O CALVÁRIO DOS
BRASILEIROS
JUACY DA SILVA
Para os
cristãos, tanto católicos quanto
protestantes, a semana santa
marca um momento especial na vida de
Jesus e, ao mesmo tempo, na vida da igreja ao longo de séculos. A
reflexão nesses dias nos conduz tanto `a dimensão transcendental e também
`a escatológica, ou seja, “se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e
também é vã a vossa fé”, como disse o apóstolo São Paulo em sua
primeira Carta aos Coríntios.
Para avaliar o sofrimento de Cristo a Igreja
destaca a via-sacra, via-crucis ou via
dolorsa, com os quinze momentos que
ficaram marcados entre a sua condenaçao `a morte na cruz, do Pretório (Corte) até sua morte, sepultamento
e ressurreição. Cabe a Igreja e aos
cristãos também aproveitarem, de
forma especial, a semana santa e
refletirem sobre o sofrimento do povo, principalmente das camadas mais pobres,
os excluídos, discriminados , muitos dos quais morrem literalmente por falta de atendimento médico,
hospitalar ou vítimas da violência
generalizada em nosso país, incluindo
assassinatos e mortes no trânsito e acidentes de trabalho e outras
formas.
Outra reflexão
que podemos fazer nesta semana e ao longo de todos os dias é o calvário
pelo qual o povo brasileiro vem passando nesses últimos anos, sofrimento e
vergonha que vem se agravando `a medida que nossos governantes não conseguem ou
não querem tomar medidas e realizarem
ações mais efetivas para encarar tais
desafios e equaciona-los.
`A semelhança
das 15 estações da via dolorosa de Cristo, também
podemos identificar as estações
ou paradas para reflexão que identificam o calvário do povo brasileiro, como se
segue:
1a. Estação: inflação
que ameaça fugir ao controle do governo
e acaba reduzindo os salários e poder
aquisitivo da população em geral e dos
mais pobres em particular;
2a. Estação: Corrupção
desenfreada com inúmeros escândalos que demonstram que a adminnistração pública
foi tomada de assalto por verdadeiras quadrilhas de colarinho branco em
associação com empresários sem ética;
3a. Estação: aumento do desemprego, associado ao
sub-emprego, colocando em risco a vida de
milhões de famílias, gerando mais insegurança geral na população;
4a. Estação: Caos na
saúde em geral e na saúde pública em
particular, com filas intermináveis e
falta de respeito `a dignidade das
pesoas e de seus direitos fundamentais, inclusive direito `a vida;
5a. Estação: Caos no
transporte público e no trânsito, com aumento incontrolávelda violência, de
mortes e acidentes, que deixam suas
marcas nas vítimas e seus familiares
para o resto da vida;
6a.Estação:
Precariedade do saneamento básico, impondo a convivência de milhões de famílias com lixo, esgoto a céu aberto e doenças que
poderiam muito bem ser evitadas;
7a. Estação: Aumento acelerado
do preço dos alimentos, dos combustíveis, da energia, dos transportes e dos
impostos, reduzindo o poder de compra das
classes média e mais pobres, aumentando o endividamento das famílias;
8a. Estação: Educação
pública de baixa qualidade, reforçando
a exclusão de milhões de crianças, adolescenets e jovens, aumentando o fosso entre as elites
e o resto da sociedade em termos de oportunidades de trabalho e de mobilidade social;
9a. Estação:
Persistência das desigualdades
setoriais, regionais e sociais, aumentando o nível de dependência da
população mais pobre do assistencialismo governamental e da manipulação
política e eleitoral;
10a. Estação: Excesso
de burocratização e ineficiência da administração pública, abrindo caminho para
o tráfico de influência e da corrupção;
11a. Estação:
Impunidade generalizada e cinismo
oficial quando se trata da garantia dos
direitos do cidadão, contribuindo para o
aumento da violência e da criminalidade;
12a. Estação:
Morosidade do sistema judiciário, desestimulando a população na busca e
garantia de seus direitos, tornando o acesso `a justiça extremamente caro e
práticamente impossivel a quem não
dispõe de recursos para tal;
13a. Estação: Aparelhamento das estruturas públicas,
inclusive das Estatais, pelos partidos que estejam no poder, os quais imaginam
que a administração pública e o dinheiro público lhes pertencem, ,gerando uma
promiscuidade entre o público e o privado;
14a. Estação:
Descrédito generalizado da população em relação as instituições públicas, aos
governantes, gestores, enfim, um enorme pessimismo quanto ao futuro de nosso país;
15a.Estação: Da mesma
forma que Cristo venceu a morte e ressuscitou, também o povo brasileiro através de manifestações de massa e de
protestos, ocupando as ruas e praças do País
está demonstrando que inicia uma
ressureição política e social e que
tem condições de vencer todos esses desafios e retomar
o poder que lhe pertence.
JUACY DA SILVA, professor universitário,titular e aposentado
UFMT, mestrre em sociologia. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
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