UM TEMA FASCINANTE
JUACY DA SILVA
Este é o terceiro
artigo que escrevo sobre agricultura urbana e periurbana nas últimas semanas.
Ao longo de décadas tenho acompanhado discussões, reuniões e ações de pequenos
agricultores que lutam em duas frentes. A primeira pela posse de um pequeno pedaço de terra para poderem
permanecer no campo e a outra para livrarem-se dos diversos atravessadores que
os exploram, pagando um preço vil, as vezes abaixo dos custos de produção e
para lucrarem mais, oneram sobremaneira os consumidores.
O Brasil, como de resto
a imensa maioria dos países, a cada dia está se transformando em uma sociedade
urbanizada. O esvaziamento do campo e as migrações rurais em direção `as
cidades tem contribuido para o que muita gente denomina de caos urbano,
principalmente com a ocupação desordenada das áreas periféricas, com ocupações
irregulares, invasões ou loteamentos ilegais ou mesmo ocupação de áreas
impróprias para a habitação humana.
O resultado, todo mundo
conhece, incluindo nossos governantes, muitos dos quais continuam insensíveis ao drama humano da pobreza, do
desemprego, da fome, da violência, da miséria, do domínio do crime organizado
sobre imensos territórios urbaanos. Tudo isso tem ajudado
no agravamento de um outro
problema bem conhecido que é a questão da insegurança alimentar generalizada
nas periferias urbanas de nosso país.
As periferias urbanas,
tanto das pequenas, medias e grandes
cidades, incluindo as áreas metropolitanas são constituidas de migrantes de
origem rural e seus descendentes, primeira ou segunda geração , ou seja,
pessoas que de uma forma direta ou indireta tiveram contato com a terra, com
a agricultura, enfim, pequenos agricultores expulsos de suas terras e de seu
meio tanto pela violencia da luta no campo quanto pela exploração econômica e
financeira e a falta de assistência técnica, creditícia e de apoio para a comercialização.
De outro lado também
podemos observar que as cidades e o entorno das mesmas, o que é chamado de
espaço periurbano, possuem enormes áreas desocupadas, sem qualquer atividade
econômica, constituindo—se em reserva de
capital para a especulação imobiliária.
No intuito de
combater este mal urbano, o Estatuto das
cidades estabeleceu o instituto do IPTU progressivo, que até o
momento não passou de letra morta, inclusive com uma certa omissão do
Ministério Público, que deveria atuar
como o “fiscal da Lei” e colaborar para que o uso do espaço urbano tenha uma
função social.
Assim, há muitas
décadas no mundo todo, principalmente nos países desenvolvidos tem havido o
despertar de um movimento no sentido de ocupar essas áreas urbanas e
periurbanas, para a produção de alimentos. No Brasil também esta tendência tem
despertado a atenção tanto de movimntos sociais organizados quanto de
prefeituras, algmas apenas, entidades governamentais nas tres esferas do poder,
para possibilitar que a terra e o direito `a propriedade, tanto rural quanto
urbana tenham uma função social e econômica e não apenas de caráter especulativo.
Este é o movimento de
milhares e milhões de pessoas que tem descoberto que a produção de alimentos e
o uso de áreas desocupadas, ou terrenos baldios
como algumas pessoas assim denominam, pode ser feita em pequenos
espaços, sem uso de agrotóxicos, de forma orgânica, tanto individual quanto e principalmente através de associação
de pequenos produtores, possibilitanto a criação de emprego e a geração de
renda, enfim, abrindo oportunidades para a inclusão social e econômica de
milhares de pessoas que estão `a margem da sociedade e as vezes vivendo na
pobreza e na miséria.
Em diversos países,
como nos EUA e na Europa, as universidades
tem constituido centros de estudos, de pesquisas e de extensão
rural voltados para a agricultura
urbana e periurbana e ao mesmo tempo as entidades governamentais também estão sendo despertadas para a importância
deste setor, praticamnte esquecido quando
da elaboração do planejamento urbano e regional.
Em nosso país este é o
momento mais do que propício para que a agricultura urbana e periurbana possa
ocupar seu espaço e contribuir para um desenvolvimento sustentável e integral não apenas de nossas cidades mas
das regiões em seu entorno. Este é um desafio e um tema extremamente fascinante. Vale a
pena dedicarmos nossa inteligência e nossos esforços para
transformarmos sonhos em realidade! Todavia, como escreveu Miguel de Cervantes
Saavedra, um dos maiores escritores de todos os tempos, nascido em 1.547 e
morto em 1.616 “Quando se sonha sozinho
é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo de uma nova realidade”
O momento atual quando
a ONU estabeleceu os OBJETIVOS DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL, ou a agenda
2030, é para sonharmos juntos. Que tal encararmos o desafio do desenvolvimento
da agricultura urbana e periurbana juntos?
JUACY DA SILVA,
professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia,
artiulista e colaborador de jornais, sites,blogs e outros veículos de comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com
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