INSATISFAÇÃO GERAL
JUACY DA SILVA
Acada dia e
ano que passa, apesar de alguns
indicadores estarem apontando que o
Brasil de hoje é
muito diferente e, para os donos do poder e classes abastadas muito melhor do que há décadas
ou séculos, o fato concreto é que
o povão e também a classe média
percebem que a vida do brasileiro
não está nada fácil.
Existe uma
cantilena de que o atual governo
“retirou “ 36 milhões de pessoas da
pobreza e da miséria, como se isto fosse uma
dádiva dos governantes, quando
todos sabemos que este “resgate” de milhões de famílias tem sido feito com dinheiro públicos e de uma
forma paternalista e assistencialista. Se por alguma razão,
até mesmo por uma crise
financeira e orçamentária o governo tiver
que congelar tais programas, cujo símbolo maior é o “bolsa família” ou até mesmo a extingui-los, depois de 12 anos,
todas essas pessoas que formam a
famosa “nova classe média” voltariam de imediato `a condição de pobreza,
ou seja, nenhuma mudança estrutural foi realizada, a não ser
a propaganda oficial e as mentiras fabricadas pela mídia
chapa branca.
Todos os dias os meios
de comunicação de massa, principalmente a televisão que ainda é o veículo que mais impacta a cabeça,,a mente e os corações das pessoas,
mostram cenas que chocam os telespectadores e ajudam a incutir o medo, o
desespero e revolta de forma
quase generalizada.
Cenas que mostram pessoas sofrendo em filas de hospitais, prontos
socorros, mães aflitas
que não conseguem atendimento para uma
criança que está praticamente
entre a vida e a morte. Pacientes
que precisam viajar 300 ou até
mil km para conseguirem trataamento de câncer, pessoas vítimas da violência
no trânsito ou da fúria assassina ficam deitadas em corredores de unidades de saúde, gemendo e
sofrendo. Pacientes com doenças crônicas que precisam
ingressar na justiça para
conseguirem medicamentos, sem os quais acabarão vindo a óbito e as vezes nem
mesmo as decisões judiciais que,
supostamente deveriam garantir direitos constitucionais que são a saúde e a
vida, acabam,como sempre descumpridas pelos gestores
públicos e nada acontece. Enquanto isto
os donos do poder tem atendimento em
hospitais de primeira linha, as custas do dinheiro público.
De forma semelhante, reportagens cotidianas ou especiais mostram como são transportados os trabalhadores, em alguns casos em condições piores do que
animais, em ônibus e trens
em precárias condições, sujos,
super lotados , um verdadeiro sofrimento diário, quando
esses mesmos veículos de comunicação
informam que ministros e gente importante dos tres poderes
da Repúblicam usam jatinhos da FAB, para transportarem um unico marajá a um custo absurdo, afora a
afronta que é a manutenção
desses privilégios e mordomias `as custas do dinheiro público, quando
todos sabemos que os salários e outros privilégios desses marajás afrontam o trabalhador que ganha um salário
mínimo de miséria , complementado pelo assistencialismo governamental.
Outro fator
que provoca a insatisfação popular é a violência generalizada que cresce a cada
dia.Não bastasse o terror que o banditismo impõe sobre a população com roubos, furtos,
estupros, sequestros e assassinatos,
a população pobre que vive nas periferias urbanas e nas favelas
ainda tem que conviver com a
violência policial que acaba levando mais
medo e morte Pior em tudo isto é a impunidade, quase sempre nada acontece a
não ser a dor de famílias que perdem seus
entes queridos por “balas perdidas”, eufemismo para justificar a
violência dos agentes
do Estado, que em alguns casos
acaba se confundindo com a violência dos
bandidos e do crime organizado.
O que falar
de pais, mães ou estudantes que
precisam ficar nas filas nas portas de escolas ou na frente de uma
tela de computador para conseguir vaga para matricular uma criança, adolescente ou jovem, em estabelecimentos públicos de ensino ou para
obterem crédito educativo, verdadeiras migalhas, perante o que os bancos oficiais concedem aos grandes grupos
econômicos, a juros subsidiados ou na
forma de “incentivos fiscais” que ajudam, na verdade, a acumulação de capital
nas mãos das elites econômicas, políticas e sociais.
Em meio a tudo isso, a população ainda tem que conviver com uma inflação que
rouba o poder aquisitivo dos
salários, juros extorsivos, verdadeira
agiotagem apoiada pelo governo que está levando as famílias a um endividamento impagável; aumentos dos
preços de energia, dos alimentos e
serviços em geral.
A pá de cal que sepulta as esperanças do povo e
aumenta a insatisfação e revolta das
massas são as constantes denúncias de corrupção
envolvendo governantes, gestores
públicos, partidos políticos e empresários
que formam verdadeiras quadrilhas
de colarinho branco para roubarem os
cofres públicos e a certeza de que a impunidade será a recompense para esses
crimes.
Essas e outras condições que marcam a atual
conjuntura, já vividas pela Venezuela e
Argentina, estão contribuindo para a insatisfação
generalizada que caracteriza o atual momento nacional. Em tais circunstâncias
não é difícil prever que dias piores
ainda estão por vir. A passagem da insatisfação generalizada e difusa para a violência política e a instabilidade
institucional é de apenas um passo. A primavera
nos países árabes e em outras partes do
mundo bem atestam esta dinâmica
política e social.
JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, articulista de A GAZETA, mestre
em sociologia. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@pofjuacy
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