional que abalava a igreja católica, foi Gregório XII em
1.415, há 598 anos.
Bento XVI alega, como motivos básicos para sua renúncia, suas
condições de saúde que não mais lhe permitem exercer em sua plenitude as
funções pontifícias e sabendo dos desafios que estão por vir, de forma
consciente, corajosa e com muita humildade abre espaço para que a Igreja possa
escolher um novo Papa, dentro de no máimo três semanas ou pouco mais de um mês.
As especulações sobre que outros motivos, além das
dificuldades de saúde, teriam influenciados nesta extrema decisão, como os
escândalos sexuais que têm abalado a igreja nos últimos anos ou as acusações de
envolvimento do Banco do Vaticano com lavagem de dinheiro, foram logo colocadas
por terra.
Passados os primeiros dias do choque provocado pela anúncio
de Bento XVI, antes mesmo de sua renúncia formal e definitiva que deverá ocorrer no final deste mês, as
atenções se voltam agora para o Conclave (reunião dos cardeais que deverá escolher o novo Papa)
cuja “bolsa de apostas” já está aberta,
alimentada pela grande midia internacional e pelas avaliações dos
especialistas em Vaticano.
O Colégio cardinalício
é composto por 208 cardeais, sendo que
apenas 118, com menos de 80 anos, tem direito a voto. Desses, 62 são da Europa
(28 italianos); 17 da América do Norte (11 dos EUA), 13 da América do Sul (10
do Brasil, sendo 4 com mais de 80 anos, portanto apenas 6 com direito a
voto para escolher o novo Papa); 3 da América Central; 11 da Ásia; 11 da África
e um a Oceania.
Segundo os especialistas em Vaticano, possivelmente o
novo Papa deverá ser alguém mais jovem
do que Bento XVI quando foi escolhido, possibilitando, assim um papado mais
longo para poder imprimir sua marca ao longo de pelo menos duas décadas ou
mais, como aconteceu com Leão XIII, cujo
papado foi de 1878 a 1903; ou de Pio XII que governou a Igreja por 19
anos, de 1939 a 1958 ou de João Paulo II, o Papa peregrino, que deixou sua
marca ao longo de 27 anos, de 1978 a 2005.
Além da idade, outros fatores pesam na escolha do novo Papa
como sua inserção da burocracia do Vaticano; posições teológicas e doutrinárias
em relação aos vários temas em debate dentro e fora da Igreja, incluindo questões éticas, moraes,
econômicas, políticas, culturais e inclusive o diálogo inter-religioso.
Nessas e em outras questões existem três correntes dentro da
Igreja Católica: a conservadora, a
moderada e a chamada progressista. Esta última mais alinhada com as
grandes transformações advindas com o Concílio Vaticano II, que em 2012
completou meio século de convocação, pelo também saudoso Papa João XXIII, que
governou a Igreja por apenas 5 anos, de 1958 a 1963.
Dentre os possíveis escolhidos, as apostas recaem sobre Ângelo
Scola, arcebispo de Milão, especialista no diálogo entre cristãos e
mulçumanos; Ângelo Bagnasco, Arcebispo de Gênova, critico do Governo
Berlusconi pela corrupção e pelos desvios éticos, bastante vinculado `a
política secular e a mídia, foi duas vezes presidente da Conferência dos Bispos da Itália; Marc
Quellet, canadense e ex-arcebispo de Quebec, é presidente da
Congregação dos Bispos do Vaticano, experiente e estudioso das questões da
secularização do mundo occidental, muito próximo de Bento XVI em questões
teológicas e doutrinárias; Gianfranco Ravasi, elevado a cardeal
em 2010, é presidente do Conselho
Cultural da Santa Sé e um mestre em
comunicação, muito familiar com a burocracia do Vaticano; Leonardo Sandri, chefe do
Gabinete do Vaticano para as relações da Igreja na Ásia e por muitos anos um
diplomata da Santa Sé.
Completando esta lista não podem ser destacados o Cardeal
Peter Turkson, de 64 anos, Arcebispo de Cape Coast, em Gana; filho de
pai católico e mãe metodista, ex-presidente da Conferência os Bispos de Gana, elevado a Cardeal em 2003, com 55 anos e
Presidente do Pontifício Conselho de Justiça e Paz, desde 2009.
Caso a escolha recaia sobre Peter Turkson, ou mesmo
sobre o Cardeal Francis Arinze (com quase 80 anos) da Nigéria, a Igreja
Católica poderá ter o seu Papa Africano e Negro, fato que poderá ser
considerado uma grande transformação na postura da Igreja, como foi a escolha
de Obama como o primeiro presidenente
negro nos EUA.
JUACY DA SILVA, professor universitário, UFMT, mestre em
sociologia, colaborador/articulista de Hipernotícias. Email professor.juacy@yahoo.com.br
Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
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