AS ELEIÇÕES E A CRISE BRASILEIRA
JUACY DA SILVA
Muita
gente imagina que eleições resolvem os problemas que afligem o país ao longo de
décadas ou séculos ou que um Salvador da pátria deverá emergir das urnas e,
como em um passe de mágica tudo estará resolvido. Isto é uma grande
mistificação, uma falácia, um grande engodo que precisa ser analisado, debatido
para que o povo não caia em verdadeiras armadilhas que favorecem apenas os
donos do poder, como tem acontecido ao longo da história de nosso país.
Eleições
em uma “democracia” corroida pela corrupção das elites governantes e
empresariais, pelo fisiologismo, pelo nepotismo e pelos privilegios dos marajás
da Repúbica enquistados nos tres poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário,
em todos os estados e municipios jamais será a chave para que o país encontre
seu verdadeiro destino que abra espaço para que as camadas excluidos possam também
terem o seu quinhão nos frutos do desenvolvimento.
Precisamos
de reformas e transformações profundas das estruturas que favorecem a
concentração de renda, riqueza, privilégios e oportunidades, que alterrem radicalmente
as estruturas politicas, econômicas e sociais; sem isso, cada eleição nada mais
é do que um momento do despertar das esperanças do povo e, logo a seguir,
voltar `as frustrações como temos vivido ao longo de tantas decadas. Por isso,
precisamos refletir e conhecer melhor nossa história para deixarmos de ser
enganados e manipulados por um marketing falacioso e oportunista.
A
crise pela qual o Brasil vem passando e que a cada dia, cada ano se torna mais
grave e quase insolúvel vem de longe. Basta olharmos para nossa história e
vamos perceber que a mesma é pontuada por diversos momentos críticos e extremamente
grave como o atual.
Dentro
de pouco mais de uma década estaremos “comemorando” um século da chegada de
Getúlio Vargas ao poder e, desde entao, nosso
país vem vivendo “crises em cima de crises” ou “crises dentro da crise”. Se assim
acontece podemos identificar, por exemplo, a constituinte de 1934 com uma constituição
liberal, rompendo com as amarras da República Velha, da politica do café com
leite; seguida de uma grande frustração nacional quando da decretação do Estado
Novo, a ditadura civil, com apoio das Forças Armadas, que vigorou de 1937 até
1945, com a queda de Getúlio Vargas.
A
seguir, o Brasil vive um periodo de relativa estabibilidade politica com o
governo do GENERAL/MARECHAL Dutra e o retorno de Vargas nos braços do povo, com
sua eleição “democrática” e um novo periodo populista do antigo ditador, cujo
governo acabou sendo fustigado pelas acusações de corrupção, cuja crise que
levou o velho ditador e o tão aclamado “pai dos pobres” ao suicidio, em 24 de Agosto de 1954,
seguindo-se um arremedo de crise que foi “pacificada” com a eleição de JK e seu
governo desenvolvimentista e toda a farra/corrupção quando da construção de
Brasília.
O
Governo JK, apesar de sua característica pessoal de um presidente extremamente
habilidoso e conciliador, não evitou algumas tentativas de golpe por parte dos
militares, como aconteceu com as “rebeliões” de Aragarças e Jacareacanga.
Empunhando
a Bandeira do combate `a corrupcao, cujo símbolo era a vassoura, demonstrando a
vontade de varrer todas as safadezeas, mau uso do dinheiro público, enfim, a corrupção
que corria solta pelo Brasil afora, como nos dias de hoje, Jânio Quadros
saiu-se vitorioso em sua cruzada, muito parecida com a atual, em tempos de LAVA
JATO.
Como
mais um politico populista, moralista e extremamente demagogo Jânio Quadros foi
eleito, recebendo votos de todos os espectros do eleitorado e, como naquela
época os eleitores votavam tanto para presidente quanto para vice presidente da
República separadamente, foram eleitos Jânio com apoio da UDN e João Goulart, herdeiro politico de Getúlio
Vargas, representando o movimento trabalhista/sindical ligado ao PTB e tambem as
velhas oligarquias rurais/latifundiários que eram representada pelo PSD,
antecessoras do atual agronegócio. Um casamento bastante extranho que todo mundo
sabia que não iria dar certo, como de fato não deu.
Com
menos de oito meses de governo, de forma repentina, enquanto o vice Joao
Goulart estava visitando a China, no dia 25 de Agosto de 1961, DIA DO SOLDADO,
Jânio Quadros abalou o Brasil com sua renúnica, abrindo novamente uma crise politica-militar
com a tentativa das forcas conservadoras de impedirem a posse do vice
presidente, acusado de comunista, levando o país `a beira da Guerra civil.
Como
soe acontecer, a superação temporária da crise se deu por um pacto entre as
elites do poder, atraves da castração dos poderes do vice- presidente com a “aprovação”
do parlamentarismo, que só ajudou a prolongar por alguns anos a crise.
João
Goulart recuperou seus plenos poderes presidenciais atraves de um plebiscite que
revogou o regime parlamentarista, retornando o Brasil, novamente ao regime presidencialista,
só que o conflito ideológico a cada dia se apresentava de forma mais aguda,
culminando com a derrubada de Goulart e o a intervenção militar em 31 de março
de 1964, cuja história e estorias são bem mais conhecidas pela população.
Depois
de 21 anos no poder, desgastados por uma série de problemas politicos, economicos,
institucionais, internos e
internacionais e a pressão das massas que lutavam pelo fim do regime militar, o país deu um passo
com vistas `a superacao de sua crise permanente, isto ocorreu através da eleição
indireta de Tancredo Neves e José Sarney, antigo presidente do PDS, aliado dos
militares.
Com
a morte de Tancredo Neves, assume o poder o agora democraca Sarney que aceita
convocar uma Assembléia Nacional Constituinte, abrindo “mão” de um ano de seu
mandato que era de seis anos, em nome da “pacificação nacional”, que, muitos
imaginavam viria com a nova Constituição cidadã, como a denominava Ulysses
Guimarães, ao lado de inúmeras figuras de renome e das massas populares que
clamava nas ruas por DIRETAS JÁ, cujo símbolo tambem é identificado em Dante de
Oliveira.
Voltarei sobre este assunto proximamente.
JUACY DA SILVA,
professor universitario, aposentado UFMT, mestre em sociologia. Articulista e
colaborador de diversos veiculos de comunicacao. Email professor.juacy@yahoo.com.br
Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
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