POBREZA: DEFININDO UMA
REALIDADE CRUEL
JUACY DA SILVA
Neste
domingo, 18 de novembro, estará sendo encerrada a II Jornada Mundial dos Pobres
e também será o DIA MUNDIAL DO POBRE OU DOS POBRES, como queria o leitor. Esses
dois eventos mundiais foram criados/establecidos pelo PAPA FRANCISCO, para
despertar a Igreja Católica e, também, todos os cristãos e fiéis das demais
religões para a gravidade da pobreza que afeta mais de três bilhoes de pessoas
em nosso planeta.
Para
o Papa Francisco e todas as pessoas que almejam e sonham viver em um mundo
melhor, independente do lugar em que
tenha nascido, origem racial, cor da pele, gênero, ocupação, faixa etária e
crença religiosa, a pobreza é a maior afronta e violência `a dignidade humana e
uma chaga social, econômica e política que deve ser extinta da face da terra.
Este
sonho vai de encontro, ou seja, está contra-mão do espirito do egoismo, do
materialismo, da insensibilidade , da busca do lucro imedianto a qualquer
preco, da usura, da acumulação de capital, renda e riqueza nas mãos uma minoria, em detrimento da maioria da
população.
A
quase totalidade dos problemas e desafios que existem em cada país sejam eles
desenvolvidos, emergentes ou subdesenvolvidos, tem uma relação direta com o
estado de pobreza, miséria e fome em que vive a
parcela da população mundial, nacional e local nesta condição.
Existe
uma questão metodológica no que concerne `a definição de pobreza. Vários países
adotam definições diferentes tanto para a pobreza em geral, quanto `as
gradações em que a pobreza se manifesta, inclusive a chamada pobreza extrema ou
miséria absoluta.
Muitas
das definições levam em conta apenas a questão monetária ou renda disponivel
por pessoas ou domicílio, seja dos salários recebidos por um ou mais membros da
familia e ou agregando-se também as transferências diretas ou indiretas de
renda, os chamados “penduricalhos” para tentar esconder o estado de miséria em
que vivem as pessoas.
Essas
definições não vão mais a fundo, por exemplo, na questão do poder de compra em
termos paritários entre os países, incluindo aí o valor do salário minimo, que
na quase totalidade dos países, inclusive no Brasil, deixaria as pessoas que o
recebem exatamente ou até abaixo da linha de pobreza, incluindo empregados,
desempregados e sub-empregados.
No
caso do Brasil, quando o salário minimo foi estabelecido, na década de 1940,
sua definição estabelecia que o salário pago pelo empregador ao trabalhador, no
caso, com carteira assinada, apesar de que milhões de trabalhadores em nosso
país não tem carteira assinada, uma burla que atinge esses de trabalhadores;
pois bem, na definição do salário minimo dizia-se que este valor deveria ser
suficiente para atender as necessidades básicas do trabalhador e sua familia,
incluindo: alimentação, moradia, higiene pessoal, transporte, roupa, saúde,
lazer e previdência/aposentadoria.
Esta,
com pequenas alterações, é a definição de organimos internacionais como ONU,
OIT, Banco Mundial e diversos organismos que atuam nas relação de trabalho,
incluindo os trabalhadores por conta propria e os avulsos ou que vivem de
trabalho intermitente, os chamados “bicos”.
No
Brasil, ao longo de quase oitenta anos, a completar-se no ano 2000, o salário
minimo foi perdendo seu poder de compra para a inflação e para as manipulações
governamentais. Os reajustes definidos pelos governantes de plantão, sempre a
serviço do capital e dos barões da economia, tanto em governos civis quanto
militares, com algumas excessões, sempre ou quase sempre foram definidos bem
abaixo da inflação.
Segundo
estudos do DIEESE, o valor do salário minimo que deveria estar vigorando em em
junho de 2018, deveria ser de R$3.804,06 reais, para que tivesse o poder de
compra do que é definido no artigo 7º,
inciso VI, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, garantiu
aos trabalhadores urbanos e rurais um “salário mínimo, fixado em lei,
nacionalmente unificado, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e
às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário,
higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe
preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim”.
Recentemente
em solenidade no Congresso Nacional relativa aos 30 anos da promulgação da
Constituição brasileira, todos os dirigentes máximos dos poderes, atuais e o
futuro presidente da República não se cansaram de exaltar a Constituição,
chegando ao ponto da Procuradora Geral da República, que, juntamente com o STF
são os guardiões da Constituição e do ordenamento jurídico brasileiro, dizer
que não basta exaltar e reverenciar a nossa Carta Magna, é preciso cumpri-la e
faze-la ser cumprida.
