REVERÊNCIA A MILHÕES
DE MORTOS
JUACY DA SILVA
No ultimo dia 15 deste
mes de novembro, no Brasil comemoramos a
Proclamação da República, quando civis e
militares positivistas colocaram fim ao Império, forma de governo já naquela época denunciada por muitos, inclusive por
Rui Barbosa, como a quintessência da corrupção.
Passados exatamente 126
anos de vida republicana, a praga da corrupção parece estar muito maior do que quando do fim do
Império. Mas esta é outra estória que
pode estimular melhores reflexões de como a corrupção é o fio de ariádne, tecendo o
pano de fundo da vida nacional por vários séculos, desde o descobrimento até os
escândalos do MENSALAO, DO PRETOLÃO/LAVA-JATO,
e outros que ainda estão
aguardando que sejam decifrados pelas investigações
nos Estados e no país como um todo.
O dia 15 de novembro
também é dedicado, pela ONU, através
da Organização Mundial da Saúde, para reverenciar milhões de mortos cujas vidas preciosas são ceifadas
todos os anos em acidentes de trânsito, nas estradas, rodovias, ruas e avenidas
do mundo todo, inclusive em nosso pais,
como bem atestam as estatísticas tanto de organismos internacionais quanto de
entidades brasileiras.
De acordo
com o relatório mais recente, de
2015, da OMS-Organização Mundial de Saúde,
intitulado Rodovias seguras,
os acidentes de trânsito foram
responsáveis em 2014 por 1,25 milhões de mortes, ou seja, 3.425 pessoas perderam a vida nesses
acidentes. Enquanto o mundo todo, principalmente a grande mídia ficaram
consternados pelos atentados do último final de semana quando foram
assassinados pelo terrorismo 129
pessoas, todos os dias, todos os anos, os acidentes de trânsito matam 26,6 vezes mais do que atentados terroristas. Isto
é como se todos os dias, durante vários anos seguidos acontecessem 27 atentados
como os últimos ocorridos em Paris, mas pouca ou praticmento nenhuma comoção é
notada quando milhões de pessoas são mortas em acidentes de trânsito.
Só no Brasil, que está
entre os cinco países com maiores
taxas e número de mortes, verdadeiros assassinatos ao volante, em 2013 morreram 46.935 pessoas. Entre 1980 e
2013, o total de mortes no trânsito em
nosso país chega a 1.070.773, uma
verdadeira chacina que não commove nem nossas autoridades e nem a opinião pública,
deixando apenas sofrimento e saudades
para as famílias que tenham perdido seus entes queridos e a
certeza de que a impunidade para este tipo de crime vai continuar seu caminho.
Cabe
também destacar que as taxas de mortalidade em
acidentes de trânsito são maiores nos países e nas regiões mais pobres e subdesenvolvidas do que
em países e regiões do mundo mais rico e desenvolvidos,
tomando-se como referências o PIB ,
população e número de veículos. A média mundial de mortes em acidentes de trânsito por 100 mil habitantes
é de 17,4; sendo a maior na África com 26,6 e a menor na Europa com 9,3. Neste
aspecto, o Brasil está muito mais próximo dos países africanos do que dos
europeus, pois tem uma taxa de 23,4 para cada grupo de 100 mil habitantes.
Segundo
o relatório da ONU/OMS as mortes por
acidente em trânsito representam uma
grande perda em termos de vidas humanas, principalmente se considerarmos
que a maioria das vítimas estão em plena
juventude ou idade produtiva, além de
perdas econômicas, em torno de 3% do PIB mundial e , no caso do Brasil, essas
perdas representam 5% do PIB.
Considerando
o ano de 2015, quando o PIB mundial nominal deverá ser de US$78,28 trilhões de
dólares as perdas ou custos por mortes
em acidentes de trânsito deverão ser US$ 2,35trilhões de dólares. Tais custos para o Brasil neste
ano (2015), tendo em vista a recessão nosso PIB, mesmo assim, será de US$1,8
trilhões de dólares, caindo para a nona
posição no ranking mundial, os custos das mortes por acidente de trânsito serão
de US$ 90 bilhões de dólares ou R$ 350 bilhões
de reais, mais do que a soma dos orçamentos dos ministérios da saúde, da
educação e do desenvolvimento social.
Uma última informação, os dados do relatório da OMS deste ano indicam
que os acidentes de trânsito representam a principal causa de mortalidade para pessoas com idade
entre 15 e 29 anos, seguindo-se pelos suicídios, a Terceira HIV/AIDS e a quarta assassinatos.
Todas essas causas passíveis, principalmente de mortes no transito, de serem
reduzidas e evitadas, desde que existam leis com penalidades mais pesadas,
maior fiscalização, menos corrupção e maior responsabilidade, principalmente
por parte de condutores, além, é claro de infra estrutura urbana e nas rodovias
para garantirem um tráfego seguro.
Convenhamos.
além de reverenciarmos mais de um milhão de pessoas que morreram em acidentes
de trânsito no Brasil nas últimas tres
décadas, e mais de 12 milhões no mundo nos últimos dez anos, devemos
fazer um grande esforço para que essas
taxas absurdas de mortalidade em nosso
país sejam reduzidas drásticamente como fizeram vários países como a China, os
EUA, a Austrália, a Coréia do Sul, o Japão e praticamente todos os países
europeus.
JUACY DA SILVA,
professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia, articulista de jornais,
sites e blogs. Email professor.juacy@yahoo.com.br
Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.blogspot.com
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