DESAFIOS DA BAIXADA
CUIABANA (II)
JUACY DA SILVA
O
desenvolvimento de uma região exige a elaboração de um plano estratégico,
com visão de longo prazo, muito além do que a duração de um mandato
eletivo que é de quatro anos. Cada mandato, no caso tanto dos
governadores e deputados estaduais quanto dos prefeitos e vereadores devem
definir políticas públicas setoriais, em que os projetos e as ações de governo sejam compatibilizadas nos tres níveis de poder:
União, Estados e municípios, bem como estabelecer
os mecanismos de integração dessas políticas setoriais, sem o que a eficácia, a eficiência e a eftividade
das ações acabam não ocorrendo.
Aí
surge o primeiro e maior gargalo a falta de compatibilização das eleições
municipais com as eleições gerais. Prefeitos e Vereadores são eleitos dois anos
depois das eleições para Presidente da República, governadores, senadores, deputados
federais, estaduais. Como cada governo eleito quer executar seu plano, a
descontinuidade das ações ou o surgimento de novos programas federais e estaduais acabam interferindo diretamente
nas ações muncipais que já estão na metade das gestões. No terceiro e quarto
ano dos mandatos municipais tudo passa a
girar em torno das eleições municipais seguintes, como acontece no
momento.
Vamos imaginar a construção de
uma casa ou de um edifício que não
tenha um projeto, em que as ações
dos pedreiros, bombeiros hidráulicos, engenheiros, eletricistas, carpinteiros, arquitetos
sejam definidas a partir da vontade individual de cada profissional.
O resultado pode ser tanto um desastre ,
o imóvel pode desabar ou então a construção vai
acabar um monstrengo, feia, sem segurança, sem funcionalidade e podendo
exigir a demolição de alguns de seus cômodos e a necessidade de serem
refeitos. Isto, com certeza, vai gerar muitos prejuizos para os proprietários.
Pode
parecer brincadeira, mas é
exatamente isto o que acontece
na gestão pública brasileira, incluindo
obras e serviços executados pelo Governo
Federal, pelos Estados e pelos
municípios, no âmbito dos tres poderes: Executivo, Legislativo e
Judiciário e também dos órgãos de controle externos e internos, a
quem , em tese , caberia a função de fiscalizar tais obras e serviços e zelar
pela correta aplicação do suado dinheiro
público.
A falta
de planejamento ou quando o mesmo
existe apenas no papel, tem acarretado
prejuizos aos cofres públicos e aos contribuintes, que em última análise,
são os pagadores deste descaso, que tem gerado atraso nos cronogramas de obras, desde as mais simples, como uma pequena ponte
de madeira, o asfaltamento de uma rua ou
parte de uma estrada, a construção de
uma escola e também de grandes obras, verdadeiros elefantes brancos, como
as das
refinarias da Petrobrás, o desvio
do Rio São Francisco, ou então a
vergonha que foram as obras da copa, em que o VLT em Cuiabá e outras obras de
mobilidade urbana representam um atestado de incompetência, de
irresponsabilidade e de descaso com o dinheiro público, além da corrupçção que sempre vem
na esteira dessas práticas criminosas que são os gastos públicos sem planejamento,
acompanhamento e controle.
No caso da Baixada Cuiabana, é importante
rconheceer que depois de várias
tentativas em épocas passadas, boa parte
delas cujos resultados deixaram a desejar, surge na atual legislatura na
Assemlbéia Legislativa, a criação de uma
frente parlamentar, secundada por uma equipe
técnica integrada por profissionais competentes e dedicados, com a
finalidade a articular as ações visando o desenvolvimento regional e urbano integrado e sustentável desta região do Estado que, `a excessão de Cuiabá
e de Várzea Grande, se encontra praticamente abandonada e com poucas perspectivas
de oportunidade para seus habitantes e de suas administrações municipais.
O
grau de autonomia e os recursos próprios da quase totalidade das prefeituras,
novamente destacando ,com excessão de Cuiabá
e de Várzea Grande, são quase nulos. Os orçamentos municipais dos 11
restantes municípios indicam que a receita própria é diminuta e os mesmos ficam
extremamente dependentes dos repasses dos
recursos do FPM – Fundo de Participação dos municípios, da quota do ICMS por parte do governo
estadual, de alguns convênios, de obras e
serviços que são de
responsabilidade direta dos governos
federal e estadual. As duas maiores fontes de receita dos municípios, o IPTU e
o ISSQN, secundadas por algumas pequenas
taxas, não oferecem condições sequer para a manutenção de alguns serviços básicos que são de
responsabilidade direta das prefeituras. Vale a pena destacar que Cuiabá abocanha 65% e Várzea Grande 19% do FPM destinados aos municípios desta região, cabendo
apenas 16% `as demais 11 prefeituras.
Além
disso, podemos notar e os dados assim indicam,
que existe um verdadeiro abismo ou uma
grande distância entre a renda per capita
e rendimento médio dos trabalhadores na
região. Enquanto Cuiabá tem uma
renda per capita superior a R$ 23 mil
reais ano, Várzea Grande em torno de R$15.800 reais, nada menos do que nove outros municípios, incluindo os
dois outros que fazem parte da Região
Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, que eu ainda prefiro chamar de Baixada
Cuiabana, apresentam renda per capita menor do que R$10 mil reais ano, muito mais próximo da pobreza da região nordeste do que da opulência, tão
propalada pelos nossos governantes, do El Dourado dos municípios dominados pelo
agronegócio.
A
maior fatia da renda per capita dos moradores
dos onze municípios, fora do Aglomerado Urbano Cuiabá e Várzea Grande, ainda com a maioria da população rural, é
oriunda de aposentadorias, bolsa família
ou outras migalhas de programas assistencialistas dos Governos Federal e.Estadual.
Isto representa pouco mais de um salário minimo por mes, situação em que vivem mais de 70% da população desses
municípios, com alto índices de
pobreza e exclusão social.
Esta
é parte de uma realidade que deve ser considerada quando se pretende estimular
o dsenvolvimento desta região da Baixada Cuiabana. A análise continua nos
próximos artigos.
JUACY DA SILVA, professor
universitário, titular e aposentado, UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. Email
professor.juacy@yahoo.com.br
Blog www.professorjuacy.blogspot.com
Twitter@profjuacy
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