OUTUBRO ROSA: UM
GRITO DE ALERTA
JUACY DA SILVA
Surgido
nos EUA em 1985, como um movimento de
diversas organizações não governamentais, com o apoio principalmente de parte
da indústria farmacêutica e de produtos destinados ao diagnóstico, prevenção e
tratamento do câncer de mama, o Outubro
Rosa passou a adotar a fita desta cor como seu símbolo e atualmente atinge mais
de 120 países.
No
contexto de uma campanha de
conscientização das mulheres, acima de
40 anos, mas também motivando as mais
novas, desde que tenham histórico de câncer em geral, principalmente câncer de mama na família, o maior aliado desta cruzada passou a ser a mamografia, que atualmente, nos países desenvolvidos já
evoluiu muito e está na fase de 3D, com maior capacidade de resolução e de
diagnóstico.
Também
nos EUA, em São Francisco, na Califórnia, a partir das preocupações de mulheres
que foram diagnosticadas com câncer de mama
e sobreviveram a esta doença, foi
fundada outra organização de base popular, com células em diversas partes do país,
que advoga que o câncer não pode ser
considerado um problema ou uma doença
que afeta as pessoas individualmente, mas sim um problema de saúde
pública, principalmente da saúde da mulher . A BCAction (sigla em inglês
que significa Ação contra o Cancer de Mama), advoga os direitos das
pacientes com câncer e o dever dos organismos públicos destinarem recursos
públicos para políticas voltadas para
esta área, já considerada um problema de emergência sanitária.
Para
se ter uma idéia da gravidade nesta
área, basta mencionar que o câncer é uma
das doenças mais antigas que se tem notícia no mundo, mais de dois mil
anos e até hoje ainda aterroriza milhões de pessoas e famílias ao redor do
mundo e inclusive no Brasil.
O
número de novos casos de câncer em geral tem aumentado muito nas últimas décadas e tende a aumentar mais ainda, principalmente com o
envelhecimento da população na maioria
dos países, aos hábitos alimentares incorretos e prejudiciais `a saúde e ao
estilo de vida como o tabagismo, o alcoolismo e também a degradação ambiental, facilitando surgimento de novos casos e também
aumentando o número de mortes. Muitos estudiosos consideram que o câncer afeta
tanto os pacientes quanto seus
familiares, principalmente quando o
diagnóstico é feito tardiamente e as chances de cura são reduzidas.
Em
2014 foram diagnosticados 14,1 milhões de novos casos de câncer no mundo e 576 mil no Brasil, dos quais o câncer de
mama representou 1,67 milhões de casos
no mundo e 57.120 no Brasil, a maior
incidência entre todos os tipos de
câncer que afetam as mulheres, seguido do câncer de colo que útero que vem em segundo lugar com 15 mil novos casos por
ano, totalizando 72 mil casos que
afetam as mulheres.
Quando
diagnosticado a tempo tanto o câncer de mama ou de útero entre as mulheres tem um alto índice de cura, mas se diagnosticado
tardiamente o índice de mortalidade é bem elevado e a sobrevida de poucos anos.
O
número de mortes decorrentes de câncer em geral no mundo em 2014 foi de 8,2 milhões de pessoas e no Brasil em 2012 foi de 184.073, um aumento de 3,9% em relação ao ano anterior (2011) segundo dados
do INCA Instituto Nacional do Câncer .
Considerando este percentual de aumento
projeta-se que em 2015
deverá haver um aumento de 11,7%, atingindo 205.609
mortes, sendo que pela primeira vez haverá mais mortes de mulheres do que de
homens, aproximadamente 51% ou seja, 105
mil mulheres deverão ser levadas a óbito por algum tipo de câncer.
Só o câncer de mama deve ser responsável por 14.388
mortes de mulheres no Brasil em 2015, três vezes mais do que o feminicidio.
Entre
2010 e 2015 só de câncer de mama deverão ter morrido nada menos do que 82.556 mulheres.
Se considerarmos que entre 1980 foram
assassinadas 92 mil mulheres, a mortalidade
de mulheres só por câncer de mama no mesmo período é de aproximadamente
301 mil mulheres perderam a vida decorrente do câncer de mama, o que
representa uma verdadeira tragedia que afeta principalmente as mulheres
mais pobres, que residem nas regiões Norte e Noreste e também
em todas demais regiiões, na área
rural e em municípios pequenos e médios que não dispõem sequer de um mamografo para attender a população
feminima.
Se nos EUA surgiu o movimento que advoga defende os direitos das mulheres e
também homens diagnosticados com câncer, também no Brasil câncer em geral , câncer de
mama e de útero entre as mulheres e
câncer de próstata entre os homens, é
uma questão de cidadania, de saúde pública.
Enquanto
os governos federal e estaduais gastaram
mais de R$12,5 bilhões de reais
para a construção ou reconstrução de estadios, a maioria dos quais
superfaturados e alimentadores de uma rede de corrupção envolvendo
empreiteiras, muitas das quais
também foram responsáveis pelo roubo da
Petrobrás, juntamente com politcos ladroões, alguns dos quais fazem compahia a
dirigentes de empresas em
penitenciárias, mais da metade dos municípios brasileiros não tem sequer um mamógrafo e dos existentes um percentual significativo não funcionam ou a
rede pública não tem material ou profissionais para a sua utilização. Este
quadro demonstra que pouco adianta distribuirmos fitas cor de rosa durante este mes, o que as pacientes de câncer de
mama, principalmente mulheres pobres que precisam viajar mais de 300km para fazer
uma mamografia, é de respeito. Afinal, do que adianta a chamada
Constituição cidadã estabelecer que saúde é
um direito de todos, se o SUS
está cada vez mais sucateado pelo
próprio Governo?
O
caos na saúde pública que a cada ano aumenta, o descaso e corte de recursos por
parte da União para a área da saúde, o
sucateamento do SUS empanam o brilho que o Outubro Rosa deveria ter nao apenas como alerta, mas com a
definição de uma politica arrojada para que pacientes com câncer, principalmente a população mais
pobre não morra prematuramente po falta
de condições para realizar dignóstico e
identificação precoce da doença. Esta é uma questão de vida e morte e não de descaso,
mentira e corrupção por parte de nossos governantes. Propaganda e marketing oficial
não salvam milhares de vidas ceifadas
prematuramente. Para salvar vidas é fundamental que os orçamentos da saúde ,
nos tres níveis de governo, sejam suficientes para que a saúde pública esteja a
altura das necesidades do povo, juntamente com uma gestão eficiente,
transparente e humanizada.
Quem
paga tanto imposto como o povo brasileiro tem o direito de serviços públicos de
melhor qualidade. Oxalá nossos políticos fossem coerentes com o que prometem ao
povo durante as eleições!
JUACY DA SILVA,
professor universitário, titular e aposentado UFMT. Mestre em sociologia. Email professor.juacy@yahoo.com.br
Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy
2 comentários:
Uma verdadeira aula e esclarecedora. Maravilha um homem escrever sobre o assunto. Obrigada! Nádia
Uma verdadeira aula e esclarecedora. Maravilha um homem escrever sobre o assunto. Obrigada! Nádia
Postar um comentário