PARADÍGMAS
ULTRAPASSADOS
JUACY DA SILVA
Depois de publicar na
última semana o artigo “ Desenvolvimento: em busca de novos paradígmas” recebi diversas mensagens sugerindo que
aprofundasse um pouco mais a discussão
sobre esta questão dos modelos ou
paradígmas que tem servido de base para o processo de desenvolvimento de
nosso país, ao longo de séculos. É importante dizer que o Brasil nunca teve um grande projeto
nacional de desenvolvimento, no sentido
de uma visão estratégica de longo prazo; apenas projetos de governo
que sofreram e ainda sofrem
descontinuidade com as sucessivas trocas dos grupos de poder.
A idéia e as práticas de planejamento, bem como a continuidade de ação de governo representam a excesão enquanto a
descontinuidade , a improvisação , o voluntarismo e personalismo passam a ser as regras. Prova disso são as milhares
e obras públicas paralizadas, ou retomadas tardiamente, que representam
bilhões de reais ou dólares
desperdiçados.
Assim, vou apenas
pontuar alguns desses velhos e
ultrapassados paradígmas, a começar pelo
sistema produtivo e as relações de trabalho que ainda afetam, negativamente, a
nossa economia e sociedade. O modelo de
desenvolvimento que vem praticamente desde o descobrimento, passando pelo
Império e chegando por vias indiretas até o século XXI, é
de base primária, extrativista e agropastoril,baseado no latifúndio, na
exportação de matérias primas com pouco
valor agregado e a importação de bens acabados.
As relações de trabalho por quase
quatro séculos foram o trabalho escravo, semi-escravo e a
falta de garantia de direitos mínimos, chegando
até a atualidade, com as novas regras para definir as relações do trabalho doméstico, mais de
70 anos após o surgimento da CLT – Consolidação das Leis
do Trabalho, no início da década de quarenta, mas que deixou de fora milhões de trabalhadores rurais, autônomos e
empregados domésticos.
O latifúndio e a grilagem de terras em
todos os estados faziam parte do
Sistema econômico e político, onde
o trabalhador rural e moradores de
pequenas cidades estavam muito mais próximos dos servos de gleba da idade média
na Europa do que dos cidadãos livres
como fonte primeira do poder. As mulheres só tiveram o direito de votar e
serem votadas a partir dos anos trinta do século passado e os
analfabetos há poucas décadas.
Outro paradígma
presente tem sido a concentração da
população, inicialmente ao longo da
costa litorânea, em uma faixa de, no máximo 250 km, deixando o interior
praticamente desabitado, a não ser por pequenas
ilhas de ocupação como Cuiabá, bem
no coração do Brasil. Somente a partir
do Governo JK com a construção de Brasília e da abertura da Belém Brasília e
depois da ligação de Brasília com o Acre e da Cuiabá –Santarém, é que ocorreu um
avanço acelerado da expansão das fronteiras agrícolas rumo `a Amaônia e ao
Centro – Oeste.
As migrações rural urbana
de forma acelerada durante o
final dos anos quarenta até a década de sessenta, moldaram o surgimento
de cidades onde a ocupação desordenada
das periferias e áreas impróprias para a moradia humana determinaram o perfil de uma urbanização ,
onde as favelas e loteamentos clandestinos definiram o perfil de nossas cidades atualmente,com problemas de
infra- estrutura, falta de regularização
fundiária e a exclusão sócio-econômica de milhões de famílias.
Podemos, então,
mencionar a concentração econômica, demográfica, a industrialiazação tardia e no momento a desindustrialização, uma economia de base primária e agro-exportadora,
com baixo valor agregado, o
rodoviarismo, uma estrutura agrária
baseada nas grandes propriedades, no latifúndio improdutivo, a degradação
ambiental, ainda presente nos dias atuais no desmatamento da amazônia e do
centro-oste, com a degradação dos solos
e o uso excessivo de agrotóxico, na
baixa produtividade e falta de competitividade da economia brasileira no
contexto internacional e na importação
de bens acabados, principalmente na atualidade de bens tecnológicos e ainda de petróleo, trigo,
insumos agrícolas e industriais.
Ou seja, nossos
paradígmas de desenvolvimento não mudaram ao longo de séculos e estão sendo e
serão os responsáveis pelo atraso de nossa
caminhada rumo a uma sociedade
moderna, competitiva e que possibilite um melhor bem-estar e níveis de vida
mais elevados para a sua população. Com isso continuamos com dois ou vários
Brasis, um moderno e rico, representado pelo centro-sul, apesar da exclusão de
uma grande parcela de sua população e outro atrasado, pobre e dependente representado
pelas regiões norte , nordeste e parte do Centro-oeste, onde apenas uma elite usufrui dos frutos do crescimento
econômico, boa parte graças `as benesses
distribuidas pelo governo e pelos bancos oficiais, como crédito subsidiado e
renúncia fiscal aos grandes grupos econômicos, enquanto a grande maioria da
população recebe migalhas dos programas assistencialistas.
JUACY DA SILVA, professor universitário, titular e aposentado
UFMT, mestre em sociologia, articulista de A Gazeta. Email professor.juacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy
Blog www.professorjuacy.blogspot.com
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