SOCORRO, O RIO CUIABÁ
ESTÁ MORRENDO!
JUACY DA SILVA
Há poucos dias, como
atividade incluida nas comemorações da
semana do meio ambiente de 2016, vários grupos de pessoas desceram o Rio
Cuiabá, em canoas e barcos catando
entulhos, vários tipos de lixo que
diariamente são jogados ou descem através de córregos, ,atualmente apenas esgotos a céu aberto e contaminam não apenas
as águas deste, que outrora foi um rio navegável, mas que ano após ano está
também se transformando em um dos maiores esgotos da bacia que alimenta o
Pantanal, ante o descaso de nossos governantes
e de boa parte da população que não percebem que saneamento básico é
fundamental para a saúde e o meio ambiente.
O Rio Cuiabá é um dos
principais formadores da bacia do Rio Paraguai e continua morrendo um pouco a
cada dia tanto pela quantidade de lixo e ou principalmente por milhões de
toneladas de esgoto, in natura que nele
são lançadas tanto pelos dois municípios que formam o maior aglomerado urbano
de Mato Grosso, respectivamente Cuiabá e Várzea Grande, quanto pelos demais 11
municípios que formam a Baixada Cuiabana.
Há aproximadamente 25
anos o governo de Mato Grosso juntamente com o BID - Banco Interamericano
de Desenvolvimento criaram um programa,
estimado naquela época em mais de 400 millhões de dólares denominado BID PANTANAL em que eram previstas várias
ações na bacia do Rio Cuiabá, incluindo projetos de saneamento básico como
forma de evitar a degradação tanto do Rio Cuiabá e seus afluentes quanto o próprio Pantanal.
Com a chegada do
Governo Blairo Maggi este programa não teve continuidade e de forma semelhante
praticamente nada foi feito em termos de saneamento básico na região há mais de
duas décadas. Tanto Cuiabá e Várzea Grande quanto os demais municípios e seus núcleos urbanos continuaram e
continuam não investindo nada em coleta e tratamento de esgotos.
O útimo relatório do
Instituto Trata Brasil, que analisa a situação do saneamento básico, com destaque para o abastecimento de
água e o esgotamento sanitário nas cem maiores cidades do Brasil, em sua edição
de 2015, tem uma referência que é um alerta bem claro da situação e das
pespectivas desta questão ao afirmar que
“Com desperdício de 65% de toda a água
tratada em Cuiabá e investimento zero em
coleta e tratamento de esgoto em Cuiabá e Várzea Grande, as duas cidadess
maiores cidades de Mato Grosso não configuram como exemplo de gestão em
saneamento básco”. Entre as 100 maiores cidades analisadas na pesquisa
Cuiabá fica na 70a posição e Várzea Grande na 97a posição, situação que deveria
envergonhar as autoridades estaduais e municipais.
As estimativas demográfcas do IBGE indicam que a
população total da bacia do Rio Cuiabá em 2015, são de 990,8 mil habitantes,
sendo 915,5 mil habitantes na área
urbana e 75,3 mil habitantes na área rural.
A população urbana da
região produz em torno de 300 kg de lixo
per capita ano, totalizando pouco mas de 2,9 milhões de toneladas ano, com estimativa
de que apenas 80% são coletados pelos
respectvos municípios. O restante, 580 mil toneladas são depositadas em lugares
impróprios como terrenos baldios, córregos, margem de ruas ou queimadas. Alguns
municipios sequer tem coleta regular de lixo, princpalmente em bairros
periféricos, muitos dos quais formados a partir de invasões ou loteamentos
irregulares.
Todavia, o maior
problema, além do lixo é a falta de rede coletora e de estações de tratamento
de esgoto. Este é um dos problemas mais
sérios não apenas de Cuabá e Várzea Grande, mas do Brasil como um todo. O maior
exemplo de como a falta de saneamento básico degrada os rios e córregos em
áreas urbanas foi o que aconteceu com os Rios Tietê, Pinheiros e Tamanduateí,
em SP, que atualmente podem ser
considerados o maior esgoto a céu aberto da Améica do Sul. Isto
também pode acontecer e já está
acontecendo com o Rio Cuiabá e todos os seus afluentes, princpalmente os
córregos de Cuiabá e de Várzea Grande.
A população urbana
da Baixada cuiabana produz 2,2 milhões
de M3 (metro cúbico) de esgoto por ano. Cuiabá
, a cidade em “melhor “ situação coleta apenas 38% de seus esgotos e trata 28%
do volume de esgoto produzido; os demais municípios estão em situação muito
pior, a maioria dos municípios da região sequer tem redes de esgoto e todo
volume produzido é lançado nos cursos
d’água, tendo o Rio Cuiabá e o Pantanal,
considerado patrimônio da humanidade, como destino final.
Lamentavelmente nossos
governantes imaginam que saneamento básico é luxo e não investem nesta área ou sequer consideram
este tema como um dos maiores problemas da região. Quem vai pagar a
fatura pelo descaso dos governantes passados e atuais serão as próximas gerações.
Enfim, a situação do
Rio Cuiaba é grave. A falta de investimentos em saneamento básico tanto em
Cuiabá quanto em Varzea Grande e demais municipios da Baixada Cuiabana
demonstram o descaso de nossos governantes em passado recente e na atualidade.
Caso nada seja feito comurgência, dentro de poucos anos ou no maximo duas decadas o Rio Cuiabá e o Pantanal estarão
totalmente degradados. Esta será a heranca que a incompetencia e o descaso
deixarão para as próximas gerações, um passivo ambiental que para ser reparado
irá custar bilhoes de reais ou de dólares. Isto e uma vergonha!
Saneamento básico e
educação ambiental são fatores fundamentais para a saúde pública e para o
desenvolvimento de qualquer região, razão pela qual essas áreas devem tambem
ser consideradas como eixos estratégicos
para o desenvolvimento sustentável dos municípios que integram a Baixada
Cuiabana.
Pare e pense
um pouco nesta questão, pois um dia todos vão se lamentar que o Rio
Cuiabá está morto.
JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado
UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
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