NOVEMBRO AZUL E O CAOS NA SAÚDE PÚBLICA
JUACY DA SILVA
Anualmente tanto o mundo
quanto o Brasil destacam alguns dias e meses para que sejam enfatizados alguns
aspectos relacionados com a saúde, como forma de chamar a atenção da opinião
pública quanto aos cuidados com as doenças, principalmente as que mais
afligem a população e as que mais matam
as pessoas. A ênfase nesses alertas é quanto a importância dos diagnósticos
precoces, a fim de que as doenças sejam identificadas em seus estágios iniciais
e, assim, possam ser tratadas e até mesmo curadas. Neste sentido, a prevenção é
a medida mais importante, principalmente quando se sabe que muitas doenças são
agravadas pelos hábitos alimentares e estilo de vida das pessoas.
Por outro lado, os
cuidados com a saúde, na grande maioria dos países, principalmente onde a
concentração de renda, riquezas e oportunidades é grande ou com índices
absurdos, como no Brasil, a grande maioria da população é constituida por
camadas pobres e miseráveis e que não dispõe de renda suficiente sequer para
sua subsistência e dependem única e exclusivamente dos serviços de saúde
pública para se prevenirem das doenças e se cuidarem corretamente
No Brasil, com o advento
da Constituição Federal de 1988 e com a Lei de criação do SUS, a idéia era que
a universalização da saúde pública pudesse atender de forma humana, eficiente e
eficaz milhões de pessoas que vivem em condições econômicas e sociais
precárias. Todavia, como soe acontecer,
em nosso pais tanto as Constituições quanto as Leis são muito mais figuras de
retórica do que bases concretas para a ação política, entendida esta como o
conjunto das ações do Estado ou dos poderes constituidos. Como se diz: “para
inglês ver”, ja que a saúde pública no Brasil a cada dia afunda mais no caos,
como o noticiário dos meios de comunicação demonstram amplamente todos os dias.
A saúde pública no Brasil a cada dia esta se transformando em casos de
polícias, tantas são as mazelas que a caracterizam, indo desde a corrupção,
passando pela incompetência, gestão fraudulenta, falta de recursos humanos,
financeiros, equipamentos e descaso com os usuários.
É neste contexto que devemos refletir sobre o
novembro azul, dedicado `a prevenção, cuidados e alerta em relação ao câncer de
próstata que, conforme relatório recente da OMS – Organização Mundial de Saúde
vem se constituindo em um dos mais sérios problemas de saúde pública no mundo,
seja pela complexidade da doença quanto pelos elevados custos de tratamento.
Conforme a OMS no mundo
em 2012 foram diagnosticados 1,1 milhões de novos casos de cancer de próstata
com 300 mil mortes e as previsões indicam que em 2025 serão mais de 2,0 milhões
de novos casos e mais de 600 mil mortes; uma verdadeira catástrofe muito maior
do que todas as guerras e conflitos em
curso no mundo atualmente.
No Brasil a situação
tambem é grave, principalmente pela precariedade da saúde pública que
impossibilita o acesso de milhões de homens que deveriam realizar exames
anualmente e não conseguem ou quando conseguem, após meses ou anos na fila de
espera, acabam sendo diagnosticados
tardiamente e morrem sem assistência e tratamento adequado.
Entre 1980 e 2014 no
Brasil morreram 251.165 homens devido ao câncer de próstata e nada menos do que
285.165 mulheres com câncer de mama, totalizando 536.535 mil óbitos, boa parte
que poderiam, perfeitamente, ser evitadas se fossem diagnosticadas e tratadas a
tempo. A maior parcela dessas pessoas, como de resto, milhões de outras, morreram
e continuam morendo, prematuramente, como se fossem condenadas `a morte pela
omissão dos poderes públicos e pelo descaso
dos governantes em relação `a saude pública, enfim, a saúde dos pobres,
já que as pessoas das classes media, media alta e alta possuem recursos
suficientes para terem planos de saúde ou custearem suas próprias despesas com
saúde, educação e segurança, enquanto os
pobres são relegados a tratamento praticamente sub humano ante o caos que
impera na saúde pública, nos níveis federal, estaduais e municipais, em todos
os Estados e regiões.
A chance de morrer por
falta de atendimento em saúde é de dezenas de vezes maior entre os pobres do
que entre os ricos e dos donos do poder no Brasil. A fila para atendimento na
saúde pública no Brasil é pior do que o “corredor da morte” nas penitenciárias
de alguns países em que a pena de morte é adotada. Morre muito mais gente por
falta de atendimento da saude pública no Brasil do que pessoas executadas por pena de morte no mundo todo.
O importante também
a destacar é que as taxas de mortalidade
por câncer em geral, quanto de câncer de mama e de próstada vem aumentando ano
após ano. Em 1980 a taxa de câncer de mama era de 6 por 100 mil mulheres e a de
cancer de próstata era de 4 por 100 mil homens; em 2014 passaram para 14 por
cem mil, tanto para o câncer de mama quanto de próstata. Isto corresponde a
aproximadamente 28 por 100 mil habitantes.
Em media a cada ano são
diagnosticados em torno de 65,2 mil novos casos de câncer de próstata e de 13,1
mil óbitos decorrente desta doença, enquanto foram diagnosticados 57.960 novos câncer de
mama, que tambem foi responsável por
14.388 mortes em 2016.
Esses também são aspectos
que não podem ser deixados de lado quando falamos em outubro rosa ou novembro
azul. É mais do que urgente que nossos governantes deixem a demagogia e as mentiras
de lado e destinem recursos suficientes para que a saúde pública não continue
mantando dezenas de milhares de pessoas a cada ano, simplemente porque são
pobres e dependem única e exclusivamente da saúde pública que vive um caos
permanente há décadas.
JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado
UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites e
blogs. Email professor.juacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy Blog
www.professorjuacy.blogspot.com
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