Mais
de 55% dos trabalhadores na ativa e mais de 80% dos aposentados e pensionistas
da previdência, no caso do INSS, recebem no máximo um salário minimo por mes,
que possibilita suprir apenas 25% das
necessidades básicas definidas pela Constituição Federal, que é a nossa Lei
Magna a ser cumprida tanto por governantes quanto governados e não apenas letra
morta.
Enquanto
isto, o Poder Judiciário e também os poderes Legilsativo e Executivo concedem
vários privilégios aos seus membros, incluindo, só a titulo de auxilio moradia
a seus integrantes, de forma direta ou indireta, importancia mensal de
R$4.300,00 reais, mesmo que o beneficiado tenha resideência própria ou outro
imóvel que lhe proporcione renda extra, além de outras regalias provenientes
dos cargos e funções exercidas. Cabe aqui tambem mencionar que esses
beneficiários do auxilio moradia recebem
salários mensais de mais de R$33 mil reais.
Situação
bem diferente de quem ganha mensalmente apenas um salário minimo de R$954 reais, que foi reajustado em apenas
1,8% em 2018, o menor reajuste em 24 anos, ou menos do que isto e não tem
recurso sequer para pagar aluguel de um barraco em uma favela ou área
periférica que pode custar menos de R$200,00 por mes, sem falar nas demais
necessidades que devem ser supridas para
a sobrevivência de sua familia.
A pergunta é: como um país pode ter uma Constituição
que estabelece tantos principios nobres como um de seus fundamentos , no artigo
primeiro, “a dignidade da pessoa humana”
e entre seus objetivos no artigo “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade
livre, justa e solidária; II - garantir o
desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais;IV -
promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
quaisquer outras formas de discriminação.”, e, ao mesmo tempo os governantes criarem tantos
privilegios para si próprios; para os marajás da República e para os donos do
poder?
Existem muitas pessoas que são extremamente críticas em
rrelação aos gastos sociais do governo como o programa de transferência direta
de renda (Bolsa familia), ou de outros pequenos subsidios voltados aos pobres,
enquanto o mesmo governo concede benefícios bilionários aos donos do capital
através do bolsa empresario, via juros subsidiados, renuncia fiscal, sonegacao
tolerada e a propria corrupcao.
Como podemos ver, a questão da pobreza não é apenas
como a definimos, mas fiundamentalmente como ela é gerada atravás da exploração
do trabalho, dos baixos salários, inclusive no estabelecimento dos reajustes
anuais do salário minimo, que empurram milhões de trabalhadores e suas familias
para a pobreza, a miséria e para o mapa da fome.
Os niveis de desemprego, sub-emprego e o trabalho
escravo ou semi-escravo, em condicoes análogas `a escravidão tambem contribuem para que a pobreza seja e
continue sendo uma vergonha nacional. Pobrreza e miséria não são questões
conjunturais mas estruturais e estão vinculadas diretamente `a questão do poder
e a quem este poder está a serviço, enfim, é tanto uma questão economica quanto
e, fundamentalmente, politica.
Essas são algumas questões que devemos colocar na
agenda politica nacional e dos estados, principalmente quando estamos prestes a
inaugurar um novo periodo governamental, cuja opção por propostas extremamente
liberais conduzirão o país a um fosso maior do que já existe entre pobres e
miseráveis de um lado e privilegiados, ricos, milionários e bilionários do
outro.
O “Deus Mercado” é uma divindade muito querida,
adorada e cultuada pelos donos do poder e pelos barões da economia, cuja
sensibilidade em relação `a pobreza e aos pobres é muito pequena, bem proxima
de um bordão humorístico da TV de algumas decadas que dizia “eu odeio pobre”. Dos pobres os dondos do
poder e seus aliados só querem o voto, um verdadeiro passaporte para
continuarem e ampliarem seus privilégios e regalias `as custas do sofrimento e
da miséria do povo.
Vamos pensar um pouco mais o que significa na verdade
desenvolvimento inclusivo, solidário, sustenável ,humano e com justica social.
Esta é a base para uma sociedade realmente justa e mais igualitária.
JUACY DA SILVA, professor universitario,
aposentado UFMT, mestre em sociologia, colaborador e artitulista de diversos
veiculos de comunicacao. Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
Email professor.juacy@yahoo.com.br
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